Julia Geiser explora a matéria-prima on-line, dando a ela novos significados -  (crédito: Julia Geiser/divulgação)

Julia Geiser explora a matéria-prima on-line, dando a ela novos significados

crédito: Julia Geiser/divulgação


Julia Geiser, jovem artista gráfica suíça que chama a atenção na internet com suas colagens, faz a primeira exposição no Brasil. “O corte e o fio” estreia nesta sexta-feira (24/11) em Belo Horizonte, na PQNA Galeria Pedro Moraleida do Palácio das Artes.

 

São 27 trabalhos – de capas de livros a prints em grandes dimensões. “Para quem acompanha o trabalho da Julia e o mercado editorial, é uma experiência bem diferente acessar as imagens em outro contexto, menos íntimo, sem contato físico direto e em diálogo com outras imagens”, afirma a curadora Daniella Domingues.

 

 

Em 2012, a artista gráfica, formada em design, iniciou o trabalho com colagem, marcado por forte linguagem visual. Ao espalhar suas imagens pela internet, Julia logo recebeu encomendas de ilustrações vindas de várias partes do mundo. O jornal alemão Die Zeit e a publicação inglesa The Economist são clientes dela, que trabalha há 10 anos com a editora mineira Âyiné.

 


Independência

 

É notável o caráter quase subversivo das capas criadas por Julia Geiser, sobretudo para os livros. As imagens se sustentam quase como obras independentes – conversam com o tema, mas não se submetem a ele.

 

“A ideia de como texto e imagem podem se complementar é muito interessante para mim”, diz a artista visual. “Pedro Fonseca (editor da Âyiné) me descobriu no Tumblr e me escreveu um e-mail. Passei dois anos trabalhando com eles sem nem sequer conversarmos por telefone, só por e-mail. Até que Pedro veio me visitar na Suíça. Hoje, comemoramos 10 anos de colaboração”, conta.

 

Cerca de 70 capas criadas por ela circulam no mercado editorial brasileiro. Como a sede da Âyiné fica em Belo Horizonte, foi feita a proposta da exposição para o Palácio das Artes.

 

“Julia Geiser trabalha com imagens históricas em diálogo com intervenções digitais contemporâneas, mas consegue equilibrar muito essas qualidades da imagem. Mesmo que estejamos falando de imagem que tem um grão fotográfico, uma textura mais pictórica e atmosfera de paisagem mais aérea, ela consegue conjugar distintas texturas e granulações de forma a criar imagens harmônicas e misteriosas”, comenta a curadora.

 

Figura feminina em colagem de Julia Geiser

Detalhe de colagem criada pela artista suíça Julia Geiser

Reprodução

 

A artista usa apenas imagens disponíveis na internet. Ela se considera uma “colecionadora de imagens”, viabilizadas pela digitalização. O voyeurismo on-line inspira Julia.

 

“Quando comecei, estava brincando com o photoshop e o material que encontrava na internet. Comecei a pensar sobre o que significa usar imagens que você encontra on-line. Elas vêm sem contexto e, muitas vezes, não têm autoria. Tratamos imagens e vários outros dados da internet sob a ótica da ideia de posse do mundo real. Porém, muitas vezes esta tradução não funciona para a internet”, afirma.

 

Em seu trabalho estão presentes elementos como a concretude e a tridimensionalidade dos corpos, o realismo e a interação entre animais, seres humanos, objetos e ambientes. Cores pouco saturadas e o granulado são características da obra de Julia, além de imagens históricas marcadas por intervenções digitais.

 

“Comecei a trabalhar com imagens históricas porque elas são de livre domínio. Fui desenvolvendo interesse pela estética delas. Temos a ideia de que imagens históricas, como as pinturas barrocas, por exemplo, são intocáveis, criações de gênios, e me interessa muito a ideia de desconstruí-las”, avisa a artista.

 

“O CORTE E O FIO”


Exposição de Julia Geiser. PQNA Galeria Pedro Moraleida do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). De terça a sábado, das 9h30 às 21h, e domingo, das 17h às 21h. Em cartaz até 14/1/24. Entrada franca. Informações: (31) 3236-7400.

 

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