A verdade é que todos nós cometemos erros ao longo da vida, e é exatamente nesses momentos que mais precisamos de compaixão e apoio -  (crédito: Pixabay/Divulgação)

A verdade é que todos nós cometemos erros ao longo da vida, e é exatamente nesses momentos que mais precisamos de compaixão e apoio

crédito: Pixabay/Divulgação

Rubem Alves nos conta uma fábula que se passa em uma aldeia na qual, em vez de criticar ou punir uma pessoa que cometia um erro, os moradores adotavam uma abordagem compassiva e solidária. Quando alguém fazia algo equivocado, a comunidade se reunia em um círculo, com o indivíduo no centro, e cada membro da aldeia falava sobre as qualidades e virtudes do infrator, reforçando o quanto ele era valorizado por eles. A prática tinha como objetivo fortalecer a autoestima e o senso de pertencimento do indivíduo, ajudando-o acrescer e melhorar com base no amor e na aceitação, em vez da punição e da vergonha.

 

Em sua obra O Ser o e Nada, Jean-Paul Sartre, argumenta que a existência é anterior à essência. Isso significa que os seres humanos primeiro existem e, ao longo da sua vida, criam sua essência por meio de suas ações, escolhas e relações. Ou seja, ao contrário do que alguns defendem, para Sartre a nossa essência é algo construído, e não algo dado como um fato. E mais importante, o autor também defende que nós temos a capacidade de transcender nossas circunstâncias e criar novas essências através de nossas escolhas.

 

 

Ao valorizar as qualidades e não os defeitos do infrator, a comunidade retratada por Rubem Alves, permite que o sujeito reavalie suas ações e entre em contato com a sua essência. Quando a comunidade escolhe reconhecer as virtudes e as qualidades do indivíduo, ela está incentivando-o a enfrentar sua vida de modo mais autêntico, promovendo um ambiente de reconhecimento mútuo, no qual cada indivíduo é valorizado e encorajado a crescer. E como nossa identidade é, em parte, criada através das interações que temos ao logo da vida, esta comunidade em especial, compreendeu o quanto o ambiente social pode nos moldar de maneira positiva.

 

Muitos de nós acredita que devemos punir severamente aqueles que erram, no entanto, algumas vezes o que aquele que violou as regras deseja é apenas acolhimento e reconhecimento de suas qualidades que, até mesmo para ele, podem estar turvas ou encobertas. O que a fábula sugere é que em vez de nos concentrarmos nos erros e nas falhas, devemos valorizar e destacar os aspectos positivos da pessoa.

 

A compaixão e o acolhimento têm o poder de transformar vidas. Em vez de criticar, na maioria das vezes, devemos reconhecer as qualidades e virtudes de quem erra, promovendo um espaço de apoio existencial. Esta abordagem não apenas fortalece a autoestima e o senso de pertencimento do indivíduo, mas também incentiva que os membros da sociedade sejam mais solidários. Ao valorizarmos o ser humano em sua totalidade, com suas falhas e virtudes, criamos um espaço no qual todos podem evoluir e transcender as circunstâncias.

 

 

A verdade é que todos nós cometemos erros ao longo da vida, e é exatamente nesses momentos que mais precisamos de compaixão e apoio. A linda fábula nos relembra que o reconhecimento das qualidades humanas são fundamentais para que possamos nos conectar com nossa essência genuína. Ao adotamos uma postura mais compassiva, podemos ajudar as outras pessoas a descobrirem seu verdadeiro valor e a viverem de forma mais autêntica. Em um mundo que frequentemente enfatiza a punição, a mensagem de Alves e Sartre é um verdadeiro convite para a construção de uma sociedade mais justa e empática, na qual o amor e a aceitação são os verdadeiros catalisadores do florescimento humano.