Na semana passada, tivemos o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher. A Organização das Nações Unidas (ONU-Mulheres) divulgou relatório sobre os brutais abusos domésticos, classificando a situação como “violência generalizada em todos os países”.

 

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Diariamente, 140 mulheres e meninas são mortas por parceiros íntimos ou familiares: uma a cada 10 minutos. O crime “transcende fronteiras, condições socioeconômicas e grupos etários”, afirma a ONU.

 

 



 

 

Estatística triste, que aponta para a dificuldade de domar os afetos, conter a violência da pulsão de morte. Apesar de campanhas e dos esforços pela conscientização, os números se mantêm altíssimos.

 

 

Quando a lei simbólica falha em conter o real, o resultado é trágico. A violência, manifestação máxima da pulsão de morte, é associada a tudo o que vivemos. Nos casos de feminicídio, refere-se a como cada sujeito se posiciona frente ao sexo oposto, que representa a alteridade.

 

A mulher, a quem falta o órgão fálico, portanto, nasce castrada, encarnando o risco, o mal, o horror, um outro gozo. Isso motiva, por exemplo, o uso da burca, imposto para que as mulheres não provoquem desejos e os homens não caiam em tentação.

 

 

Zeus e sua esposa, Hera, questionavam quem gozava mais, o homem ou a mulher? Chamaram Tirésias, que já havia sido mulher por sete anos e depois voltou a ser homem. Sobre os dois modos de gozo, ele respondeu: “A mulher!”

 

Furiosa, Hera o castiga, cegando-o. Zeus recompensou Tirésias com o dom de ver o futuro. Os deuses eram muito cruéis, mas não mais do que os homens.

 

Esse mito mostra que as diferenças de gênero podem levar a consequências terríveis quando, ao fim de uma relação, o amor se torna ódio e transborda para além da razão e dos limites, fazendo do homem um ser passional e assassino capaz de atirar a mulher da janela, a exemplo do que foi exposto na semana passada.

 

Sabemos quantas concessões a mulher é capaz de fazer por um homem, para tê-lo a seu lado e pelo prestígio de ter um homem para chamar de seu. Pelo emblemático poder fálico, a separação pode ser sentida como devastação. Basta lembrar o quanto é comum a mulher separada deixar de ser incluída pelas próprias amigas nos programas de casais.

 

 

Isso mostra que a violência passa também a ser exercida pelas próprias mulheres que “têm” o seu homem (falo) contra as que não o têm, por temerem perder o que é seu. O machismo é transmitido em grande parte pela própria mulher, a mãe que, para garantir que o filho seja homem, incentiva a virilidade.

 

As mulheres sofrem violência diariamente em seus lares, com o trabalho invisível, mesmo quando trabalham mais que os homens. Cuidam de tudo e todos. Uma realidade desoladora da depreciação social feminina. Herança viva do colonialismo, em que a virilidade e o poder fálico são o maior valor masculino.

 

Se o homem confere poder fálico à mulher, quando a perde é ofendido narcisicamente. Desarmá-lo do poder viril é feminilizá-lo. Daí seu ódio contra a mulher. Não ser desejado é humilhante, ferida insuportável no amor-próprio, pois, agora, “ela” detém o poder que retira dele. Essa ameaça à virilidade enlouquece.

 

A psicanálise promove, ao final de uma análise, a queda da sustentação da posição viril. Essa travessia traz alívio do peso de viver sob a égide fálica e viril. Perder o poder que representa um fardo recebido desde o nascimento com todas as implicações que advêm daí. Portanto, homens que deixam cair essa fachada pesada são mais felizes, menos violentos e, claro, têm mais facilidade em lidar com o mundo feminino.

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