Treino numa academia que fica quase ao lado de um ótimo supermercado. É um contraste e, para usar um termo filosófico, dialético. Minha rotina, invariavelmente, é ir aos dois -  (crédito: Pixabay)

Treino numa academia que fica quase ao lado de um ótimo supermercado. É um contraste e, para usar um termo filosófico, dialético. Minha rotina, invariavelmente, é ir aos dois

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Tenho um amigo chef que viveu um Romeu e Julieta: ele cozinheiro, gourmet e gourmand; ela, modelo. Na primeira viagem a Paris, o amor impossível veio à tona. Ela achava um absurdo gastar com comida o que daria para comprar um sapato e ele achava um absurdo comprar sapatos e ficar em Paris comendo saladas.

 


Minha formação universitária é em filosofia. Para mim, na época, Academia era a de Platão. Ou a carreira acadêmica nas universidades. Quando alguém me dizia que ia para a academia, imaginava que ia estudar. Depois aprendi o que era malhar, o que hoje se chama treinar. Hoje sou um acadêmico.

 

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Treinar é muito bom e importante. Saúde, bem-estar físico e mental. A frase romana antiga “corpo são, mente sã” tem dois mil anos de verdade inquestionável. O bem-estar vem primeiro, o emagrecimento é consequência. E ser magro não é uma tarefa simples, especialmente quando se é um cozinheiro, profissional ou amador.


Muita gente critica as academias, como se fossem um ambiente fútil, de marombeiros que comem trinta claras de ovos por dia, mas é mais do que isso, e eu, particularmente, gosto bastante. Ali as pessoas estão tentando cuidar da sua saúde, fazer o sangue correr, oxigenar o cérebro e ficar mais bonitos.


Tirando os excessos, tem mesmo muita gente bonita nas academias. Mas sempre há a pergunta de quais foram os sacrifícios, além do treino, que gerou aquele corpo escultural. Com certeza, uma dieta espartana, creatina, suplementos, maca peruana, whey protein, BCAA, orientação nutricional, nada de bebida alcoólica, não comer carboidratos após certo horário, nada de doces, ou seja, uma rotina nada atrativa do ponto de vista gastronômico.

 


Treino numa academia que fica quase ao lado de um ótimo supermercado. É um contraste e, para usar um termo filosófico, dialético. Minha rotina, invariavelmente, é ir aos dois. São emoções diferentes, há um público comum que faz o mesmo trajeto, mas há os públicos específicos também.


Sair da academia e ir ao supermercado é melhor do que fazer o contrário. Adoro quando chego lá e vejo pessoas não muito preocupadas com a forma física escolhendo seus produtos, enchendo o carrinho e, muitas vezes, com produtos muito bons. E com a melhor cara do mundo. Quem disse que uma barriguinha não pode ser sexy? Ao menos aqui há algo muito importante na vida: apetite.


Não se trata da defesa do sedentarismo – longe disso – ou de trash food. Adoro treinar, manter o peso o mais controlado possível, mas não evito carboidratos à noite, bebo vinho diariamente e adoro cozinhar para as pessoas, afinal escolhi ser chef e professor de gastronomia por isso.

 


Quando precisamos de uma dieta, ela pode ser “gourmet”, mas sem raios gourmetizadores. Há muitos ingredientes deliciosos, nutritivos e quase nada calóricos: cogumelos, boas mostardas, ervas frescas, especiarias, ovos e muitos outros.


Não se deve demonizar comida. O pão e o vinho são alimentos sagrados nas religiões antigas, não podem fazer mal. O primeiro milagre de Cristo foi transformar água em vinho para um casamento, e não o contrário. Sua frase “o mal é o que sai, não o que entra na boca do Homem” é perfeita.

 

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São muitos os milagres na gastronomia que elevam o nosso dia, os que a natureza produz como o mel, as frutas, as ervas e as especiarias e os que a humanidade elaborou – citando o balé Quebra-Nozes – como o café, o chocolate amargo e o marzipã.


Saúde está no equilíbrio entre a atividade física regular e a alegria de cozinhar e sentar à mesa com quem gostamos.