Em São Paulo, não há a polarização que marcou as eleições presidenciais de 2018 e 2022
 -  (crédito: Rubens Cavallari/Folhapress)

Em São Paulo, não há a polarização que marcou as eleições presidenciais de 2018 e 2022

crédito: Rubens Cavallari/Folhapress

Eleição municipal é um evento à parte. Não se conecta com as correntes de conflito no plano nacional. O que as afeta é o conflito local, entre oligarquias, Lira versus Calheiros em Alagoas, por exemplo. O eleitor tem o olho na água, na pavimentação das ruas, na moradia, no Posto de Saúde, no esgoto a céu aberto. Polarização? Pode ter, mas não essa de que falam e que marcou as eleições presidenciais de 2018 e 2022.


São as rivalidades locais, muitas históricas de mais de século, que polarizam. Em Barbacena (MG), o ex-prefeito, Martim Francisco Borges de Andrada, do tradicional clã dos Andrada, polariza com o prefeito atual, Carlos Augusto Soares do Nascimento. Em Maceió, JHC (sic) o candidato de Arthur Lira, presidente da Câmara, vencerá no primeiro turno. Reeleição municipal é regra, a menos que o prefeito tenha feito muita besteira. Seu rival, é o candidato de Renan Calheiros. Em São Paulo, não há polarização, Bolsonaro é uma biruta ao vento, não sabe se apoia o atual prefeito, Ricardo Nunes, ou o cacareco da vez, Pablo Marçal. Os que votaram em Bolsonaro se dividem entre os dois. Lula tem candidato, Boulos. É o PT que não está convencido.

 


Só vê a polarização de 2018 e 2022 nas cidades, quem acredita em lenda urbana. Em algumas cidades do Sul e do Centro-Oeste, sim, o confronto PT versus Bolsonaro aparece. Mas é minoria para confirmar a regra. Municipal é local, nacional é outra coisa. Em 82 municípios, o PL, suposto partido de Bolsonaro, está aliado ao PT partido que sempre foi de Lula. No Maranhão, há candidatos apoiados pelos dois em 22 municípios. É o campeão da conveniência política. No estado de São Paulo, PL e PT estão aliados em 12 cidades. Em Goiânia, Sandro Mabel, do União, está empatado com Adriana Accorsi, do PT. Mabel é o candidato do governador Ronaldo Caiado, da mais antiga oligarquia goiana e tem o apoio do MDB, seu histórico rival. O candidato do PL, não tem chance. Nem o do PSDB, do ex-governador Marconi Perillo. Bolsonaro foi a Goiânia e disse que Caiado foi covarde na pandemia, porque seguiu a ciência e não a ele Bolsonaro.

 

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Em Belo Horizonte, a eleição está embolada. Mas o candidato de Bolsonaro, Bruno Engler, está em terceiro lugar nas pesquisas e o candidato do PT, Rogério Correia, em quinto, de acordo com a pesquisa Quaest. Os favoritos nada têm a ver com a polarização de 2022, Tramonte, do Republicanos e o atual prefeito, Fuad, do PSD. No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) ruma para vencer no primeiro turno pelo caminho do meio, com o apoio de Lula. Parte do PT, ligada a Gleisi Hoffmann, apoia o candidato do Psol, Tarcísio Mota. O favorito de Bolsonaro, Ramagem, que só sabe falar — e mal — de segurança, até tenta polarizar. Mas ninguém fora da bolha extremista parece levá-lo muito a sério.

 


O longo parágrafo acima, mostra um pouco da geleia geral que virou a política brasileira com o ocaso dos partidos tradicionais. O MDB murchou. O PSDB caminha para a extinção. O DEM, ex-PFL, se extinguiu metido no invertebrado União. O PT enfrenta perplexo o depois de Lula. Não deve ser surpresa que, a seis dias das eleições, sejam tantos os eleitores Indecisos. Perguntei a Felipe Nunes, da Quaest, qual era a média dos que não têm candidatos nas respostas espontâneas nas cidades que pesquisou. É quando o entrevistado é perguntado se tem candidato e qual é ele. A média, a uma semana da eleição é 52%.

 

 


Nas 26 capitais pesquisadas pela Quaest, segundo O Globo do último sábado, 28, sete delas têm 50% ou mais de indecisos e 14 têm 45% ou mais de pessoas sem candidato. Das que têm candidato, a maioria ainda pode mudar. Em São Paulo, por exemplo, o percentual de eleitores que não estão comprometidos com sua escolha é de 53% dos que dizem preferir Guilherme Boulos que, de qualquer maneira, tem 36% de comprometidos. Para o prefeito Ricardo Nunes, o percentual de não-comprometidos é de 84%. São dados do Datafolha, mostrados pela Folha de São Paulo neste sábado. Só 37% têm muita vontade de votar este ano. Em seis capitais o prefeito não pode ser reeleito. Nas 20 restantes, o prefeito lidera nas pesquisas Quaest em 14, indicando a chance de reeleição em 70% das capitais.

 


A impressão que tenho é que o uso da mentira e da linguagem do ódio que fizeram a cabeça de muito eleitor nas últimas eleições, agora desencanta a maioria e apenas produz celebridades canhestras e efêmeras. Pode ser efeito da proximidade do eleitor local com problemas concretos que não cabem na bestialidade desse discurso negativista.