Filme é baseado no encontro de quatro pessoas, na cozinha da casa de uma delas; diálogos trazem à tona questões sobre a masculinidade e o machismo  -  (crédito: Globoplay/Divulgação)

Filme é baseado no encontro de quatro pessoas, na cozinha da casa de uma delas; diálogos trazem à tona questões sobre a masculinidade e o machismo 

crédito: Globoplay/Divulgação

Filme que marca a estreia do ator Johnny Massaro na direção de longas-metragens, “A cozinha” estreia nesta sexta-feira (17/11) na plataforma Globoplay. Produção independente, de baixo orçamento, custeada pela própria equipe de produção, “A cozinha” é uma adaptação da peça homônima, que cumpriu temporada no Rio de Janeiro em 2017 e nasceu como um projeto site specific, escrito por Felipe Haiut, que também integra o elenco, a partir de uma visita à casa em que Massaro morava na época.

 

Tanto na montagem teatral quanto no filme, Haiut divide a cena com Julia Stockler, Catharina Caiado e Saulo Arcoverde. Toda a ação se desenrola em um mesmo cenário – a cozinha que dá título à obra. A história gira em torno do reencontro de Miguel (Haiut), artista em crise, com Rodrigo (Arcoverde), um amigo de infância. As presenças inesperadas de Letícia (Julia), com quem Miguel teve um relacionamento, e Carla (Catharina Caiado), noiva de Rodrigo, instauram um clima de tensão.

 

 

 

Em meio a conversas banais e o resgate de memórias reprimidas, a hostilidade entre os quatro comensais aumenta quando Letícia questiona a sexualidade de Miguel. Haiut, que também responde pela produção do longa com Massaro, diz que o enredo tem algo de autobiográfico. Ele aponta que as questões que o filme aborda – sobre masculinidade, principalmente – já o vinham atravessando.

 

“Acho que as mulheres se perguntam há muito tempo o que é ser mulher neste mundo. Está passando da hora de a gente começar a pensar o que é ser homem neste mundo, com esse modelo de masculinidade construído a partir de um machismo estrutural, que vem sendo passado de geração para geração. São questionamentos que eu me fazia, então tem aí uma brincadeira com uma história pessoal, com situações que já vivi e com o que poderia ter sido”, afirma.

 

Felipe Haiut se recorda da breve e intensa experiência que a equipe vivenciou com a peça, em 2017. “Ficamos dois meses em cartaz na cozinha da casa do Johnny, no Humaitá. Era um projeto site specific, que escrevi para aquele ambiente. Foi uma proposta bem imersiva, onde a gente cozinhava mesmo, e chegamos a ter uma plateia de 50 pessoas dentro dessa cozinha, sentindo o cheio da comida. Já tinha ali algo de cinematográfico”, conta.

 

Gesto de sobrevivência

 

Haiut escreveu a peça pensando em Massaro como protagonista, mas ele foi escalado para a novela “Deus salve o rei” (Globo) e acabou não embarcando na empreitada num. A ideia de adaptar a história para o cinema só aconteceu com a chegada da pandemia, como um “gesto de sobrevivência”.

“Assisti a um curta que o Johnny dirigiu e achei que ele tinha mesmo uma assinatura como cineasta. Liguei dizendo que tinha feito uma adaptação da peça e perguntando se ele topava dirigir o filme. Naquele momento, sem nem calcular as dificuldades, a gente foi lá e fez, com zero dinheiro, num esquema de cooperativa dos artistas e de toda a equipe que chegou junto”, diz.

 

Massaro diz que a vontade de se aventurar na direção cinematográfica nasceu junto com a de ser ator, quando ainda era criança. Ele conta que ficava filmando, com uma câmara VHS, clipes protagonizados por seus primos. “Fui fazer faculdade de cinema e comecei a afinar essa coisa da direção. Era um foco que eu tinha no audiovisual. Quando tinha 18 anos, expulsei meus pais de casa para poder fazer meu primeiro curta. Depois fiz mais dois”, conta.

 

Ele se recorda do projeto de “A cozinha” em seu estágio embrionário. “Eu estava morando em um quarto alugado na casa de um amigo meu, imensa. Felipe, que vinha com esse projeto de peças site specific, com dramaturgias pensadas para arquiteturas já existentes, me fez uma visita e, pouco tempo depois, me apresentou o texto. Na época não pude fazer, mas o fato de eu ter uma relação com o projeto acabou me levando para esse lugar, atrás das câmeras.”

 

Ele conta que, depois de três meses de preparação virtual, amadurecendo o filme, toda a equipe se mudou – a partir do momento que os protocolos de segurança permitiram – para uma casa em Visconde de Mauá (RJ).

 

“Era um ambiente totalmente isolado. A casa em que a gente filmou era onde toda a equipe dormia. Era grande, tinha um teatro dentro, a natureza em volta e um rio próximo, então foi um momento muito especial, quando todo mundo pôde se reencontrar depois de um período de isolamento. A gente tinha a dimensão da delicadeza daquele momento, pelo projeto em si e por nós, unidos por um instinto de sobrevivência”, comenta.

Antes de chegar ao streaming, o fime foi exibido em festivais no Brasil e no exterior.

 

A equipe de “A cozinha” é formada por profissionais como o diretor de fotografia argentino Diego Robaldo; o produtor musical Arthur Braganti, indicado ao Grammy Latino por “Letrux aos prantos”; o desenhista de som Bernardo Uzeda, laureado no último Festival de Gramado; e a atriz Julia Stockler, protagonista do filme "A vida invisível", de Karim Aïnouz, vencedor do prêmio da mostra Um Certo Olhar, na edição de 2019 do Festival de Cannes. “A cozinha” ainda conta com a colaboração musical da cantora Alice Caymmi.

“A COZINHA”
Direção: Johnny Massaro. Com Felipe Haiut, Julia Stockler, Catharina Caiado e Saulo Arcoverde. Estreia nesta sexta-feira (17/11), no catálogo do Globoplay.