Desde o início do ano se repetem protestos dos moradores da Pampulha em relação aos cortes de inúmeras árvores para construção de uma pista de Stock Car. A promessa do prefeito de replantar outras e mais centenas, ao longo dos próximos anos, é futuro. Por que não já? Aguardemos.

 




Também protesta a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio do Conselho Universitário e da reitora Sandra Regina Goulart de Almeida. Alegam a inadequação do espaço escolhido para o evento planejado para agosto próximo. Apontam o transtorno no trânsito e o excesso de ruído no local. Não são contra o evento, mas contra a inadequação do espaço escolhido para realizá-lo.

 


A reitora, em entrevistas realizadas em fevereiro, março e julho, afirma não ter tido uma alternativa, senão pedir a suspensão judicial da Stock Car em BH. No último dia 4, a Advocacia Geral da União entrou na Justiça Federal com a solicitação. Foi assim pela falta de diálogo da empresa organizadora da corrida.

 


Os problemas foram discutidos na Câmara Municipal, em audiência pública. Representantes da instituição de ensino afirmam que o prédio mais afetado será o que abriga o laboratório de pesquisa e o hospital veterinário, onde são feitos mil procedimentos por mês, entre cirurgias e acompanhamentos oncológicos. E a trepidação do solo pelos carros é capaz de descalibrar máquinas caríssimas e sensíveis da unidade caríssima.

 


Equipamentos estimados em R$ 36 milhões já estão sofrendo o impacto causado pela poeira da obra e ainda há o estresse de espécies utilizadas em estudos científicos e pesquisa. São 115 decibeis por carro, acima dos 70 suportáveis para os animais. A pista está a 50 metros do hospital e dificulta o acesso ao campus.

 


Além disso, a corrida implica o fechamento temporário do Centro Esportivo Universitário, deixando de atender o fluxo de 600 atletas por dia. Ressaltamos a importância de observar neste episódio a inobservância da legislação, falta de estudo técnico, licenciamento ambiental e estudos de impacto ambiental e da vizinhança, licenciamento não realizado até então.

 


Infelizmente não compareceram à audiência representantes da Stock Car e alguns seguimentos da mídia, favoráveis ao evento, afirmam que, doa a quem doer, a corrida vai acontecer e é prevista por cinco anos consecutivos.


É o que sempre digo por aqui: como eu queria que os políticos brasileiros nos brindassem com atos que atendam aos direitos dos cidadãos, impedindo abusos. Esse é um exemplo e causa do mal-estar na nossa cultura, como apontou Freud no século passado, cuja caminhada avança apesar de todos os pesares, em reforço ao sofrimento existencial que carregamos durante a vida, por sermos mortais, por não podermos tudo que desejamos, pela condição de castrados na qual vivemos.

 


Ações assim, de pisar em nosso jardim enquanto dormimos, vêm tirar qualquer esperança de que possamos deter atos contra a natureza, os animais e as diferenças, ignoradas por pessoas que não se importam senão com seus interesses.

 


Pois bem, se não podemos deter nosso programado e apontado fim, nossa tragédia anunciada, pelo menos que deixemos clara nossa posição e a daqueles que protestam contra o desrespeito e a violência.
Como seria bom se estivéssemos aqui, como na França, pulando de alegria por sermos escutados, por alcançarmos a civilidade e o respeito que a vida coletiva merece. É para isto que trabalham e recebem dos cofres públicos as autoridades que elegemos e são capazes de deter este processo. Que sejam efetivas!!!

 

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