Uma análise só é possível se a pessoa quiser. Ou compreender que há necessidade de aceitar a indicação. Deve haver confiança e empatia com o analista, que chamamos transferência e tratamos como um tipo de amor temporário que se estabelece durante o processo.
Insisto: qualquer atendimento no campo da atenção psíquica só é possível quando a pessoa deseja. Ou entende que precisa, e isso não quer dizer que abrace a ideia com tanta boa vontade.
Se uma pessoa vem pedir para ser escutada, é porque sente a necessidade premente que motivou sua busca, e algumas vezes já tentou alternativas nas quais não houve alívio para o sofrimento. Ou porque foi levada por imposição e dessa forma o aproveitamento pode não ser bom.
Alguns episódios me ocorrem enquanto escrevo. Vale a pena citar. Freud ficou famoso e sua fama correu mundo. Alcançou notoriedade com a invenção da psicanálise. Reconhecido pelo êxito de tratamentos das, até então, desenganadas histerias com seu método. Recebeu pais e mães angustiados que queriam curar os filhos da homossexualidade, por exemplo.
Freud respondia aos pais que não poderia aceitar a encomenda. A homossexualidade não era, e não é, doença, apenas uma inversão e, portanto, não pode ser curada. A análise seria indicada se a pessoa sofresse pelas consequências sociais e íntimas de sua orientação.
Não apenas nestes casos. Também em situações similares. Algumas demandas são para que, a qualquer custo, a pessoa reconquiste ou conquiste o coração de alguém, o emprego almejado, a aprovação num concurso. Ou porque quer transformar o companheiro ou um filho.
Enfim, esperam de nós encomendas em causas impossíveis, as mais inusitadas. Não podemos oferecer a resposta esperada simplesmente porque o desejo não faz mudança conforme o comando do piloto.
Sabemos também, ou deveríamos saber, da impossibilidade de encomendar o resultado que queremos para a análise alheia. O desejo não atende ninguém. Não tem dono. Impõe-se soberano, acima das vontades e caprichos. Não considera os voluntariosos comandos da consciência baseados na moral, ideais da cultura, afetivos, nem mesmo apelos racionais. Simples, porém complexo: ninguém manda no coração.
Numa análise, apenas o desejo mais íntimo de quem fala pode ser nosso guia e lançar luz no fim do túnel. O resultado da análise é consequência lógica do desejo – e só dele. Nem marido, nem mulher, nem pai, nem mãe podem interferir aí com suas expectativas.
A expectativa deles será em vão, sempre. Expectativa causa decepção e queixas imperativas, como “esta análise não adianta nada!”. Concordo, neste caso, não mesmo! E o malogro, o fracasso em atender o outro, indica que o sujeito nem sempre abre mão de si e tem o direito de negar o que o outro espera dele. Nada mal. Cada análise tem um resultado radicalmente diferente, pois restaura o desejo daquela pessoa – e só dela.