Tenhamos a sabedoria de fazer com que 2025 seja, de fato, ano novo
Deixe o pensamento mágico de lado e seja o sujeito capaz de administrar, mudar rumos, gerar saídas
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SIGA NOO fim do ano representa mais uma etapa cronológica vencida. Ainda estamos aqui e tratemos disso. Tratemos disso muito bem, com cuidado e coragem. Não vamos desejar que o ano nos traga nada. O ano não é sujeito. Somos nós que devemos buscar o que queremos e desejamos.
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Desejamos que o ano novo seja repleto de saúde, alegrias, realizações e que possamos nos proporcionar isso. O ano não tem poderes nem é manancial de dádivas que esperamos magicamente. Lembrem-se, o real é osso duro de roer. Alimentar a fé na magia cantada de “o acaso vir nos proteger enquanto distraídos” é apostar na sorte. Ter sorte é bom, mas, para ganhar as apostas que fazemos, é preciso entrar no jogo e jogar bem. Teremos maiores chances.
O interessante é que, por mais sorte e azar do acaso, ninguém está garantido. Não podemos nos livrar do real. Do inevitável que acontece no desenrolar da vida como ela é e se apresenta a cada um de nós. Não controlamos, mas tudo pode ser menos pior ou bem melhor quando enfrentamos, seja o que vier.
O que podemos fazer e pode resultar bem é deixar o pensamento mágico de lado e ser o sujeito capaz de administrar, mudar rumos, gerar saídas. Esse sujeito está em nós, é agente de mudança, construtor e arquiteto do que se vive. Responsável pelo que gera, pelo seu ato, pelos laços que constrói – somos nós os personagens principais dessa história.
Como na gramática, toda oração tem seu sujeito, mesmo que oculto. Cada um de nós também tem seu sujeito, mesmo que inconsciente. Ele fala conosco, faz sonhos, é voz discreta que alerta e, por vezes, ignoramos. Esse que diz sim e não é a nossa maior proteção.
O sujeito é o agente de acontecimentos. Ele não pode evitar a vida como é. Mas deve construir seu caminho a cada passo. A posição de evitação da realidade, de negação ou de alienação faz sofrer mais. O não querer saber é acompanhado da vítima de um destino cruel. O que não se vê é levado como folha ao vento, sem direção, à revelia.
O sujeito não é onipotente, sofre consequências e padece com fatalidades, perdas que o contrariam. Desejar não é sinônimo de realização garantida. Nem sempre desejamos o possível. Nem sempre queremos o que desejamos.
Portanto, nossos votos para o próximo ano são não o que 2025 nos trará, mas que tenhamos sabedoria para fazer com que o ano seja, de fato, novo. Assumir a responsabilidade por nossos atos. Atos de coragem para sair de repetições indesejáveis e fazer diferente. Sermos fiéis e não cedermos o nosso desejo em troca do que esperam de nós. Quem se deposita nas mãos do outro está se perdendo. Tomar as rédeas da vida não nos livra dos acontecimentos, mas oferece maiores chances.
Desejo um ano novo feito de atos de coragem e respeito, moldados no genuíno desejo e na liberdade, não para se permitir tudo muito e mais ainda, mas pela autonomia para escolher o melhor para si.
Somo a estas últimas palavras de 2024 um presente da poeta Flávia de Queiroz Lima, em “Laços e avessos” (editora Pangeia, 2023):
“Começar de novo
… Quem sabe o olhar no horizonte/ encontre espaços vazios/ e novos gestos refaçam/ os trejeitos aprendidos? Desejos revisitados,/ presságios se esvaindo,/ sentimentos acalmados/ desatando desafios...
Um recomeço aprendido/ no espanto, no estranhamento,/ imita a haste flexível/ que se curva sob o vento,/ sonha, adivinha, pressente/ a cadência em movimento, regenera, surpreende,/ e desentranha o momento.”