Desde o dia da abertura das Olimpíadas de Paris, a polêmica entre a “Santa ceia” e o banquete pagão tomou conta das redes. A figura principal é Dionísio, seminu pintado de azul, o deus do vinho, da festa, dos bacanais.
Nesta festa pagã, várias figuras hétero, homo, trans compartilhavam valores como liberdade, igualdade e fraternidade, lema herdado da Revolução Francesa e representado pelas três cores da bandeira francesa.
Ideais que permeiam as relações humanas, muito mais pela esperança de que assim fosse do que o que se demonstra na realidade. Verdade que miramos de longe a realização desses ideais na realidade factual.
De fato, somos desiguais, diferentes, e apenas temos direitos iguais perante a lei, que sendo escrita no papel, que aceita tudo, falha constantemente. A lei foi feita para conter nossos impulsos indesejáveis, nosso sadismo e masoquismo, nossas paixões incontroláveis.
A liberdade plena é inalcançável. Não podemos tudo que queremos e desejamos. Vivemos o possível. A fraternidade fracassa, é uma relação de rivalidade que, de pequenos e sempre, dá sinais que nos atravessam por toda vida.
Os ideais de fato são almejados, mas nunca são realizados integralmente, servindo como um farol que ilumina por onde desejaríamos e deveríamos caminhar sem tropeços, mas ai de nós seres humanos, errantes e faltosos, tomados de pulsões destrutivas que nos atingem.
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Somos fracos para sermos dignos dos ideais. Alguns momentos talvez de grandeza, mas a humanidade é ambígua, somos prenhes do melhor e do pior.
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Voltando ao banquete de Paris, o próprio cerimonialista negou ter feito uma paródia de “A última ceia”, quando grupos religiosos criticaram o evento por considerá-lo uma zombaria ao cristianismo.
Segundo ele, apoiou-se nos elementos da “Festa dos deuses”, obra de Giovanni Bellini de 1514, pintor renascentista, que retrata o casamento de Tètis e Peleu, com destaque para Apolo, coroado no centro, e Dionísio, sempre encabeçando as orgias.
Nas redes sociais, também aproximaram a cena ao quadro “Festim dos deuses”, do holandês Jan Van Bijert. Em algum momento, os próprios cristãos, tomados pelo espanto, fizeram o equívoco, não percebendo que da “Santa ceia” ali não havia nada.
Apesar do meu olhar realista quanto às questões da humanidade, que caminha devagar, como a crueldade, o machismo e todos os preconceitos, quando as atenções se voltam para os atletas, esquecemos das nossas dores e apreciamos espetaculares demonstrações de solidariedade, civilidade e generosidade. Levemos essas atitudes nobres para nossas vidas, para o futebol!
E foram várias as demonstrações. Biles vibrando por Rebeca. Atletas socorrendo os concorrentes. E na pista de corrida, diante do engano do queniano Abel Mutai, que parou por achar que tinha atingido a linha da meta finalizando a corrida, a grandeza humana nos foi apresentada. Trouxe alento aos nossos corações acostumados ao atropelo das rivalidades. O espanhol Iván Fernández vinha logo atrás e, gritando, o conduziu para a vitória. Um jornalista perguntou por que ele fez isso, poderia se aproveitar para vencer, e ele disse: “Ele ia ganhar. Qual seria o mérito da minha vitória?”.
Foi lindo! Se as pessoas agissem sempre assim, nosso mundo estaria a salvo!