Tom Hanks -  No celebrado papel em “O Náufrago”, o ator colocou a vida em risco ao buscar formas de se aproximar dos sentimentos do personagem Chuck Noland. 
 -  (crédito: Divulgação/ 20th Century Fox)

Tom Hanks no celebrado papel em "O Náufrago"

crédito: Divulgação/ 20th Century Fox

 

A origem exata da história que vou contar é desconhecida, mas acredito que sua lição permanece atemporal; ela nos ensina que o desconhecido pode ser um convite para mudanças que nem mesmo sabíamos que ansiávamos.


Certa feita apareceu em uma pequena ilha longínqua o corpo ainda com vida de um náufrago. Todos os habitantes da ilhota ficaram surpresos e confusos com a presença do inesperado visitante. Como a ilhazinha era muito distante, ela não recebia muitos turistas, de modo que o estrangeiro era razão de temor e êxtase entre os residentes. Ao mesmo tempo em que acreditavam que deveriam temer o náufrago; também acreditavam que ele representava a abertura para que algo acontecesse naquele lugar tedioso.

 


Narra a fábula que enquanto o náufrago se recuperava, os residentes da ilha o colocaram próximo a uma fogueira e começaram a confabular histórias a seu respeito. Alguns diziam se tratar de um marinheiro ou de um ladrão saído de algum navio; outros afirmavam se tratar de um santo, enviado pelos mares para auxiliar os moradores no entendimento das coisas sobre a vida. A verdade é que ninguém sabia ao certo o significado da presença do náufrago, o que todos perceberam é que aquele homem havia transformado a rotina da ilhota.


Dizem que o ferreiro da ilha, que tinha a passado a vida sonhando explorar o mundo, começou a repensar a vida. Para ele, a visão do náufrago, um homem destemido que cruzava os mares, reacendeu o desejo de ver o mundo para além da pequena ilhota. Outros afirmam que os jovens, que antes tinham uma visão do mundo limitada àquele pequeno grupo de pessoas com as quais conviviam, repentinamente, abriram-se para a perspectiva de que havia um mundo novo a ser descoberto, para o qual o náufrago surgiu como um convite.


O que aconteceu é que enquanto os habitantes da ilha se ajustavam à incomoda presença do visitante, suas rotinas foram quebradas, de modo que as reflexões foram surgindo quase que automaticamente. O filósofo existencialista Martin Heidegger acreditava que a interrupção na nossa rotina pode acabar por despertar em nós uma consciência mais profunda sobre nosso Ser. O náufrago, em seu silêncio quase mortal, e com sua presença misteriosa, desencadeou nos moradores da pequena ilha uma reflexão sobre as próprias vidas.


Não é incomum que, imersos em nossas rotinas repleta de afazeres, acabemos por nos esquecer de questionar quem somos e o que realmente nos importa. Vivendo no automático acabamos deixando de lado a consciência que devemos ter sobre nossa própria existência. Na ilhota foi a presença do inesperado visitante que auxiliou os habitantes a deixarem a rotina e o automático da existência. Em nossas vidas podem ser muitas as causas que nos faz olhar para a vida com mais consciência e responsabilidade sobre a construção da nossa própria história.


Temos a tendência em acreditar que as surpresas e os desafios que a vida nos apresenta tem apenas aspectos negativos, no entanto, eles nos convidam a sairmos da nossa zona de conforto e vivermos uma vida autêntica. Quando somos obrigados a enfrentar o desconhecido, nos tornamos mais abertos à mudança e à transformação. A história do náufrago talvez nos mostre que o inesperado, embora assustador, pode ser aquele catalisador necessário para redescobrirmos quem somos e o que verdadeiramente importa. .