Grupo de Teatro Morro em Cena apresenta

Grupo de Teatro Morro em Cena apresenta "Filhas da Terra"; espetáculo trata da jornada de duas mulheres que migram do interior para a capital 

crédito: Ramom Oliveira/Divulgação

Com o cenário das artes cênicas aquecido, a agenda cultural de BH oferece, neste fim de semana, um cardápio sortido de produções, tanto locais quanto vindas de outros estados. Da cena local, constam as peças “Filhas da Terra”, do Grupo de Teatro Morro em Cena, e “Desimportâncias”, da Insensata Cia. de Teatro – ambas viabilizadas pelo edital municipal Novas Dramaturgias em Cena.

“Filhas da Terra”, em cartaz no Teatro Francisco Nunes, está na reta final da temporada, iniciada no último dia 16; já “Desimportâncias” estreia neste sábado (25/11), no Teatro Marília. Com direção de Herlen Romão, uma das integrantes do Morro Encena, fundado em 2009 no Aglomerado da Serra, “Filhas da Terra” propõe uma reflexão sobre mulheres que vivem ou viveram em situação de miserabilidade.

Um acontecimento fortuito foi o estopim para a criação da peça, segundo a diretora. Alguns anos atrás, antes mesmo de se formar em dramaturgia, Herlen estava em frente a um hospital, aguardando o resultado de exames, quando viu uma mulher se aproximar, vasculhar uma lixeira, tirar um pedaço de maçã e comer.

“Comecei a investigar essas pessoas em situação de rua, com uma vida muito difícil, degradante, especialmente para as mulheres, pela questão da higiene e da segurança, entre outras”, diz. Ela destaca que a montagem engloba fatores históricos, bem como busca refletir sobre questões sociais, com o vislumbre de um futuro melhor. Nesse sentido é um trabalho em consonância com o Mês da Consciência Negra.

A diretora explica que o enredo focaliza duas mulheres negras, do interior de Minas Gerais, que, diante das dificuldades, resolvem migrar para a capital. “Houve um grande êxodo rural na década de 1970, que acabou levando várias pessoas para as ruas dos grandes centros urbanos. O país vivia o dito 'milagre econômico', com ações orientadas por uma ideia de progresso, mas sem levar em consideração a miséria. Tem esse resgate histórico sobre o que afetou e vem afetando a população negra”, diz.


INFÂNCIAS

“Desimportâncias”, por sua vez, aprofunda uma pesquisa que a Insensata Cia. de Teatro vem desenvolvendo desde 2014, com foco nas infâncias. Em seus processos criativos, a trupe criada em 2009 percorreu um caminho de progressiva valorização do protagonismo do público e criação autoral, abrindo espaços para novas dramaturgias dedicadas aos pequenos, de forma a valorizar sua participação e coautoria.

O espetáculo tem orientação artística da pesquisadora Júlia Guimarães Mendes, dramaturgia baseada na obra de Manoel de Barros (1916-2014), direção, atuação e trilha sonora assinadas pelos próprios integrantes do grupo – Branda Campos, Cláudio Márcio, Dário Marques e Keu Freire. Os escritos do poeta mato-grossense delineiam uma atmosfera da qual emergem as memórias pessoais dos atores, que se tornam material para a cena.

“A partir de 2015, a gente começou a investir nessa vertente do teatro para as infâncias, com a montagem de três espetáculos que partiram de obras de Wander Piroli – 'Memórias de um quintal', 'Pru-ti-ti: memórias de estimação' e 'Chuá'. Foram criações coletivas, com dramaturgias autorais, que cumpriram um percurso do espetacular para o relacional. Começou a nos interessar esse lugar de convivência com o público. 'Desimportâncias' aposta ainda mais nisso, invertendo hierarquias”, diz Brenda.

Ela destaca que essa ideia se aplica à própria arquitetura do espaço, na medida em que a Insensata joga com a configuração cristalizada de palco e plateia. “A gente ocupa vários espaços do Teatro Marília, levando o público para o palco e nos deslocando pelo ambiente”, afirma. A peça conta com folhas, gravetos, terra, pedrinhas, flores, argila e outros elementos naturais que são combinados às provocações necessárias à criação de uma atmosfera relacional, na forma de brincadeiras tradicionais.

Dividido em duas categorias – Teatro Adulto e Teatro para as Infâncias –, o Edital Novas Dramaturgias em Cena, lançado em 2022, e que chega agora à sua segunda edição,
visa a atender “uma demanda por incentivo a novas dramaturgias e por temporadas maiores nos teatros”, de acordo com Paula Senna, diretora de Promoção das Artes da Fundação Municipal de Cultura.

“O edital dá a oportunidade de o grupo criar pensando naquele espaço específico, onde ele pode ensaiar e ficar em cartaz por um tempo maior do que se estivesse pagando o aluguel do espaço. Também representa a oportunidade de uma criação livre, com recursos investidos diretamente, sem a prestação de contas que as leis de incentivo exigem. É uma forma de valorizar os grupos da cidade”, aponta.

MAIS TEATRO

Moradores da região Oeste de BH recebem, neste fim de semana, a Circulação Ocupa Cóccix, com quatro exibições gratuitas de espetáculos produzidos pela Cóccix Cia. Teatral. Nesta sexta-feira (24/11), a nova montagem da trupe, “A velha Venda Nova”, será apresentada no Condomínio Esplêndido (Rua Berenice Ribeiro de Miranda, 700, Jardim Vitória).

Em seguida, a companhia leva a peça “Meu canto de graça” para o Condomínio Hibisco (Rua 2468, 15, Jardim Vitória), amanhã, e volta ao Condomínio Esplêndido com a mesma montagem no domingo (26/11). A Circulação Ocupa Cóccix é um projeto realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

 

>>> “A VELHA VENDA NOVA”
Com a Cóccix Cia. Teatral, nesta sexta-feira (24/11), às 19h, no Condomínio Esplêndido (Rua Berenice Ribeiro de Miranda, 700, Jardim Vitória). Entrada franca.

>>> “DESIMPORTÂNCIAS”
Com a Insensata Cia. de Teatro, neste sábado (25/11) e domingo, às 16h, no Teatro Marília
(Av. Alfredo Balena, 586, Santa Efigênia, 31.3277-6319). Ingressos a R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia), à venda pelo Sympla e na bilheteria do teatro, a partir de duas horas antes do início do espetáculo.

>>> “FILHAS DA TERRA”
Com o Grupo de Teatro Morro Encena, em cartaz nesta sexta (24/11) e no sábado, às 20h, e no domingo, às 19h, no Teatro Francisco Nunes (Av. Afonso Pena, 1.321, Centro – 31.3277-6325). Ingressos a R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia), à venda pelo Sympla ou na bilheteria do teatro, a partir de duas horas antes do início do espetáculo.

>>> “MEU CANTO DE GRAÇA”
Com a Cóccix Cia. Teatral, neste sábado (25/11), às 19h, no Condomínio Hibisco (Rua 2468, 15, Jardim Vitória), e no domingo (26/11), às 19h, no Condomínio Esplêndido. Entrada franca.