Elenco de

Elenco de "Mamonas Assassinas – O filme", sucesso de bilheteria em 2023

crédito: Total Entertainment/divulgação

 

 

Assisti a “Mamonas Assassinas – O filme” (2023), de Edson Spinello, cinebiografia da banda que fez sucesso meteórico nos anos 1990. Os integrantes morreram em acidente de avião ocorrido em 1996, tragédia que comoveu o Brasil. No dia da estreia, o longa bateu recordes e registrou a maior bilheteria de um filme brasileiro desde 2020.

 


A banda emplacou “Pelados em Santos”, “Vira-vira” e “Robocop Gay”, entre outros hits. Eram garotos inovadores e singulares, sua presença performática e irreverente causou variadas emoções. Nunca houve banda igual no país – as músicas eram tão a “cara” deles que ninguém ousou regravá-las.

 

 

 


Os mamonas foram um acontecimento que não esqueceremos pela surpreendente criatividade. E deixaram boa lembrança. Vendo o filme, tive muitas saudades de uma grande amiga, Nilza Féres (in memoriam). Mais do que amiga, é a mestra com quem aprendi muito em seus seminários e belos artigos.

 


Com esta amiga trabalhei muitos anos, com ela iniciamos a escrita aqui no jornal. Nilza Féres, na época em que a banda surgiu, embora não fosse uma jovem fã, ressaltou com surpresa o acontecimento. Dizia que os mamonas eram interessantes, tinham presença única com estilo próprio. Escreveu um artigo para esta coluna sobre eles.

 


O artigo foi um dos selecionados para o livro “Em dia com a psicanálise” (2000), que organizávamos juntas. O lançamento foi homenagem póstuma em parceria com a família de Nilza, que, infelizmente, nos deixou antes que ele estivesse pronto.

 


Neste artigo, Nilza brinca com as palavras: ‘Mamo nas asas... e que pronunciadas rapidamente se ouvia Mamo nas assim... Eles também brincavam: desdobravam, reinventavam, misturavam à vontade rompendo com regras, talvez propondo: mamo nas palavras’. As letras compostas por palavras de baixo calão divertiam as festas, crianças e adolescentes, foram tocadas até na festa de um ministro, não me lembro qual.

 

 

 


Nilza lembra que Freud escreveu que chistes e piadas proporcionam prazer para quem conta e quem escuta, por fazerem surgir algo escondido, proibido, no nível da fantasia e que aparece escamoteado com o rompimento das regras da gramática e do social, fazendo uma subversão criticada. Nem por isso deixam de ser um sucesso retumbante.

 


As músicas da banda eram crítica ao consumismo, à massificação dos artigos, objetos e mesmo das formas de satisfação de cada um, numa língua que ninguém fala, porém cochicha, fazendo surgir o reconhecimento do sentido escondido tão familiar a todos.

 


Nilza também era única. Enquanto moralistas torciam o nariz, ela ressaltava a força da invenção quando toca a verdade, dita de modo original e próprio. Grandes escritores, como Guimarães Rosa e James Joyce, em sua literatura refinada também o fizeram, criando língua própria. A banda Mamonas Assassinas ousou em sua escolha e foi um sucesso.

 


Saudades de Nilza! Sua escuta preciosa captava os novos sentidos, a bricolagem com palavras. Ela marcou momentos de eternidade nos corações daqueles que por sorte cruzaram seu caminho iluminado.