Foi no campo filosófico que Aristóteles nos ensinou, por meio da sua Ética a Nicômaco, que a Eudaimonia - felicidade ou florescimento humano - só é alcançada pela prática da virtude -  (crédito: AI/FreePik)

Foi no campo filosófico que Aristóteles nos ensinou, por meio da sua Ética a Nicômaco, que a Eudaimonia - felicidade ou florescimento humano - só é alcançada pela prática da virtude

crédito: AI/FreePik

Remonta a séculos a afirmação de que a Filosofia pode ser um manual prático para a vida. E isso faz todo o sentido, já que é na Filosofia que pensadores como Kant, Aristóteles e Stuart Mill discutiram longamente sobre o significado de se viver uma vida boa e justa. Foi no campo filosófico que Aristóteles nos ensinou, por meio da sua Ética a Nicômaco, que a Eudaimonia - felicidade ou florescimento humano - só é alcançada pela prática da virtude. E foi Sócrates, com a máxima “Conhece-te a ti mesmo” que nos introjetou o quanto o autoconhecimento e autodesenvolvimento são essenciais para se viver uma vida plena.


O objetivo deste pequeno artigo é apresentar, em poucas linhas, duas correntes filosóficas que andam muito em voga nos últimos tempos: o estoicismo e o epicurismo, e como eles podem nos auxiliar a viver uma vida mais plena. De um lado, o estoicismo, escola filosófica surgida na Grécia Antiga, pregava a busca da sabedoria e da virtude como os maiores bens da vida. Filósofos estoicos nos ensinaram que devemos aceitar o curso natural dos eventos, focando naquilo que podemos controlar e nos desapegar daquilo que está além do nosso controle. Para os estoicos a resiliência emocional é cultivada como prática da autodisciplina, autoconhecimento e racionalidade, elementos centrais na busca pela ataraxia (tranquilidade mental) e autarkeia (autossuficiência).

 


Além disso, os estoicos acreditavam que as emoções negativas como raiva, inveja ou medo surgem de julgamentos errôneos que fazemos sobre o mundo. Para viver bem, defendiam a prática contínua de reflexão filosófica e dos exercícios espirituais, como a meditação e o exame de consciência. Marco Aurélio, Sêneca e Epicteto, forneceram muitas orientações práticas sobre como aplicar os princípios estoicos na vida cotidiana. Para eles a paz interior e a verdadeira liberdade só são alcançadas quando adotamos uma atitude de aceitação serena e de cultivo da virtude.


Por outro lado, o epicurismo, fundado por Epicuro na Grécia Antiga, é uma filosofia que enfatiza a busca do prazer racional como o caminho para a felicidade. Epicuro definia o prazer não como indulgência nos prazeres sensuais ou excessivos, mas como ausência de dor e sofrimento, tanto físico quanto mental. Para ele, a verdadeira felicidade advém de uma vida simples, moderada e guiada pela razão. Os epicuristas valorizavam a prudência, a amizade e a reflexão filosófica como meios para se alcançar a atarexia (tranquilidade da mente) e aponia (ausência de dor corporal).


Os epicuristas acreditavam que muitos dos nossos medos e ansiedades, como o medo da morte e dos deuses, eram irracionais e poderiam ser superados pelo conhecimento filosófico. Eles ensinavam que, ao entender a natureza do universo e ao viver de acordo com os princípios naturais, as pessoas poderiam se libertar de desejos vãos e conquistar uma paz duradoura. Para Epicuro e seus seguidores o prazer era um estado de satisfação estável e contínuo obtido através da moderação e da contemplação, em vez de uma busca incessante por estímulos momentâneos.


Qual seria, então, o modo filosoficamente mais correto de se viver a vida? Embora a resposta definitiva escape a qualquer um de nós, é inegável que estavam certos os primeiros filósofos ao nos ensinarem que a filosofia pode ser um manual prático para a vida. Sua virtude não está apenas no pensamento abstrato, mas também no manejo da vida prática, já que ela pode nos ofertar instrumental valioso para enfrentar as incertezas e os desafios da vida em um mundo sem certezas morais e cada vez mais desencantado.