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Sobre a eficiência do silêncio
Ao escutarmos mais do que respondemos, permitimos ao nosso paciente encontrar em si mesmo as respostas que, muitas vezes, já tem e não ousa escutar-se
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O silêncio é frequentemente subestimado em nossa sociedade barulhenta e acelerada. No entanto, desempenha papel crucial em diversas áreas da vida, incluindo a nossa, da psicanálise. Também ajuda na produtividade e, por incrível que pareça, contribui muito nos relacionamentos pessoais e profissionais. O silêncio nos permite tempo de pensar antes que qualquer resposta dada às pressas cause mal-entendidos.
O silêncio, mesmo sendo tão eficiente quanto certas palavras, é difícil. Mas, para um escritor, por exemplo, é fundamental. Para um cientista, um poeta, um matemático, um líder. Pode ser insuportável para os ansiosos, porém, considerar o silêncio negativamente é um equívoco. Muitas vezes, silenciar é respeito, é escuta. Diferente de se fechar ao diálogo.
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O silêncio é bom companheiro do pensamento, da leitura, acalma a mente poluída pelo ruído da cidade, da televisão, das redes sociais, onde qualquer um pode falar sem dizer nada minimamente inteligente. Inclusive, muitas vezes, é desinformação. Fake news são hoje instrumentos políticos de manobra.
Sobre isso, Henrique Portugal, também articulista deste jornal, escreveu “A liderança silenciosa”. Frequentemente, no consultório, escutamos o sofrimento com os “chefes”. Eles falam demais no intuito de mostrar poder e, se excedendo, mostram a fragilidade de sua posição na liderança. A palavra pode ser chibatada ou acolhimento.
A liderança silenciosa é, segundo Portugal, o avesso do tradicional absolutista que lidera tocando o terror. Em lugar disso, busca a colaboração, com margem para menos erros. Os gestores que escutam, aprendem e abrem para o diálogo e, embora fujam dos modelos tradicionais, podem oferecer respostas interessantes.
A liderança silenciosa se concentra em ideias e ações que influenciam e têm poder de conduzir, sem ordenar. Henrique lembra ainda o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han: “Quanto mais poderoso for o poder, mais silenciosamente ele atuará. Onde ele precisar mostrar sua força, é porque já está enfraquecido”. Os recentes acontecimentos mostram que Trump, por exemplo, usa a estratégia de ameaçar, estremecer o outro, para depois negociar, obtendo as concessões que deseja.
Portugal enfatiza ainda que o chefe que fala menos e trabalha com o silêncio nos ensina mais. E compreendemos que o líder ansioso e inseguro, ao contrário de estimular, desanima. Fica vigiando e admoestando porque acredita que, sem pressão, não há produção, como aprendemos na dialética hegeliana do senhor e do escravo. Nesse caso, a palavra é uma chibatada.
Para as relações amorosas e familiares vale o mesmo. Quando um fala demais, a reação é adversa e menos proveitosa. Porque uma coisa é uma conversa boa, outra é um controle de comportamento que mais constrange do que acrescenta. O líder, o educador e os pais devem sinalizar que reconhecem o valor e confiam nos parceiros ou haverá pessoas descontentes ao seu lado. O que não traz nenhuma vantagem.
O silêncio é precioso. Na clínica, é ferramenta fundamental. Ao escutarmos mais do que respondemos, permitimos ao nosso paciente encontrar em si mesmo as respostas que, muitas vezes, já tem e não ousa escutar-se, ignorando um saber oculto, inconsciente.
Um saber que não vem à consciência e que não queremos saber. Sua chegada à consciência é temida. Entrará em conflito com as vontades do ego, que não coincidem com os desejos da alma. Nesse caso, o barulho serve para adiar, enganar e esconder o que não queremos saber. Só o silêncio poderá trazer à tona o mais íntimo do ser. E só assim podemos produzir com prazer.