Finalizar mais um ano traz a implacável certeza do voo do tempo. Ainda assim, é como se fôssemos pegos de surpresa. A vida como processo resolutivo constante é peleja. Os bons momentos nos compensam. Já miramos o próximo ano.
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Lançamentos de livros, jornadas de psicanálise, formaturas, exposições de arte agitam nossos dias. Freud reconhecia a arte, a poesia e a literatura como precursoras da psicanálise. Os escritores e artistas, sem saber, expõem subjetividades da alma humana, pela sensibilidade os sentimentos que nos despertam e tocam nossas vidas. Um catálogo clínico a ser apreciado.
A psicanálise como ética e política nos proporciona uma visão de mundo peculiar, permitindo uma perspectiva que inclui um inconsciente vivo e operante em todas as formas de expressão. Por isso considero que o fim deste ano tem sido muito positivo e produtivo na cidade. Lançamos dois livros: “Da desilusão” (Quixote+Do) e “Mitos e psicanálise” (org. Rodrigo Mendes), coletâneas que nos trouxeram alegria da realização e bons encontros.
Alguns prêmios, como o conferido pela Academia Mineira de Letras ao escritor José Eduardo Gonçalves pelo livro “Pistas falsas” (Patuá), e o Maria Carolina de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres, conferido pelo Ministério da Cultura à poeta Flávia d’Aves pelo belíssimo “Tatachina” (Quixote+Do).
O lançamento da revista da AML, volume LXXXIV, como sempre impecável sob a batuta de Rogério Faria Tavares, com direito à poesia de Flavia Queiroz de Lima, homenagens a Olavo Romano (in memoriam), Chico Buarque: 80 anos, com palavras biográficas da irmã menor, Ana Buarque, e dossiê Literatura e cidade natal, em que autores narram memórias.
Linda capa com ilustração de Niura Bellavinha, atualmente com a exposição “Pranteios” no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. Utiliza em suas obras minerais e pigmentos do dejeto das minerações com tonalidades marcantes. A posse de Ana Cecília de Carvalho, também na AML, primeira psicanalista eleita ali, na casa das palavras, com belo discurso afetivo que emocionou o público.
Filme de Walter Salles “Ainda estou aqui”, retratando os anos de ditadura militar no Brasil e os porões da tortura. Oportuno para os que insistem que havia maior segurança por causa da ditadura. Doce ilusão ou alienação. Se os tempos pareciam melhores, é porque ainda não havia milicianos, traficantes armados com fuzis, que só surgiram depois de seu contato com militantes políticos nas prisões, como nos esclarece Luiz Eduardo Soares, em “Cabeça de porco”, escrito em parceria com MV Bill e Celso Athayde (Objetiva,2005); nem a violência urbana atual, como consequência da diferença abissal progressiva entre as classes sociais. Esse esclarecimento é providencial.
E, finalizando, com a divulgação da tentativa de golpe de Estado e assassinato do presidente Lula, orquestrada por Jair Bolsonaro e militares, que culminou na prisão de Braga Netto. Por um triz não nos atiram em outro período nefasto como aquele.
Nós, psicanalistas, não apoiamos nenhuma medida de desrespeito às liberdades individuais ou que contrariem direitos legais e nos lancem à violência institucionalizada. A psicanálise vai na contramão a tudo que nos priva dos desejos possíveis, de qualquer tipo de segregação e desconsideração das diferenças. As múltiplas singularidades que são parte do coletivo político e social.
E, apesar de sabermos que muitos problemas nos rondam, só podemos desejar algumas reversões, participação e novos posicionamentos por um futuro alvissareiro.