Todo mundo conhece a mesa de anteontem. Num dia, tudo arrumado para o almoço. No mesmo dia, mais tarde, a toalha é afastada para colocar o computador ou papéis e canetas para trabalhar ou estudar. No dia seguinte, os vestígios do almoço e do trabalho estão lá e se toma o café da manhã. De noite, tira-se um pouco dos farelos de pão, mas o computador segue no canto, a toalha meio embolada e vem o jantar. E, no dia seguinte, o ritual se repete. Há quem goste. Eu, particularmente, não gosto.

 




 

Não gosto porque, para um cozinheiro, cada refeição é sagrada, das mais simples às mais refinadas. E trazem emoções diferentes, em dias e horários diferentes. Se cada dia é um novo dia, é renovador também a cada vez uma nova mesa.

 

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Primeiro tudo deve estar limpo. Depois, os jogos americanos ou a toalha devem ser trocados. Ou, às vezes, como fazem os escandinavos, nem mesmo isso. O prato pode ir direto na mesa de madeira, vidro ou pedra. Gosto bastante.

 


Pratos bonitos, talheres bonitos, tudo isso põe mesa. Não precisam ser caros. Existem dezenas de opções no mercado para todos os gostos e bolsos. E, muitas vezes, os mais caros não são necessariamente os mais bonitos. É bom ter convidados que não vão checar a marca do prato escrita no verso.


Mudar a mesa traz o prazer de se sentar e comer algo diferente do que comemos antes, trazendo uma nova emoção, um novo momento e novas conversas.


Como tudo na vida tem o seu ponto fraco, o calcanhar de Aquiles em trocar a mesa a cada refeição são os guardanapos. Para não manter a máquina de lavar exausta, ou mesmo não ter que passar guardanapos o tempo todo, os de papel seriam boas opções, se não fossem tão escassos por aqui os bonitos e com boa textura.

 


No exterior, encontramos facilmente uns que parecem tecido. Há uma profusão de cores de bom gosto e tamanhos variados. E, o melhor, são baratos. Eu e a minha mulher sempre trazemos estoque de guardanapos de papel na mala. Pode parecer futilidade, mas atire a primeira pedra quem nunca trouxe coisas do gênero.


Felizmente, isso começa a mudar por aqui. Tirando os estampados, que encontramos em profusão, mas quase nunca são bonitos, vemos alguns coloridos bons, embora o vermelho às vezes parece que é Natal o ano inteiro e o azul é excessivo. Cores menos potentes são melhores.


E não tem nada mais feio do que comida na embalagem. Colocar a manteiga em um pote, geleia em outro, o queijo e o pão numa tábua de madeira ou pedra. Tudo isso faz a mesa não parecer um desfile de merchandising de produtos e, sim, um lugar onde o produto fala por si.

 


O design escandinavo de fato tirou as toalhas das mesas e tornou as cerâmicas “trend”. Gosto bastante da ideia, mas aquelas peças de prata de família também têm o seu lugar. E não se trata de afetação ou formalidade. Isso está nas pessoas e não nas travessas.


E a mesa não só pode como deve ser com a austera simplicidade. Sempre mais bonito do que encher a mesa com sousplats + guardanapos + pratos + arranjos de flores excessivos e o que é pior: bichinhos de pelúcia.


Uma mesa não é um cenário. O ideal é que não seja um lugar de performance dos anfitriões. Existe competição até no receber. Não é um ranking, ninguém ganha um troféu por arrumar uma mesa.

 

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Não seguir moda é legal, criar um contexto diferente a cada vez que nos sentamos para comer também. Cada refeição faz parte de um momento inédito da nossa vida na alegria de compartilhar o alimento.

 

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