O mundo está na trajetória da catástrofe climática antes de meados do século. Não é alarmismo. É análise da diferença entre a redução necessária das emissões de gases do efeito estufa e o que já fizemos para ficar no aquecimento de 1,5° C do Acordo de Paris. Fizemos nada ou muito pouco.
Na semana passada, o mundo discutiu biodiversidade em Cali e o G20, em Washington, o clima. São temas indissociáveis. O PNUMA, lançou em Cali, na COP 16 da Convenção sobre Biodiversidade relatório afirmando que a distância entre o que se fez e o que era necessário aponta para um aquecimento médio global de 3,1° C, resultando em volume e gravidade de desastres associados ao clima para os quais não há adaptação possível.
Mas essa não é uma sentença irrecorrível. Temos condições técnicas e tecnológicas para evitá-la. Exigirá um grande esforço, por causa de nossa inação. No ano passado, o planeta atingiu patamar recorde de emissões, 57 gigatoneladas de CO2 equivalente, um crescimento de 1,3% sobre 2022.
Para evitar a catástrofe, é preciso diminuir 43% das emissões até 2030 e 57%, até 2035, para atingir a neutralidade de emissões, ou emissões líquidas zero, antes de 2050. Acelerando a transição energética, seria possível reduzir as emissões em perto de 30%, até 2030.
O desmatamento zero e o reflorestamento, anulariam mais 20%. Portanto, a redução das emissões hoje exigida do mundo ainda é factível, a um custo relativamente suportável. As exigências, o custo e a probabilidade de catástrofe aumentarão a cada ano de atraso.
Toda a tragédia climática do último ano, que provocou milhares de mortes e bilhões de dólares de perdas, em todo o mundo, não fez com que os países mudassem de comportamento. No papel, há políticas que poderiam dar certo, mas, os resultados concretos estão muito longe do prometido e do necessário. A prova está na elevação das emissões em patamar acima do crescimento médio de 0,8%, do período 2010-2019. A queda ocorrida na pandemia foi anulada com a retomada posterior, levando ao crescimento de 1,3% de 2023 e 2024 será igual ou pior.
Por isso, o presidente Lula estava certíssimo ao dizer em pronunciamento online na plenária do Brics, encerrada em Kazan, no final da semana passada, que “o planeta é um só e seu futuro depende da ação coletiva”. Afirmou caber também aos países emergentes fazer sua parte para limitar o crescimento da temperatura global em 1,5° C, como acertado no Acordo de Paris.
Disse que, ano que vem na COP 30, o Brasil vai demonstrar que aumentar as ambições das metas nacionais, as chamadas “contribuições nacionalmente determinadas”, NDCs, é compatível com o princípio das responsabilidades diferenciadas. É o que se espera, porque as NDCs, as metas voluntárias do Brasil até agora têm sido tímidas perto do que o país precisa fazer. Isto é verdade também para praticamente todos os países signatários da Convenção do Clima.
No G20, o Brasil inovou ao criar uma Força Tarefa para Mobilização Nacional contra a Mudança Climática (TF-Clima), reunindo os ministros do Meio Ambiente e da Economia dos países do grupo. No nosso caso, Marina Silva e Fernando Haddad. Mas, para liderar esse esforço, precisará resolver a contradição em seu próprio governo. Um pequeno exemplo, o BNDES apresentou na COP 16 um documento se comprometendo a ampliar o apoio a investimentos em biodiversidade.
Nele, alerta que já degradamos um terço do solo global e destruímos 85% das áreas úmidas e 50% dos recifes de corais do planeta. Enquanto isso, a presidente da Petrobras diz que recifes na margem equatorial da mazônia é fake news. A TF-Clima, em seu recente comunicado, se comprometeu a liderar ações estruturais em tempo para escalar a ação contra a mudança climática.
Os ministros do G20 reconhecem a urgência e a seriedade da mudança climática e se comprometem, também, com as sugestões da Revisão do Acordo de Paris, realizada em 2023, na COP 28, nos Emirados Árabes Unidos. As conclusões da revisão mostram o que falta para atingirmos os objetivos de combate à mudança climática.
Mas o problema é substância política. As decisões políticas mitigam o esforço real necessário para atingir as metas do clima prometidas nos acordos. O atraso é político. Em todos os comunicados, a preservação por prazo insustentável, do uso de petróleo e carvão busca conciliar clima e energia fóssil. Não dá para evitar o risco climático sem a rápida interrupção do uso de combustíveis fósseis. Metas só valem se os governos se empenharem em cumpri-las.