A magia está na arte de fazer com que simples transações se transformem em um momento de plena satisfação -  (crédito: Pixabay/Reprodução)

A magia está na arte de fazer com que simples transações se transformem em um momento de plena satisfação

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Enquanto a gente esperava o mecânico liberar o carro, eu e minha esposa nos dirigimos até uma padaria quase em frente à oficina. Ficamos surpresos ao entrarmos, pois, ela tinha características muito interessantes. Era bastante simples, com o caixa colocado no cantinho da saída, rodeada e repleta de balas de goma, pirulitos, pastilhas, isqueiros, fósforos, revistas, biscoitos, cortadores de unhas e diversas marcas de cigarros. Do lado de dentro, estava uma senhorinha simpática que logo deu um efusivo bom dia.

 

Diante desse cenário, e com um tentador aroma de pão fresquinho, resolvemos pedir um cafezinho e pão com manteiga. A atendente, toda paramentada, providenciou rapidamente nosso pedido, e perguntou se não queríamos um queijo ou salame dentro do pão. Ficamos somente no pão com manteiga e um café.

 

Enquanto comíamos, fomos observar os produtos expostos. Pudemos ver doces que pensávamos que não eram mais vendidos. Havia ainda uma grande variedade de balinhas, como as de leite, de gelatina, de frutas, caramelo, gengibre, e as deliciosas balas de café, todas vendidas individualmente. O esquema é um em que o cliente escolhe, enfia a mão no vasilhame e depois se dirige ao caixa para pagar, já saboreando algumas delas. Havia também o antigo e agora raro gira-gira-de balas.

 

Observamos que a quantidade de pão francês disponível era grande, mas, os clientes compravam muitas unidades. Refleti que a grande quantidade de unidades demandada por cliente se deve ao perfil de consumo das pessoas naquela região. A atendente comentou que há clientes que saem de casa todos os dias para tomar o café da manhã e o da tarde na padaria, num processo de intenso envolvimento de consumo.

 

 

 

Acabamos por pedir um pão de queijo que acabara de chegar e ser exposto na vitrine, na parte de baixo do expositor.

 

Depois de uma conversa, bem ao estilo mineiro com o pessoal, e até com alguns clientes, fomos, por fim, pegar o carro.

 

As padarias, armazéns e lojas antigas fazem parte do coração dos bairros, principalmente os mais tradicionais. É comum os proprietários conhecerem muitos dos clientes pelo nome e saberem com antecedência o que os clientes vão comprar.

 

Há casos em que o padeiro já separa o pão preferido do cliente regular antes mesmo de ele entrar no ponto de venda. Este fato raramente ocorre em grandes redes, que sonham com um poder maior de fidelização natural e duradoura.

 

Varejistas com décadas de existência muitas vezes se diferenciam por utilizarem receitas e métodos passados de geração em geração. Há casos em que a receita do bolo ou do pão é um segredo guardado a sete chaves. Essa tradição acaba por se tornar uma marca registrada, atraindo clientes que buscam autenticidade e qualidade.

 

A localização do ponto é determinante! Um local bem escolhido pode se tornar o ponto de encontro para o café da manhã e uma boa “conversa fiada”, funcionando quase como um centro comunitário.

 

Gosto muito de circular por algumas regiões de Belo Horizonte, que se caracterizam por manter velhos formatos de oferecimento de produtos e estilos de vendas. Posso citar alguns exemplos como a Rua Itajubá, a Aquiles Lobo, a Sapucaí, Mármore, e várias outras. Na Rua Alvinópolis, tem estabelecimentos comerciais que preservam um atendimento personalizado e uma atmosfera do passado.

 

Sou fã do Armazém São Vicente, que é um varejo clássico do bairro, conhecido por oferecer uma grande variedade de produtos, desde os alimentícios, bebidas, produtos de limpeza até artigos de utilidade doméstica. A loja mantém o charme das antigas mercearias, com uma atmosfera acolhedora - que, para muitos clientes, lembra o passado.

 

Vale citar também as ruas do Centro de Beagá, que concentram uma variedade de comércios clássicos.

 

Você pode me ver circulando pela rua Rio de Janeiro, Bahia, Caetés e outras, ou em bairros como o Padre Eustáquio e Santo André, onde aproveito para fotografar, pesquisar e conversar com vendedores e clientes. Considero isso uma fonte de aprendizagem de marketing, nascida direto da fonte.

 

No Mercado Central de Belo Horizonte, permanecem as características dos armazéns do passado. É um mundo à parte dentro da capital mineira. Com certeza os atributos de tradicionalismo são responsáveis pelo intenso movimento de pessoas locais e de turistas.

 

Foi uma agradável surpresa (e coincidência) entrar na padaria, enquanto esperava a entrega do carro, porque se transformou em mais um momento para analisar e registrar informações importantes.

 

A magia em pontos de vendas tradicionais está na arte de fazer com que simples transações se transformem em um momento de plena satisfação dos clientes e um ótimo negócio para os proprietários.