Outro dia uma leitora me indagou se eu não tinha medo de envelhecer ou de morrer, já que costumava ter uma visão tão positiva sobre ambos na Coluna. Ora! Claro que tenho! Tenho medo do declínio das minhas capacidades físicas, de uma possível dependência em relação a terceiros, de ter problemas de mobilidade ou cognitivos, de ficar sozinha, de não ter como me sustentar adequadamente, de perder autonomia e independência, de não existir, dentre tantos outros que poderia listar aqui e que certamente seriam quase universais.


Ainda assim, apesar das perdas e dos desafios, que são inumeráveis, o processo de envelhecimento e de morte não pode e não deve ser visto apenas sob tais prismas, já que eles também podem ser portas que nos oferece oportunidades únicas para a reflexão e o crescimento pessoal. Envelhecer não precisa ser sombrio, muito pelo contrário, deve ser um convite para avaliarmos o que realmente nos importa, o modo pelo qual gastamos o nosso precioso tempo e que tipo de sentido queremos dar para as nossas vidas.


Refletirmos sobre nosso envelhecimento e, consequentemente, sobre a nossa própria finitude, não é um exercício macabro ou de futilidade, ao contrário, é uma atitude de grande valor. Há inclusive uma corrente filosófica, o existencialismo que, grosso modo, afirma que é da mortalidade do ser humano que deve partir toda e qualquer reflexão sobre o homem. Seria com o sangue da morte na garganta, como dizem os poetas, que o ser humano conseguiria perceber o quão precioso é cada instante da existência.


Percebermos VERDADEIRAMENTE que os nossos dias são contados e que desapareceremos como subjetividade pode nos dar clarividência em relação a vários pontos; e ser a chama necessária para incitar grandes mudanças. De repente, os momentos comuns do dia a dia adquirem novos significados, nos convidando a viver de modo mais pleno, a amar de modo mais livre e a perdoar de modo mais fácil.


Se há algo que o envelhecimento e a morte nos ensinam é que os aspectos biológicos da nossa finitude são inegociáveis, ou seja, todos vamos envelhecer e morrer! E quanto melhor lidarmos com isto, melhor será. Mas é exatamente desta compreensão do “absurdo da vida”, como diria Albert Camus, é que surgem as oportunidades mais extraordinárias para contemplarmos as outras facetas do envelhecimento e da própria finitude.

 




Para não ter medo do envelhecimento e da morte, como quer a minha cara leitora, é essencial adotarmos uma perspectiva que transcenda o medo e a ansiedade associados ao envelhecimento e à morte, buscando encontrar beleza nas possibilidades que a ideia de ambos traz. Essa visão nos permite apreciar a vida de modo único, nos incentivando a acumular não apenas anos à nossa existência, mas qualidade e profundidade em cada momento que vivemos. Aceitando a inevitabilidade do envelhecimento podemos transformar o medo em gratidão pela oportunidade de envelhecer, o que pode nos fazer viver com mais intensidade e consciência.


Talvez a sabedoria esteja em reconhecer que, embora não possamos controlar o avançar da idade e a morte, temos plena autonomia sobre como escolhemos viver os anos que nos são concedidos. Isso significa que devemos viver segundo nossos princípios e propósitos! Se a gente entende assim, envelhecer não dá medo, ao contrário, se torna um caminho de transformação pessoal, onde as rugas, ao invés de incomodarem, se tornam testemunhas das histórias que construímos diariamente.

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