Duas expressões nortearam o capitalismo: “A oferta gera a demanda” – também chamada de “lei da oferta e procura” – é uma lei da economia clássica criada por Adam Smith. “Tempo é dinheiro”. Benjamin Franklin teria chegado a ela depois de ler obras do filósofo grego Teofrasto (372-288 a.C.). O pensador grego, a quem é atribuída a autoria de cerca de 200 trabalhos em 500 volumes, teria mencionado: “tempo custa caro”. Ele escrevia, em média, um livro a cada dois meses.
Desde a Revolução Industrial, o capitalismo vem se delineando e alcança hoje seu ápice. As duas expressões acima foram muito difundidas e utilizadas na lógica capitalista apoiada pela indústria da propaganda e economia de mercado. São complementares, andam juntas. No capitalismo tardio, o atual, elas se realizam plenamente.
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A indústria da propaganda, antes restrita às mídias convencionais, hoje é implacável em todos os meios de comunicação e redes sociais, nos bombardeando nos “zaps”, e-mails, com a oferta de tudo que não precisamos. Conferindo valor ao inútil, ao sem valor.
Na economia de mercado, inúmeras formas de aplicabilidade do capital são utilizadas. Há quem troque o trabalho formal para viver dos rendimentos da bolsa. Um jogo compulsivo, uma adição perigosa.
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As charges dos jornais, numa pitada de humor sarcástico, apontam para a mutação da anatomia humana causada pela postura dos viciados em celular.
Os professores obrigam os alunos a desligar o celular em frenético TikTok. Rápido, variado, hipnotizante. Abocanha grande parte das atenções, exclui o pensamento, faz esquecer o que não queremos saber. Geralmente, a angústia existencial inerente à errância do desejo, renegado a segundo plano.
Os pais, igualmente adictos, se preocupam com a aderência dos filhos. Contradição nossa de cada dia! As pessoas não se dão conta do que postam, estão mais ligados aos likes e ao número de seguidores. Por isso, surgiu uma nova forma de trabalho que, não raro, dispensa formação, cultura ou estudo. É diversão oferecida para gerar fortunas com besteirol, fofocas e nenhum saber. Sob efeito infantilizador.
Quando o assunto é “sério”, profissional, a IA (inteligência artificial) resolve, com retoques para não ficar muito explícito e assim se resolvem as lacunas gramaticais e os recursos necessários na criação de contextos e formas escritas.
Poucos resistem aos jogos, paisagens, pousadas paradisíacas e luxo, muito luxo. Com baixíssima possibilidade de a maioria consumir essas imagens ou vivenciar essa felicidade alheia. Apenas frui imaginariamente, se identificando com o felizardo, sempre felizardo. O outro... sempre mais feliz que eu!
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Mesmo assim, fruindo do mundo nessa distração, somos mais independentes e individualistas. Quase dispensamos totalmente o outro, fechamos a porta inconsciente, que pouco percebemos ou escutamos.
Se antes sofríamos com a divisão subjetiva, em crises existenciais, hoje encontramos a solução feliz! A compulsiva ligação com objetos oferecidos a preços módicos, e outros imediatismos ao nosso dispor no mundo virtual: o impossível não existe ou será vencido. E o sujeito se apaga neste gozo imediato e quase, quase esquece de tudo...