Habituada a ouvir música brasileira desde a infância, Vânia Mignone diz que tem no Clube da Esquina uma de suas inspirações -  (crédito: Divulgação)

Habituada a ouvir música brasileira desde a infância, Vânia Mignone diz que tem no Clube da Esquina uma de suas inspirações

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“Geraes”, de Milton Nascimento, é um disco que tocava muito na casa da artista plástica Vânia Mignone, em sua cidade natal, Campinas (SP), quando era criança. Também os álbuns de Maria Bethânia, Chico Buarque, Djavan, Gilberto Gil, Gal Costa e Ivan Lins. A infância cercada de música, as aulas de balé na juventude e a faculdade de publicidade acabaram por moldar o trabalho artístico de Vânia, que abre sua primeira exposição individual em Belo Horizonte nesta terça-feira (7/11), no Palácio das Artes.

Intitulada “De tudo se faz canção”, a mostra, com curadoria de Priscyla Gomes, reúne na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard aproximadamente 70 obras da artista, produzidas ao longo dos últimos 10 anos.

“Quem pinta tem como referência os grandes pintores, mas o que eu tento colocar no meu trabalho é a emoção pulsante da música; É isso que eu quero que chegue ao público”, diz Vânia. A artista refuta a palavra “quadro”, referindo-se ao próprio trabalho apenas como pintura.

Em todas as obras o material empregado é tinta acrílica sobre madeira – algo que ela diz ter trazido da época em que trabalhava com xilogravura, quando começou a expor, há cerca de 30 anos. “Quadro”, para a artista, evoca uma ideia de realeza, por ser uma forma de expressão tradicional, antiga, canônica.

“Quando comecei a trabalhar com pintura, queria algo mais leve, que não trouxesse junto essa carga. O quadro tem a coisa da moldura, da assinatura na frente, e sempre quis que meu trabalho de pintura ficasse mais próximo de uma linguagem publicitária ou fotográfica, então tirei moldura, tirei assinatura e não trabalho com tecido, porque não gosto da maneira como ele responde. Gosto da forma como a madeira responde, mais extravagante”, afirma.


Empréstimo

A música inspira a produção de Vânia, mas não há relação direta entre uma obra e uma determinada canção. A MPB dos anos 1970 é a principal fonte em que a artista bebeu. O título “De tudo se faz canção” é emprestado de um verso da música “Clube da esquina nº 2” (Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges).

“É um trabalho de pintura, com uma essência que é da música e, ao mesmo tempo, afastado dos quadros tradicionais. São obras com cores fortes e muitas frases e palavras, o que se relaciona com as letras e com os ritmos da música popular brasileira”, diz. Ela avalia a produção musical dos anos 1970 como muito simples e, ao mesmo tempo, extremamente requintada.

A obra de Milton Nascimento, em especial, traduz isso de forma clara, conforme aponta. “Ele pega uma realidade do interior de Minas Gerais, a vida em uma fazenda, e transforma isso em algo universal. As expressões, as esperanças, as delicadezas do nosso povo, tudo isso transborda na música de Milton, junto com um certo mistério, que é da noite, dos campos, das florestas, o mistério que ele traz dos rincões do Brasil.”

“De tudo se faz canção” nasceu de um convite do Instituto Tomie Ohtake (SP). A maioria das obras que integram a mostra pertence a colecionadores, aos quais foram solicitadas pelo centro de arte paulistano. Algumas pinturas recém-saídas de seu ateliê também foram incorporadas ao conjunto.

“Foi uma exposição feita basicamente para aquele espaço, e funcionou muito bem. Quando veio o convite para levar para Belo Horizonte, eles novamente solicitaram as obras para os colecionadores e eu também fiz questão de colocar coisas novas, porque a produção não para”, pontua.

Ela considera “De tudo se faz canção” um “presente gigantesco”, pela possibilidade de poder ver reunidos e em perspectiva trabalhos que já estavam nas mãos de terceiros. “Mas o que me deixou mais contente em São Paulo foi a receptividade do público. As pessoas tiveram uma reação bastante eloquente”, afirma.

Ela aponta, além da música, outros elementos que caracterizam sua obra. “Gosto que meu trabalho fale de coisas brasileiras, da nossa realidade. É um trabalho de pintura que também tem muita influência da literatura de cordel, com elementos que são usados nessa forma de expressão e que trago para o meu trabalho, que não é arte popular, é arte contemporânea, mas que se vale dessas informações.”

“DE TUDO SE FAZ CANÇÃO”
Individual de Vânia Mignone. Trabalhos em pintura. A partir desta terça-feira (7/11), na Grande Galeria
Alberto da Veiga Guignard, do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro), com horário de
visitação de terça a sábado, das 9h30 às 21h, e aos domingos, das 17h às 21h. Até 21/1. Entrada franca.