Na semana que passou, muitos de nós assistimos ao incidente ocorrido em um voo comercial, no qual uma administradora de empresa, chamada Jenifer Castro, se recusou a ceder seu assento na janela para uma criança. No vídeo, a administradora é filmada enquanto a mãe da criança a acusa de não ter empatia, já que sua filha estava chorando por querer se sentar no lugar que ela ocupava. A situação se tornou tema de discussões acaloradas nas redes sociais.
Imediatamente se tornou viral e a maior parte dos internautas apoiou a administradora, que ganhou mais de um milhão de seguidores em menos de dois dias, em apenas uma rede social.

 
O vídeo tinha a finalidade clara de constranger a passageira que não cedeu seu lugar à criança, no entanto, o efeito foi exatamente o contrário. O apoio que recebeu demonstra que devemos repensar questões como educação, limites e a maneira que ensinamos nossos filhos a lidarem com a frustração.
 

 

A empatia e a gentileza são fundamentais para uma boa convivência social entre estranhos, de modo que pequenos e grandes gestos de cordialidade são recomendáveis e necessários para uma convivência social harmoniosa. No entanto, tais gentilezas devem ser atos espontâneos por parte de seus praticantes, nunca objeto de coação. Como muitos internautas disseram, a mãe deveria ter se planejado melhor para que sua filha tivesse a experiência de se sentar perto da janela na aeronave, mas nunca ter exposto indevidamente alguém que estava no seu direito de se recusar a trocar de assento.

 


Em um voo comercial, que transporta estranhos, as regras são claras, o espaço é limitado e o convívio requer que respeitemos uns aos outros, para que todos consigam passar aqueles momentos de modo tranquilo. Os passageiros têm o direito de escolher, seja por investimento, preferência ou planejamento, aquele lugar que mais lhes parecer recomendável. Quando alguém pede para trocar de assento, ainda que de maneira aparentemente justificada, essa pessoa coloca o seu desejo acima do respeito mútuo que sustenta esse espaço coletivo.

Quando os próprios pais não conseguem impor limites aos seus filhos, satisfazendo todos os seus desejos, ainda que isto implique em passar por cima do direito dos outros, o ensinamento que é repassado é muito ruim. A criança começa a acreditar que todos devem estar dispostos a satisfazer suas vontades, assim como seus pais fazem. Essa postura, que certamente é motivada pelo amor, pode se mostrar muito prejudicial para a criança a longo prazo, tornando-a um adulto, muitas vezes, incapaz de lidar com as frustrações.

Educar um filho não é tarefa fácil e digo isso de cadeira, pois tive dois. Exige que às vezes tomemos atitudes que doem mais em nós do que neles, mas que são necessárias para a formação de um adulto. Talvez seja por temermos corrigirmos duramente quando é preciso, que tenhamos tantos adultos que acreditam que o mundo está à disposição deles. Limite é tão necessário quanto amor para a formação de sujeitos responsáveis.

A empatia é uma qualidade desejável e não é possível a nenhum de nós dizer categoricamente se a administradora não foi empática; ou se ela deliberadamente não quis ceder ao capricho de uma criança acostumada a ter todos os seus anseios satisfeitos. Talvez, a maior lição desse episódio, quem tenha que extrair seja a mãe, que precisa compreender que amar um filho é dar-lhe limites para que ele não passe a acreditar que todos estão dispostos a satisfazer seus desejos.

Não devemos culpar a criança, como muitos fizeram nas redes sociais, pois ela está ainda aprendendo a lidar com o mundo e tem como guias primários os pais. São exatamente eles que devem ensinar que nem sempre é possível conseguir o que desejamos, pois parte da vida em sociedade é respeitar o direito dos outros. No processo de educação, ensinar nossos filhos a aceitarem a frustração é essencial, já que ela é uma parte da vida que, se não trabalhada, forma adultos incapazes de lidar com o mundo.
 
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