Lançado recentemente o livro de Jonas Samudio, “Das partes abertas – ensaio sobre o gozo da matéria”. Numa escrita sofisticada, derrama poeticamente a matéria do que o gozo é feito. Gozo que é uma consistência e ocupa a outra cena, a terceira margem do rio, onde nem sempre jogamos âncora. Ora sim, ora não, a coisa se acende e se apaga iluminando nesse espaço-escrita em que a singularidade do autor deixa sua marca, sua sensibilidade à flor da pele.

 



 

O título enigmático (“Das partes abertas – ensaio sobre o gozo da matéria”) nos convida e entrar num mundo em que a linguagem poética se encontra com a psicanálise, a estética, a costura, a filosofia, “a mística santa Teresa” no “Livro da vida”.


Samudio escreve, corta e costura, alinhavando textos e tecidos, corpo, feminino, místico, escrita, alguns vestidos. Doutor em teoria literária (POSLIT-UFMG), professor na ensino superior, seu texto se compõe em passagens expressivas de Merleau-Ponty, Castelo Branco, Deleuze, Heidegger, Sudbrack, Deridá, Santa Teresa e outros, bem alinhavados. Colheu destes autores o sumo do gozo em suas manifestações.


Pares de contrastes se apresentam, o íntimo e o êxtimo coexistissem em continuidade, assim como o claro e o escuro, o dentro e o fora e todas as palavras que dizem do gozo, e suas variações, êxtase, arrebatamento.


O livro é um texto escrito em três diferentes vozes. A primeira é uma leitura do “Livro da vida”, escrito por Santa Teresa. A segunda é uma análise das dobras do vestido da estátua chamada “O êxtase de santa Teresa ou A transversação de santa Teresa”, de Bernini, do século 17. A terceira voz é uma tentativa de dizer o próprio gozo da matéria como se ele contasse o seu próprio gozo.


“No Êxtase de santa Teresa, é o texto que testemunha o êxtase que se diz retratado; o êxtase, como um corpo que se arremessa, avassalado, para fora de si mesmo, é o tecido que o veste, e é o mármore que queda, ali extasiado.”


Samudio escreve as dobras do tecido da escultura de mármore de “santa Teresa”, as pregas do mármore, as reentrâncias do tecido, e no rosto o gozo esculpido no mármore. Um gozo expresso no rosto que nenhuma palavra define, gozo envolto em um não saber.


O lançamento do livro foi acompanhado das novas peças de TTeresa na coleção “teresatextotecido”. Jonas participou também do projeto Escrever o Vestido/Costurar o Texto, na Oficina de Escrita e outras artes do tecido com a oficina Vestir uma voz, em parceria com Daniel Bernardes, pois além de escritor e poeta, como já disse acima, ele corta e costura. É autor de “Barthes, Loyola e outros textos”, com Carlos Rafael Pinto, pela Editora Saber Criativo.


É como se a tessitura do texto fosse composta de fios que se ligam formando um tecido que envolve o corpo com palavras. E para quem gosta de poesia terminamos assim: “A sua reivindicação sobre a matéria: coisa que pulsa, úmida, carnuda, púrpura. Coisa que goza no algures do corpo.”

 

 

compartilhe