Dona Jandira se apresenta neste sábado, no Memorial Vale, dentro da programação do mês da Consciência Negra -  (crédito: Daniel Mansur/Divulgação)

Dona Jandira se apresenta neste sábado, no Memorial Vale, dentro da programação do mês da Consciência Negra

crédito: Daniel Mansur/Divulgação

Fonte de inspiração para outros artistas do cenário do samba em Minas Gerais, Dona Jandira se apresenta neste sábado (11/11), às 16h, no Memorial Vale. A alagoana de 84 anos canta composições de Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Tom Jobim e Paulinho da Viola, em show especial, que compõe a programação do mês da Consciência Negra.

“Eu tenho esse foco na música popular brasileira, nos clássicos, por causa da época. Mas faço um trabalho de resgatar e procurar coisas novas. Quando precisa, também canto músicas autorais, mais novas, com estilo diferente e tudo”, explica a artista.

Entre os trabalhos autorais da cantora estão “Dona Jandira” (2008), seu primeiro álbum de estúdio; e “Dona Jandira: Ao vivo” (2012), DVD com participações de Luiz Melodia, Paulinho Pedra Azul, Sergio Moreira e Marco Lobo.

Nascida em Maceió, em 1938, Jandira Célia cresceu em uma família musical, mas nunca teve a oportunidade de se dedicar ao talento. “Cantora desde berço”, como ela mesmo afirma, cantou na escola, na igreja e em festas da família, mas só teve a chance de viver da música apenas aos 64 anos, quando se mudou para o povoado de Itatiaia, em Ouro Branco, na Região Central de Minas.

Ainda no Nordeste, Dona Jandira se formou em pedagogia e foi professora por muitos anos. Sempre apaixonada pelo canto, costumava embalar canções para seus alunos e chamava a atenção pela sua facilidade de criar melodias e letras para as festas temáticas da escola.

Aposentada, passou a atuar como artesã e comerciante. Daí, surgiu a oportunidade de trabalhar em Minas Gerais e, em 1998, já com 60 anos, não exitou em se mudar para o pequeno distrito a 100km de Belo Horizonte.

BEM-TE-VIS DE MINAS

Lá, cultivava o hábito de tocar violão e cantarolar, quando teve seu talento descoberto por pessoas que passavam na rua. Entre os apaixonados pela voz da nordestina, estavam, novamente, crianças.

“Deus me mandou para um povoado em Minas Gerais e lá eu tive a oportunidade de criar um coral com a meninada local”, afirma Dona Jandira. Assim, foi criado o Bem-Te-Vis, o coral infantojuvenil de Itatiaia.

“Quando vi, eu era a única que estava dominando aquilo ali. Aí pensei: ‘eu não sou daqui, não conheço as pessoas bem, vou precisar me oficializar para conseguir levar o projeto para a frente’”, afirma a alagoana.

A ex-professora decidiu então recorrer à Ordem de Músicos do Brasil para obter a carteira da instituição, que permite que o profissional atue no mercado de trabalho de forma regulamentada por leis federais.

Como não tinha faculdade de música, Dona Jandira teve que se submeter a um exame de aptidão. Em meio a jovens, ela se destacou e, claro, foi aprovada. Na banca examinadora, uma pessoa, em especial, seria responsável por mudar a vida da cantora: o compositor José Dias Guimarães.

“Lembro que ele falou: ‘Nossa, mas a senhora canta tanto, por que não tentou há mais tempo?’. Expliquei tudo certinho para ele e 15 dias depois ele me ligou convidando para que eu fosse fazer parte da noite de BH. Não aceitei de pronto, porque me assustei, mas tomei coragem, fui e agora moro aqui até hoje”, afirma.


E a estrada continua...

Reconhecida como uma das vozes do samba de Minas Gerais, Dona Jandira se mostra acolhida pela receptividade mineira. “Eu costumo falar que isso é coisa de Deus. As instituições que têm responsabilidade sobre cultura, sobre música, sobre quem canta, enaltecem a situação e eu fico superfeliz, não tenho palavras para agradecer.”
Com 20 anos de carreira, a artista afirma que o tempo passou rápido e que ainda cultiva o desejo de continuar fazendo música. “Nem parece que tem esse tempo todo que comecei, parece que foi ontem”, afirma. “Eu pretendo continuar, ver o que fica melhor, procurar me adaptar. Gosto de muitos estilos de música, não somente de MPB, quero cantar muito ainda”, completa

Dona Jandira já cantou pelo Brasil afora e até em um festival em Portugal. São aproximadamente 400 shows feitos até hoje e o de hoje tem um sabor especial: precede seu aniversário de 85 anos, que serão completados na véspera de Natal. “Durante a minha criação, nunca fui a um show de rua. Hoje dou risada, porque a menina que não sabia o que era um palco profissional, chegou a fazer trabalho no exterior. Isso é uma coroação.”


DONA JANDIRA
• Show neste sábado (11/11), às 16h, no Memorial Vale (Praça da Liberdade, 640, Savassi).
Entrada gratuita. Retirada de ingressos uma hora antes do evento, na bilheteria do local.

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

 


Informações: (31) 3308-4000.