“Não se sabe se Kublai Khan acredita em tudo o que diz Marco Polo quando este lhe descreve as cidades visitadas em suas missões diplomáticas, mas o imperador dos tártaros certamente continua a ouvir o jovem veneziano com maior curiosidade e atenção”, escreveu Italo Calvino no seu clássico “As cidades invisíveis”, de 1972.
No livro, Marco Polo descreve ao imperador dos tártaros as cidades que visitou durante suas expedições. Contudo, são cidades que só existem em sua imaginação. São sempre incompletas e, de certa forma, incoerentes.
É com base nessas cidades que os fotógrafos Marcos Moreira, Paola Campos e Alfredo Tibúrcio encabeçaram o trabalho que deu origem à mostra “Cidades (In)visíveis: uma (re)leitura de Calvino”, que abre nesta sexta-feira (17/11) e fica em cartaz até 17 de dezembro, no Centro Cultural UFMG.
Expansão de significados
Com curadoria de Lilian Barbon, a exposição reúne cerca de 40 imagens que, nas palavras de Moreira, são verdadeiros experimentos fotográficos que associam as cidades aos temas que Calvino propõe em seu romance, como memória, desejo, símbolos e morte.
“Nós decidíamos um trecho do livro para ler e combinávamos de fazer as fotos com base nele”, conta Moreira. As imagens expostas, no entanto, não são 'puras', de acordo com o artista. Elas foram trabalhadas manual e digitalmente no intuito de serem apresentadas ao público como fotos híbridas para possibilitar uma expansão de significados e de possibilidades de interpretação.
“São muitas as maneiras de se criar uma fotografia híbrida”, diz Moreira. “Mas, no nosso caso, trabalhamos muito mais com a foto em cima da fotografia tirada. Também inserimos elementos digitalmente e fizemos sobreposição de imagens na própria câmera”, emenda.
Rio de lixo
Um dos exemplos dessa manipulação é “Sucumbência 2”, do próprio Moreira. Fazendo referência a Isaura, “a cidade dos mil poços sobre um lago subterrâneo”; Anastácia, “banhada por canais concêntricos”; ou Doroteia, cuja estrutura social “está ligada às suas pontes e aos seus canais”, todas do livro de Calvino; a foto de Moreira traz uma cidade de estrutura semelhante, mas com lago e canais poluídos. Na imagem, o rio onde desemboca um esgoto quase não tem água em função da grande quantidade de lixo acumulado.
Há também imagens que aludem a outras cidades do livro, como Diomira, cidade rica e iluminada; Otávia, “cidade teia de aranha”; ou Bersabeia, “onde gravitam virtudes e os sentimentos mais elevados”. Os cenários que dão vida a todas elas, porém, são Belo Horizonte e Florianópolis.
“Mas não estamos tratando dessas duas cidades”, afirma Moreira. “As fotos partem delas, mas o resultado transcende BH e Florianópolis, apresentando ao público outras cidades. Novas cidades.”
Se o público vai acreditar nessas “novas cidades” tal qual Kublai Khan, não importa para Marcos Moreira e os colegas Paola Campos e Alfredo Tibúrcio. A proposta da exposição, segundo ele, é que, assim como o imperador dos tártaros, as pessoas olhem as obras com maior curiosidade e deem maior atenção a elas.
“CIDADES (IN)VISÍVEIS: UMA (RE)LEITURA DE CALVINO”
Exposição com fotos de Marcos Moreira, Paola Campos e Alfredo Tibúrcio. Abertura nesta sexta (17/11), às 19h, no Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174, Centro). Mostra em cartaz até 17 de dezembro, de terças a sextas-feiras, das 9h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h. Entrada gratuita. Informações: (31) 3409-8290.
ATRAÇÕES NOS PALCOS DE BH
>>> “ENSAIO PARA A MORTE”
O espetáculo “Ensaio para a morte” ganha sessão única neste sábado (18/11), às 18h, no Centro Cultural São Geraldo (Rua Silva Alvarenga, 548, São Geraldo). Além de assistir à peça, o público poderá participar da oficina de teatro Narrativas da vida, que será realizada das 14h às 17h. A história retrata a saga de um ator e um diretor juntos em uma sala de ensaio teatral. Entrada gratuita.
Informações: (31) 3277-5648.
>>> “¡SOY CARMEN!”
Da Espanha a Belo Horizonte, o flamenco toma o palco do Teatro Ney Soares (Rua Diamantina, 463, Lagoinha), neste domingo (19/11), às 19h, com " ¡Soy Carmen!”, espetáculo de fim de ano da Casa Carmen, Escola de Dança e Centro Cultural. Inspirado no clássico de Bizet, a peça não é uma releitura da ópera, mas uma montagem na qual os dançarinos exploram suas personas “Carmen”, com música, baile, arte e presença flamenca. Ingressos: R$ 85, via WhatsApp (31) 98332-4331. Informações: (31) 2510-5503.
>>> “A SANTA DO CAPITAL”
Até 30 de novembro, a Cóccix Cia Teatral apresenta suas peças autorais, seguidas de rodas de conversa e oficinas de produção cultural e teatro. Neste sábado (18/11), às 19h, o grupo interpreta “A santa do capital” e, neste domingo (19/11), às 19h, “Pedaço de homem cercado de outro por todos os lados”, ambas no Centro Cultural Venda Nova (Rua José Ferreira dos Santos, 184, Jardim dos Comerciários). Em “A santa do capital”, a companhia mineira faz livre adaptação de “A santa Joana dos matadouros”, de Bertolt Brecht. Na versão moderna, a Cóccix ocupa espaços urbanos e oferece uma experiência sensorial para o público, enquanto aborda os impasses do capital. Entrada gratuita. Informações: (31) 3277-5533.