Quando estamos apaixonados, criamos um mundo à parte -  (crédito: Pixabay/Divulgação)

Quando estamos apaixonados, criamos um mundo à parte

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Em prosseguimento à nossa ode ao Amor, no artigo de hoje vamos falar sobre como a construção de um amor autêntico exige dos amantes mais do que a mera entrega, como acontece no caso da paixão. Quando estamos apaixonados, criamos um mundo à parte. É como se entrássemos em um estado de suspensão, isolados em um universo particular de sentimentos e percepções. É o momento do êxtase, do encontro e do frio na barriga. Em um segundo todas as nossas certezas parecem sumir e o mundo nos parece um lugar mais bonito e acolhedor.

 

 

Essa fase de encantamento, no entanto, é temporária. O ser humano não consegue viver nesse estado de euforia eternamente. Quando a paixão inicial inevitavelmente se esvai, há duas opções pra Eros: ou o fogo da paixão se extingue, deixando lições e memórias; ou então surge outra forma de relacionamento. Esta nova fase é menos mágica e muito mais laboriosa, pois marcada pela construção cotidiana e persistente da experiência do “Dois”.

 

 

O amor que resulta da paixão é mais exigente, eis que ele é uma verdade construída na experiência do dia a dia e não algo pronto. Esse trabalho envolvido na construção da relação à “Dois”, inscrita no tempo, nasce pelo milagre da paixão, mas só perdura pela construção de uma relação autêntica, que faz com que o casal crie uma dimensão que lhes é própria e que os separa do resto da humanidade.

 

 

Na construção de uma relação autêntica, os amantes experimentam um nível de compreensão mútua que transcende os gestos superficiais do cotidiano. Na laboriosa arte de amar, depois de passado o êxtase da paixão, os amantes iniciam o trabalho de se conhecerem de maneira profunda, compreendendo as angústias, as esperanças e limitações um do outro. Essa compreensão profunda, que o filósofo existencialista Heidegger chamou de Mitsein, significa “ser com o outro”. No caso dos amantes, seria uma coexistência onde cada um é parte do mundo do outro de maneira autêntica e não projetada.

 

Quando não estamos amando, nossas vidas muitas vezes se perdem em rotinas e convenções sociais que obscurecem a nossa verdadeira natureza. O mesmo não acontece com os amantes que, em sua autenticidade, conseguem transcender essas superficialidades e viver experiências que revelam, de fato, a profundidade do SER. Os momentos compartilhados entre os amantes têm um significado que vai além do mundano, criando uma realidade que é própria somente a eles, da qual o resto
do mundo está privado.

 

 

Assim, o amor autêntico se mostra não apenas como uma emoção, mas uma maneira de SER que envolve uma profunda conexão existencial entre duas pessoas. Os amantes autênticos não se amam apenas; eles se compreendem e se aceitam em suas forças e vulnerabilidades. Essa relação é uma forma de desvelamento, onde a verdade do SER de cada um é revelada na intimidade do relacionamento.

 

É nesse desvelamento que reside a força do amor autêntico. Ele não se contenta com as aparências, pois está em busca da essência. Os amantes se tornam cúmplices do processo de amadurecimento um do outro e enfrentam juntos os desafios e celebrações da vida. Obviamente que esse tipo de amor trabalhoso exige coragem, paciência e, acima de tudo, um compromisso sincero com a verdade um do outro, mas sem dúvida, não existe nada mais valioso do que ter ao nosso lado alguém que nos enxerga verdadeiramente e que, ainda assim, nos ama por quem somos e não por aquilo que projetou de nós, como acontece no caso da paixão.