Transmitido de geração em geração, o mito, seja oral ou escrito, tem a função de oferecer metáforas que dão sentido ao que vivencia todo ser falante. Temores, dificuldades, batalhas, conquistas, perdas e sofrimento. O imaginário forja sentido a partir de ficções subjetivas, que chamamos fixões, por se tornarem nossas permanentes formas de entender a vida. Porque precisamos dar sentido ao real, que é mais furo do que consistência.
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O livro “Mitos e psicanálise”, que será lançado em BH no dia 9 de novembro, é produção independente organizada por Rodrigo Mendes, com bela capa de Luíz Otávio Ferreira. Oferece perspectivas e contribuições diversas em torno da psicanálise a partir de mitos gregos e bíblicos, entre outros.
No prefácio, Gilda Vaz aponta a importância dos mitos para o homem. Ela diz: “Retorno hoje ao verbo para dizer 'no começo era o mito', pois é pelo mito que começamos a contar a história da humanidade, do mundo, do pensamento, no campo do coletivo e do individual. Tudo começa com os mitos, como bem demonstrou Freud ao inaugurar a psicanálise fazendo uso da mitologia grega.
'O mito dá forma épica ao que se opera na estrutura', nos indicou Lacan. E o que acontece na estrutura? Arriscamo-nos a responder: um saber não-todo, que impulsiona o movimento da vida.
Os mitos são contados e recontados pelos homens e ocupam parte importante no universo mental, assim como os contos de fadas oferecem à criança personagens com as quais se identificar nos caminhos pelas agruras da vida.
Nos anos 1980, Jacques Lacan escreveu 'O mito individual do neurótico' a partir do relato do antropólogo Levi-Strauss sobre a cura operada numa parturiente por um xamã, por meio do mito. Isso permitiu que a jovem mãe concluísse o parto. Consistia na encenação e narrativa de guerreiros atravessando o difícil caminho para vitória. Uma narrativa metafórica do nascimento.
A eficácia simbólica do mito é fabulosa, pois permite a expressão de afetos antes incompreensíveis porque desintegrados de um sistema e, agora, englobados num conjunto cultural estruturante ao qual pertencia a paciente, tudo fez sentido para ela.
Esta passagem curativa à expressão verbal, chamada por Freud ab-reação, aproxima o xamã do psicanalista, que utiliza da linguagem, o mito individual do paciente revelado nas palavras em associação livre. Porque o que se diz fica escondido no que é dito. A narrativa encontra uma escuta, que faz o equívoco ser percebido como um novo sentido que opera uma retificação e fundamenta a cura.
Escutar o inconsciente que ressoa das palavras é nosso trabalho. Existe uma lógica inconsciente construída pelo paciente para suportar a vida, seus traumas, medos, inibições, sintomas e angústia. O que se desvela na escuta é isto, a fantasia que fundamenta a crença que o sustentou toda a vida.”
Os autores do livro são Ana Maria Portugal M. Saliba, Alexandre Simões, Rodrigo Pardini Guedes, Carla de Abreu Machado Derzi, Cristina Moreira Marcos, Gilda Vaz, Pedro Castilho, Maria Auxiliadora Bahia, Ângela Mucida, Flávio Durães, Andrea Libanio, Gersianni Amaral Gonçalves, Cláudia Ferreira Melo Rodrigues, Edmar Avelar de Souza, Bárbara Goecking, Maria Luiza Macedo Simões, Gabriel Goecking, Nara França Chagas, Thaïs Gontijo, Regina Teixeira da Costa e Rodrigo Mendes Ferreira.
Trata-se da retomada de uma série anual interrompida na pandemia, motivo de alegria que tem lugar especial para todos que participam deste livro. Que venha e seja um sucesso!
“Mitos e psicanálise” será lançado no próximo sábado (9/11), das 11h às 14h, na Livraria da Rua, que fica na Rua Antônio de Albuquerque, 913, Savassi. Nos vemos lá!