Em 2019, a atriz Heloísa Périssé viveu o que chamou de pandemia particular. Diagnosticada com um tumor nas glândulas salivares, precisou fazer 33 sessões de radioterapia, cinco de quimio e uma cirurgia. Quando já estava se recuperando e planejando seu retorno ao trabalho, veio a pandemia, obrigando-a a ficar enfurnada dentro de casa.
Contudo, em 2021, apareceu uma chance para retornar aos palcos. A atriz recebeu um convite para apresentar o monólogo “E foram quase felizes para sempre”, em Portugal. Era a oportunidade perfeita de retorno. Mas havia uma questão: ela não queria apresentar um texto de 2013, mas sim algo inédito, que, de alguma forma, refletisse as dificuldades que atravessou nos anos anteriores.
Assim nasceu o monólogo de humor “A iluminada”, que faz sua estreia em Belo Horizonte nesta quinta-feira (9/11) e tem sessão também na sexta, no Cine Theatro Brasil Vallourec.
Com direção de Mauro Farias, marido de Heloísa, a peça é apresentada num formato de TED Talk, ciclos de palestras, na maioria das vezes ministradas por coaches de carreira, nos últimos anos. Realizadas em diferentes países do mundo pela fundação norte-americana Sapling, essas conferências tinham o objetivo de apresentar "ideias que merecem ser disseminadas", conforme propagava a organização.
Em “A iluminada”, Heloísa dá vida a uma dessas palestrantes, uma espécie de coach motivacional - personagem fictícia, cumpre dizer. Em cena, ela é Dorotéia das Dores, ou como prefere ser chamada: Tia Doro.
Não se trata de uma sátira ao TED Talk, garante a atriz. “Mas é um espetáculo que brinca com esse universo”, ressalta.
PALESTRA QUÂNTICA
A palestra de Tia Doro é, na verdade, um patamar acima dos colóquios feitos por coaches. “É um monólogo no qual a personagem faz uma palestra motivacional e quântica a fim de oferecer ao público uma forma inusitada de ver o mundo, vencer os medos e ter coragem. Ou seja, é uma palestra com base em questões nas quais não se tem o entendimento cartesiano”, explica a atriz.
Tia Doro não deixa de ser uma espécie de alter ego de Heloísa, embora com certos exageros que acabam distanciando a atriz da personagem. Sua maneira otimista de ver o mundo e encarar os desafios da vida em “A iluminada” têm certa afinidade com um discurso da própria Heloísa depois de ter superado a doença.
O monólogo, contudo, não é piegas. Todos os temas tratados (bullying, relacionamentos e a possibilidade de morte iminente), por mais carregados que possam ser, são abordados com humor.
A começar pela história da própria protagonista. Tia Doro é filha de uma excêntrica mulher que tem a habilidade de ver o futuro das pessoas não por meio da leitura das mãos, e sim pela leitura do ânus dos indivíduos. E, claro, o talento da mãe não é motivo de orgulho para Tia Doro. Com o passar do tempo, no entanto, a protagonista aceita a condição da mãe.
“Quando falamos dessa habilidade da mãe da Tia Doro, nós estamos nos referindo às nossas sombras. E o que a peça propõe é que a única maneira de lidarmos com essas sombras é jogando luz nelas. É preciso ter coragem para descer até as profundezas do ser (que nesse caso é o ânus), jogar luz nela e evoluir”, diz Heloísa.
Ainda que Tia Doro tenha começado a contar sua história de superação nos palcos em uma época bastante sugestiva, quando a atriz acabava de se recuperar de um tratamento de saúde agressivo e, por isso, tinha outro modo de ver o mundo; a personagem já existia - com características e histórias bem diferentes das que são apresentadas no monólogo, claro.
Há pelo menos 15 anos, Heloísa incorpora a coach para divertir os amigos em bastidores de gravações ou em ensaios de peças. “O bordão dela, que eu uso até hoje no espetáculo, é chegar para uma pessoa e perguntar se ela sabe meu nome. Quando ela responde: ‘Tia Doro’; eu digo: ‘Também te adoro, meu querido’”, conta.
De modo geral, “A iluminada” brinca com muitos temas, diz Heloísa. Entretanto, traz uma questão importante que é a necessidade de as pessoas mudarem a maneira de enxergar o mundo e a si mesmas. “Chegamos ao final do espetáculo agradecendo as sombras, que são as profundezas do nosso ser, porque, ao conhecê-las, nós podemos evoluir. Basicamente, é uma grande terapia”, conclui a atriz.
FÃ FAMOSO
Um dos maiores admiradores de Tia Dora foi o humorista Paulo Gustavo (1978-2021). Fã confesso da personagem, ele era uma das pessoas que mais escutava as falas motivacionais da coach interpretada por Heloísa Perissé. Foi ele quem presenteou a atriz com a peruca que ela usa na peça.
“A ILUMINADA”
Monólogo escrito e apresentado por Heloísa Périssé. Direção: Mauro Farias. Nesta quinta (9/11) e sexta, às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315, Centro). Ingressos à venda por R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), na bilheteria do teatro ou pelo site. Mais informações: (31) 3201-5211.