Vista aérea de Belo Horizonte, tendo a Serra do Curral em primeiro plano e a Região Sul em volta, neste mês de setembro, marcado por incêndios
 -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

Vista aérea de Belo Horizonte, tendo a Serra do Curral em primeiro plano e a Região Sul em volta, neste mês de setembro, marcado por incêndios

crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press

Infelizmente, não pudemos ainda deixar de nos preocupar. O problema continua. O Brasil arde em chamas, tomado pela fumaça de um horizonte nublado como nunca. Com pesar se tem dito que, de fato, estamos provocando o fim do mundo e, talvez, não haja volta.

 

Continuam os incêndios, a calamidade, a tragédia. Nossos representantes se calam. Paira um silêncio sinistro. Nada de força tarefa, nada de ajuda de outras forças ou junto venceremos. Tudo devagar. Há 15 dias, a Serra do Curral está encoberta. 

 

De ações para conter os incêndios, a mais enfática e proporcional ao tamanho do problema foi a do ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino, que considera que passamos por uma pandemia de incêndios e secas na Amazônia e no Pantanal. E foi um chamado às autoridades do país a se posicionarem.

 

 

 

Não podemos crer que tantos incêndios simultâneos sejam espontâneos e naturais por causa da seca. O alarmante é que estejam sendo causados por motivos políticos e de interesse econômico, provocados por atos criminosos, como alega Eliane Brum em recente artigo. Se assim é, estamos mesmo perdidos.

 

 


Se existe ação criminosa por trás deste estado de coisas crítico de nossas matas, serrado, montanhas, enfim, quem ganha com isto? Nem precisamos citar. É conhecida a disputa daqueles que exploram indiscriminadamente, invadem terras protegidas, desejam enriquecer a curto prazo pelo esgotamento de tudo. O mundo será desértico.

 

 


E não estou falando do futuro. O futuro chegou. Pela segunda vez consecutiva, o nosso maior manancial, o rio Amazonas, seca quase completamente, o ar é irrespirável como nos tempos da COVID. Ganham alguns, a maioria perde.

 

Redes sociais


As redes sociais reeditam declarações negacionistas estarrecedoras, que consistem em desacreditar todo risco, como se estivéssemos em uma paranoia delirante, mas o risco é imediato. Declarações que denegam uma realidade estampada.

 


Há uma política nefasta sustentando o caos e será preciso uma resposta contundente. E foi diante da ausência desta que o Ministro do Supremo declarou emergência. Exigiu atitudes e providências onde faltou executivo: verbas, aparelhamento e operacionalização, convocar a Polícia Federal através da Funapol contra os crimes. Liberou verba para o combate ao fogo e, assim fazendo, livrou o governo das difíceis tratativas com o Congresso...

 

Combatentes do fogo


Sabemos que os combatentes do fogo estão trabalhando exaustivamente, correndo riscos para apagar as chamas, mas insuficientes. Estamos atravessando um rio em direção ao inferno. Como na “Divina comédia”, de Dante Alighieri. O barqueiro Caronte conduz Dante e Virgílio ao Portal onde se lê: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”.

 

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E dali em diante serão nove círculos, três vales, 10 fossos e quatro esferas de sofrimento, pois o livre arbítrio faz do homem um errante, e seus atos só podem ser corrigidos em vida. Sem isto só haverá choro e ranger de dentes, não teremos tempo de acertar contas e expiar culpas. Nesse mundo não haverá depois.

 


Estamos aqui, na realidade, não na literatura, onde se pôde alcançar o paraíso. Que boa leitura! Mas aqui, na realidade, não está fácil esperar pelo melhor. Respiramos pó das matas, do solo e dos animais queimados. Como eles, somos também feras feridas, acabamos com tudo. Somos feras feridas no corpo, na alma e no coração.