A temporada 2023 da Filarmônica de Minas Gerais vai chegando à reta final. Com dois concertos, nesta quinta (30/11) e sexta-feira (1º/12), a orquestra encerra as séries Allegro e Vivace. As apresentações celebram os 125 anos de nascimento de George Gershwin, com as obras “Um americano em Paris” e “Concerto em fá”, cuja execução conta com a participação da pianista canadense Angela Cheng. O programa se completa com a “Suíte nº 1, op. 107”, do balé “Cinderela”, de Prokofiev.
Diretor artístico e regente titular da Filarmônica, o maestro Fabio Mechetti diz que a escolha das obras de Gershwin se justifica pelo fato de serem duas de suas mais importantes composições. Ele destaca que “Um americano em Paris” foi trilha sonora do filme homônimo, de 1951, estrelado por Gene Kelly, considerado um dos maiores musicais norte-americanos de todos os tempos.
“É quase um pequeno tema sinfônico, muito representativo dessa fase da vida de Gershwin, quando ele viajou muito à Europa e chegou a procurar Ravel para estudar com ele. Gershwin tinha uma relação forte com a música francesa”, aponta. Sobre o “Concerto em fá”, o maestro considera ser uma obra que se eleva por transitar em uma região limítrofe entre a música dita erudita e a dita popular.
CARÁTER FORMAL
“Trata-se de uma obra bem complexa. Gershwin tem as rapsódias dele, como 'Rhapsody in blue' e outras mais, mas essa peça tem caráter mais formal. É um concerto mesmo, que mostra essa linguagem específica do compositor, que parte da música popular e escreve uma obra tão sofisticada. Quis colocar esses dois aspectos da obra dele, que são complementares”, sublinha.
O “Concerto em fá” foi composto em 1925, um ano depois de “Rhapsody in blue”, obra icônica de Gershwin. Ambas foram motivadas pela mesma pessoa, Paul Whiteman, importante maestro de bandas, que incentivou o compositor norte-americano a trasladar seu trabalho de criação musical para o contexto sinfônico. Fiel às origens, Gershwin optou por um concerto que não sacrificava a linguagem jazzística que lhe era tão cara.
“Era autor primordialmente de canções, com linguagem mais próxima dos eventos cênicos, como os musicais da Broadway, mas sempre foi uma pessoa que buscou se aprimorar como músico, por isso essa história de ter procurado Ravel para estudar técnicas de composição. Ele entendia que precisava crescer como artista. O que define a obra de Gershwin é essa busca no sentido de construir uma carreira na música erudita, sem perder de vista sua base na música popular”, diz Fabio Mechetti.
PIANISTA ANGELA CHENG
O maestro observa que o compositor deixou um repertório sinfônico expressivo, inclusive com direito a uma ópera, “Porgy and Bess”, que, conforme aponta, reflete o ápice de sua sofisticação na seara da música de concerto, sem, no entanto, perder as raízes, a linguagem própria que vinha da música popular e folclórica norte-americana.
Sobre a participação de Angela Cheng como solista, o maestro destaca que ela é uma colaboradora de longa data da Filarmônica. “Trabalho com Angela há décadas e, inclusive, já tocamos esse concerto antes; é uma linguagem que ela domina muito. É uma pianista excepcional, uma grande musicista e uma pessoa muito simpática”, elogia.
Com relação à obra de Prokofiev, ele diz que foi incluída no programa como forma de buscar um contraste. Mechetti chama a atenção para o fato de que o compositor russo e Gershwin foram contemporâneos, mas vivendo em realidades completamente diferentes. “Prokofiev foi influenciado pela música norte-americana, pelo jazz, nos anos 1930 e 1940, então, nesse sentido, pode-se dizer que sim, há uma pequena relação entre eles, mas nada muito significativo”, ressalta.
DRAMA E INFORMALIDADE
O conto “Cinderela”, em sua versão original, que inspirou a composição de Prokofiev, é, de acordo com o maestro, uma obra “escura e dramática”, que não tem nada a ver com a história que os estúdios Disney tornaram popular. “O balé mostra esse lado mais dramático da história de Cinderela, o que é acentuado por ter sido criado em um contexto de guerra, entre 1940 e 1944; Começamos com essa carga de drama e seguimos para a informalidade da música de Gershwin na segunda parte do concerto”, explica.
A propósito do encerramento das séries Allegro e Vivace em 2023, Fabio Mechetti diz que o balanço do ano é muito positivo. “Reputo que a Filarmônica nunca esteve tão bem do ponto de vista técnico e artístico. Tenho certeza que é das grandes orquestras da América Latina. Posso afirmar que é o mais importante projeto sinfônico deste século na América Latina, mostrando tantos resultados em tão pouco tempo. Não tenho notícia de iniciativa similar no continente a partir dos anos 2000”, diz.
SÉRIES ALLEGRO E VIVACE
Concertos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, nesta quinta-feira (30/11) e sexta (1º/12), às 20h30, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090 – Barro Preto): Ingressos : R$ 50 (coro, terraço e mezanino), R$ 70 (balcão palco), R$ 90 (balcão lateral), R$ 120 (plateia central), R$ 155 (balcão principal) e R$ 175 (camarote), à venda na bilheteria local ou pelo site https://filarmonica.art.br/. Meia-entrada conforme a lei.