Roberto Brant
Roberto Brant
O Brasil visto de Minas

Em busca do centro perdido

Na verdade, o que mais está ocorrendo é a proliferação de conflitos e um retrocesso ao mundo hostil que produziu as guerras do século 20

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É difícil olhar para o mundo em que vivemos sem um sentimento de pesar e de assombro. Pesar pelo fim da ilusão de que após o colapso das ideologias, iniciado em 1945 e concluído em 1989, o mundo seria finalmente um lugar de paz, de concórdia e de progresso. Assombro pelo tempo tão curto que durou essa ilusão, pouco mais do que 30 anos, o tempo de uma única geração. Quando as tecnologias eliminaram as distâncias e puseram em contato todos os povos da terra, a esperança era que a proximidade arrefecesse as estranhezas e as diferenças entre as culturas e tornasse possível a cooperação necessária para  enfrentar os problemas comuns da humanidade. Na verdade, o que mais está ocorrendo é a proliferação de conflitos e um retrocesso ao mundo hostil que produziu as guerras do século 20.

 


Até um certo tempo atrás, havia a impressão de que o mundo estava dividido entre democracias e autocracias e que a grande questão geopolítica era qual dos lados se tornaria hegemônico. Hoje, a questão está embaralhada, já que o país líder do mundo democrático resolveu isolar-se em seus próprios interesses, reais ou imaginados, e desgarrar-se da comunidade democrática. O mundo agora está mais propriamente dividido entre democracias, autocracias e os Estados Unidos.

 

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Quanto tempo durará esta loucura ainda não podemos saber, mas seus efeitos serão duradouros e o resto do mundo democrático terá que procurar uma reconfiguração que o torne forte e independente dos atuais polos de poder. Cada país terá que repensar seus interesses nacionais e suas políticas internas. O mundo que vem aí será diferente do que estamos acostumados.

Este novo ambiente internacional vai exigir de cada nação democrática um esforço de mudança. Alguns países já estão caminhando para isso, como é o caso do Canadá, do México e da Alemanha, especialmente. Suas populações estão se reagrupando e superando as divisões internas para promover as mudanças que tornarão seus países mais resistentes às agressões dos Estados Unidos e às incertezas econômicas que o caos americano vai desencadear.

 

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O Brasil não vai poder evitar este desafio. Em caso contrário, além de perder sua identidade nacional, pode ainda perder-se na nova ordem econômica que vai se formar. Infelizmente, estamos mal preparados para esta tarefa, pois nos falta no momento lideranças com visão mais ampla e aberta do mundo, com coragem de unir e com uma grandeza que ultrapasse a vontade de poder.

Aqui a alternância de poder tem se dado entre símbolos e discursos sectários, na velha disputa de esquerda e direita. A política no mundo já superou esta antinomia. As vanguardas culturais capturaram os partidos de esquerda e de centro-esquerda com suas agendas identitárias e o excesso de regulação na economia. Com isso, eles perderam a lealdade dos trabalhadores e dos jovens. As direitas radicalizaram o discurso nacionalista e a luta contra as instituições, a cultura e as políticas de igualdade. Ambos se tornaram fatores de divisão.

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Os polos políticos brasileiros, com suas extravagâncias e seu apego ao passado não tem como organizar o Brasil e unir a sua população num projeto de resistência à desordem no mundo. O governo não consegue se livrar de sua dependência ideológica para opor-se aos interesses da comunidade autoritária. A oposição aprova cegamente tudo o que diz e faz o atual governo americano, inclusive as ameaças e as tarifas sobre as exportações brasileiras, numa forma original de patriotismo que não é verde-amarelo.

Lula e Bolsonaro não servem à construção de uma grande coalização democrática que una o país e lidere um novo plano estratégico que nos torne resistentes às incertezas da economia mundial. E que faça o Estado capaz de mais investimentos diretamente e em parceria com a iniciativa privada, nas áreas de infraestrutura e também de defesa, pois não poderemos enfrentar o novo mundo inteiramente desarmados, como somos hoje. A triste verdade é que não sobreviveremos como uma grande nação se não encontrarmos na política o centro perdido.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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