
Sejamos todos feministas
O feminismo que não diz respeito apenas às mulheres, mas aos homens também. Sem isso, nada poderá mudar
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

O título da coluna de hoje é o mesmo do livro da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Um livrinho fininho e gostoso de ler, em que ela relata seus pensamentos sobre o feminismo que não diz respeito apenas às mulheres. Mas aos homens também! Sem isso, nada poderá mudar, porque os homens continuam praticando os mesmos valores que as mulheres ainda batalham tanto para extirpar de vez.
A autora, que aprecio em outras obras também, escreve em resposta a críticas à sua opinião sobre o feminismo, que é considerado em seu país, além de antiafricano, coisa de mulher infeliz e feia que quer mandar nos homens. Mulher que não se pinta, não se depila, está sempre zangada, não tem senso de humor e não usa desodorante.
Leia Mais
Diante dessas colocações, com as quais não se identificava em nenhuma hipótese, Chimamanda foi se recolocando e renomeando como “feminista feliz e africana que não odeia homens, que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”.
Muitas críticas vinham de mulheres extremamente machistas que educam os filhos com valores muito mais pautados por preconceitos, próximas da homofobia e do temor da possibilidade de uma escolha homossexual deles, do que do bom senso de permitir a liberdade de escolha em consonância com o desejo. Então, é educar para trancar no armário e não para sair do armário.
Nesse caso, ao dizer “sair do armário”, não me refiro somente à assunção da sexualidade, mas a andar com o desejo. As pessoas capazes de viver com seu desejo, mais do que atender demandas alheias, são mais realizadas e contentes. Não vão sair por aí matando, estuprando e barbarizando. Isso é coisa de gente muito primitiva.
Uma das reações quando a cria humana percebe outra presença é a agressividade. É como se temesse e se defendesse – o que é eu é bom; o outro, estranho e infamiliar, é ruim.
Pois o homem não nasce bom ou mau. Ele nasce defendendo a vida e, com provável certeza, com medo de sua imaturidade diante do mundo novo e desconhecido.
Somente quando recebemos afeto, calor humano e somos marcados em nosso corpo pelos sons das palavras acolhedoras, amorosas e afetivas, é que nos humanizamos, e o que antes era agressividade poderá dar lugar a outros afetos.
O último 8 de março, comemoramos o Dia da Mulher, e isso nos faz pensar, revisitar o passado. Não temos dúvidas de que o avanço social e profissional das mulheres fez do mundo um lugar melhor. Conquistamos direito ao voto e à voz, antes silenciada por leis elaboradas exclusivamente por homens e para homens, subjugando a mulher e a impedindo à liberdade.
Hoje, as mulheres enfrentam tabus como mulher feia não merece ser estuprada, não pode ser gorda, reclamar, envelhecer, desejar, tomar iniciativas, etc. Preconceitos que recolocam a mulher no lugar de objeto sexual masculino. Fomos feitas para agradar.
Rememorar histórias tristes de opressão e violência contra a mulher importa. Elas enlouqueciam. As histéricas de Charcot, no Hospital Salpetrièrre de Paris, onde Freud aprofundou seus estudos sobre a histeria, mostram crises de conversão, contorções, paralisias, desmaios, forma de manifestar seu sofrimento. Ai de nós naquele tempo...
Mas o que estou dizendo? Quem desconhece nossa história? Só importa repetir para não esquecer. Qualquer forma de violência é opressão em benefício e por interesse dos que se consideram com mais direitos do que todos.
Esta história não faz parte do passado, ela é atual, vejam o recente assassinato da bela menina Vitória. Seguida, cercada, estuprada, torturada, encontrada sem cabelos e morta quando voltava do trabalho.
Apenas um crime para que consideremos a altíssima estatística do feminicídio no Brasil e no mundo. Homens e mulheres, sejamos todos feministas!
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.