Os recentes debates sobre a idade do Presidente norte-americano, Joe Biden, e os pedidos para que ele deixe a corrida presidencial desse ano, levantaram nas redes sociais algumas questões sobre o etarismo. Inúmeros iminentes democratas e os meios de comunicação afirmam que Biden, aos 81 anos, não tem saúde e vitalidade suficiente para fazer frente à Donald Trump. Quando estamos debatendo isto não estamos falando só de política.
A experiência é, sem dúvida, obra do tempo. À medida que os anos vão passando, vamos acumulando conhecimentos e sabedoria que moldam nossa visão de mundo e a capacidade que temos de tomar decisões. No entanto, o tempo também traz consigo limitações físicas e, por vezes, cognitivas. O grande paradoxo da idade é que, quanto mais sábios nos tornamos, mais vulneráveis aos desafios com a saúde ficamos.
Biden, com sua longa carreira política, tem muita experiência acumulada, e isto faz com que consiga se sair relativamente bem em seu desempenho nacional e internacional, apesar de não lhe faltarem críticos. Essa experiência é um recurso inestimável, especialmente nos tempos de crise, como os nossos. Contudo, no caso específico de Biden, parecem legitimas as preocupações sobre sua capacidade para lidar com as demandas físicas e mentais que o cargo de presidente da república dos EUA requer.
É preciso ter em mente que a Medicina geriátrica avançou muito nos últimos tempos, e não é simplesmente por alguém ser um octogenário que significa necessariamente que suas capacidades físicas e mentais estejam reduzidas. É preciso uma séria investigação sobre a saúde do idoso e as implicações que a idade lhe trouxe; e isto é diferente em cada pessoa, a depender do estilo de vida que levou e da genética. Não é apenas a idade cronológica que determina a capacidade de um indivíduo, mas sim a sua reserva funcional, que significa a capacidade de lidar com eventos adversos novos, tanto na saúde quanto na vida prática.
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O etarismo, ou discriminação baseada na idade, é um tema complexo. No contexto político, ele pode se manifestar tanto contra os jovens quanto contra os mais velhos. Na situação de Biden, a preocupação com a sua idade pode ser vista como uma tentativa de garantir que o candidato mais apto, em termos de saúde e energia, seja o candidato democrata. No entanto, essa preocupação pode facilmente escorregar na discriminação, desvalorizando a contribuição que os indivíduos idosos podem oferecer para a sociedade.
No caso do Partido Democrata, a busca por renovação reflete um desejo de incluir novas ideias e lideranças. Contudo, essa renovação não deve ser confundida com a completa rejeição ao passado ou às experiências acumuladas das pessoas mais velhas. Um líder deve ter a capacidade de integrar aquilo que os idosos têm a oferecer com a inovação e a adaptabilidade. A questão, então, não é apenas se Biden é velho demais para liderar, mas se estamos, como uma sociedade que valoriza excessivamente a juventude, preparados para aprender com a sabedoria que o tempo traz, integrando-a com a renovação e a adaptação às novas realidades políticas.
As preocupações sobre a idade de Biden, embora não sejam explicitamente etaristas, refletem tensões entre o papel da idade na liderança, não apenas política, mas em todos os níveis. A experiência e a sabedoria de Biden são inegáveis, mas as demandas físicas e mentais do cargo de presidente e as expectativas de uma base eleitoral diversificada trazem à tona a complexidade de um tema, para o qual não há uma resposta pronta.