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Quando o pensamento crítico é deixado em segundo plano corremos o risco de não sabermos distinguir fatos de opiniões
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Quem nunca conversou com alguém que parecia falar como um “especialista no assunto”, mas que, na verdade, se analisado mais de perto, não sabia com profundidade quase nada daquilo que estava dizendo? Principalmente na Era da Informação, com a proliferação de redes sociais, os tais especialistas vão se tornando cada dia mais numerosos. Eles acreditam dominar os mais variados assuntos e, muitas vezes, se apresentam como sábios, no entanto, poucos têm a profundidade necessária para sustentá-la.
Há um fenômeno social e cultural, que tem como pressuposto uma confiança excessiva no próprio conhecimento, muitas vezes baseados em leituras superficiais e consumo rápido de informações. O fenômeno é conhecido como Sofomania, que seria a tendência de uma pessoa em acreditar que possui um conhecimento superior daquele que realmente possui. Diverso do verdadeiro conhecimento, que exige de nós questionamento, estudo contínuo e reflexão, a sofomania se baseia na assimilação superficial de informações e na confiança exagerada nas opiniões pessoais.
Apesar de não se referir especificamente à sofomania, há um estudo da década de 90, conduzido pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger, no qual demonstram que, em regra, os indivíduos com menor competência em determinada área tendem a ser os que mais superestimam suas capacidades. Presos em uma espécie de adoração por si mesmos, muitos deles deixam qualquer senso crítico de lado e, acreditam que, por acessarem informações rápidas e fragmentadas, têm domínio de algo que, na verdade, não têm. Isso abre uma porta para a desinformação e para o enfraquecimento da cultura do pensamento crítico.
Depois de assistir a três ou quatro vídeos e ler alguns posts, muitos se acham plenamente capacitados para emitir juízos complexos sobre valores, pessoas, situações ou posições filosóficas, por exemplo. Com a democratização do conhecimento por meio da internet, houve também a propagação da desinformação, ou da informação parcial, travestida de verdade. O segundo caso é o mais comum no caso do sofomaníaco, pois ele realmente acredita que suas informações são suficientes, só que seu consumo fragmentado de informação, muitas vezes, foi feito deixando de lado a análise crítica e a reflexão.
Acumular informação até mesmo o mais simples dos computadores é capaz de fazer, o que distingue o homem de uma máquina é exatamente a sua capacidade de pensar criticamente, de se colocar no lugar do outro e de analisar detalhadamente cada item que lhe foi posto à mesa. Quando o pensamento crítico é deixado em segundo plano, isso em nome de algoritmos que beneficiam o conteúdo superficial, corremos o sério risco de que as próximas gerações percam a necessária capacidade de distinguir fatos de opiniões.
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Na chamada Era da Informação, a autoridade do conhecimento tem sido constantemente alvo de ataques, de modo que qualquer pessoa pode se posicionar como “especialista”, sem ter o devido preparo para isso. E, por mais que pareça absurdo, muitas vezes, opiniões sem embasamento ganham a mesma relevância social que análises criteriosas de acadêmicos e pesquisadores. Isso abre espaço para que os sofomaníacos atuem em estúdios repletos de luz e pouco rigor acadêmico, travestindo suas opiniões com os adornos de meia dúzia de autores que aprenderam superficialmente a citar.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.