

Limites necessários
Não é mais possível acreditar no que vem das redes. A desinformação desestabiliza a realidade a tal ponto que já não sabemos separar entre falso e verdadeiro
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As postagens nas redes sociais merecem uma crítica mais racional, e não menos, como se propõe agora. O uso das redes traz muitas vantagens, é incrível a evolução tecnológica e reconhecemos que agrega valores à civilização. Mudou a vida moderna.
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Freud, em sua sabedoria, nos ensinou sobre as motivações subjetivas que determinam nossas atitudes. Aponta a necessidade da união entre os homens e a colaboração em prol de uma civilização pela proteção mútua e mostra a importância desse trabalho conjunto.
Também aponta a contrapartida. Os problemas, conflitos e forças antagônicas. Dizia que nas massas o anonimato do indivíduo permite a perda dos limites da sociabilidade e abre espaço para manifestações de agressividade, intolerância, oportunismos e outras expressões da pulsão de morte.
Nunca nos livraremos da pulsão de morte. Pulsões de morte e vida são amalgamadas. Os excessos, das duas, precisam ser contidos pela educação, porém, assistimos ao contrário. Os excessos: guerras, golpes, o domínio de grandes grupos capitalistas que controlam o mundo pelo acúmulo de capital. Sexo explícito nos palcos, bundas rebolando na tela, influencers infantilizados, grosseiras postagens de ódio.
Ficou clara a união de forças Trump, Amazon, Apple, Meta, X, maiores fortunas do mundo, cada vez em menos mãos, que abala o resto do mundo com excessos. Não às legislações, limitações, checagem. Sobretaxação aos que não gostam dos EUA, discriminação racial aos imigrantes, ideais expansionistas anunciando problemas.
Excessos. E ainda mais e mais. Apesar da destruição ecológica, superaquecimento global, empobrecimento, fome, eles continuam. Eles continuam nos levando ao último destino: a destruição do mundo.
Essa agressividade nos faz renunciar às redes sociais. Manifestações de ódio, mensagens horríveis, mentiras. Não é mais possível acreditar ou apreciar o que vem das redes. A desinformação desestabiliza a realidade a tal ponto que já não sabemos separar entre falso e verdadeiro.
No mundo virtual, assim como no mundo real, precisamos ser civilizados, manter as relações cordiais, mesmo quando discordamos, entretanto, isso não acontece sempre. As pessoas disparam flechas, soltam feras, ódio, frustrações e recalques, como se não fosse nada.
Descarregam a agressividade e todas as amarras, contenções e recalques de forma grotesca, horrenda. Descarregar o que foi reprimido pela educação pode trazer uma catarse aliviante, mas desfaz o trabalho da educação, suspendendo os limites do que é antissocial em nós.
Fernanda Torres fez um apelo aos brasileiros. Na festa da Revista “W”, onde não conhecia a maioria dos atores, foi acolhida por Karla Sofía Gascón, primeira trans indicada ao prêmio de Melhor Atriz no Oscar, com o filme “Emilia Pérez", que a apresentou aos outros convidados. Fernanda fez um apelo ao público brasileiro para que moderasse as críticas às concorrentes. Disse: ser indicada já é uma honra, é como ganhar e todas as indicadas mereceram.
Utopia? Sim, decerto! Se o “1984”, de George Orwell, está em vias de se realizar pela IA... Se a utopia de Margaret Atwood em “O conto da aia” já é realizada em países extremistas, onde se cobre o rosto das mulheres, apedreja e castra... Se Hitler realizou sua necropolítica... Por que não sonhar uma utopia que abolisse a fome, abraçasse os povos, as diferenças, contivesse a pulsão de morte através do respeito às regras e às leis pelo bem comum? Por que não sonhar uma civilização que estenda suas asas sobre nós?