Conseguir, no sentido de negação, é o verbo do momento. É o que mais se escuta: amanhã eu não consigo, terça à tarde eu não consigo, neste sábado eu não consigo e por aí vai. A frase é perigosa, do ponto de vista da saúde mental. De tanto dizer que não consegue, a pessoa acaba tendo um sentimento de exaustão e indisponibilidade.

 


Um amigo psiquiatra e psicanalista disse que os efeitos da pandemia estão sendo sentidos agora. Concordo. Depois de quase dois anos de confinamento e do “abre-fecha”, todos nós tivemos que nos trancar em casa, inventar uma nova vida.

 

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Como um antes e depois de Cristo, começou aqui um registro temporal, existe o que fizemos antes e depois da pandemia. E as marcas ficaram. A reclusão virou “cool”. Há um certo sentimento de superioridade ao dizer “não estou saindo”.


Ficar em casa de fato é ótimo, tenho praticamente todos os aplicativos de filmes e séries. A oferta é enorme, dezenas de títulos, emprega muita gente, o que é sensacional. E finalmente aconteceu o que Andy Warhol dizia: no futuro todos serão famosos… por 15 minutos.

 


As justificativas para não sair são muitas, como a falta de educação das pessoas em ambientes públicos, a falta de tempo e a comodidade de pedir um jantar em casa e assistir as vastas opções de filmes e séries disponíveis.


Concordo que às vezes ir a um show ou ao cinema pode ser desanimador. É comum ter alguém na plateia do nosso lado cantando junto com o músico ou conversando durante todo o filme como se estivesse na sala da sua casa e, o que é pior, ouvindo em volume elevado áudios que deveriam ser privados no WhatsApp.


Os fones de ouvido hoje resolveram parte deste problema, são providenciais, eliminando o ruído indesejado em volta. O problema é que também nos fecha no nosso próprio mundo com a nossa playlist favorita ou o podcast do momento. É o estar isolado, num ambiente coletivo.

 


Chegamos a um ponto em que, para mostrar algo para alguém, temos que encaminhar por mensagem. Nem mesmo ver rapidamente a nossa tela o outro tem disponibilidade.


Outro impedimento são problemas de saúde na família. É normal e louvável cuidar de um familiar enfermo, todos nós passamos por problemas difíceis, é a vida real de todo mundo, a vida não é fácil.


Concordo com tudo isto, mas, ainda assim, acho que vale a pena sair. Ir para a rua é importante. E todos os indicativos de saúde mental dizem que sair de casa e ter vida social é fundamental. Fernanda Montenegro bem disse no fim de uma de suas leituras de Simone de Beauvoir: “Saiam de casa, peguem condução, entrem na fila, assistam uma peça – pode ser uma peça ruim (aqui a plateia riu) – mas saiam, nada substitui a carne, o contato físico, pessoal”.

 


Um CEO de uma empresa de tecnologia de delivery de comida disse há algum tempo que em breve ninguém iria mais a restaurantes, que o negócio ia acabar, todos iam pedir comida em casa.


Comida pedida em casa não se equipara a sair para comer fora. A gente não quer só comida, a gente quer conversar, estar num ambiente que foi preparado para nos receber, ver outras pessoas, fazer parte de uma experiência comum e provar um prato saído da cozinha para a mesa, com tudo no ponto certo.


Tecnologia é ótimo, acho este novo mundo de fato admirável. Mas é bom evitar ser como a Carolina da música do Chico Buarque: “Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela, só Carolina não viu”.

 

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Melhor ser como a Baby de Caetano. “Você, precisa tomar um sorvete, na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto, ouvir aquela canção do Roberto”. Topa?