As primeiras óperas surgiram na Itália no fim do século 16, encenadas para a nobreza em salões palacianos. Desde então, encenações do gênero ficaram associadas às elites, ao luxo e à riqueza.
Propondo-se a mudar essa percepção, “Cabelos arrepiados”, montagem da amazonense Cia. Buia Teatro, chega ao CCBB-BH nesta quinta-feira (30/11) com o objetivo de apresentar uma opereta às crianças. Na trama, seis meninos e meninas que tiveram os sonhos roubados viajam ao mundo da imaginação para recuperá-los
“Estamos acostumados com uma hierarquia no olhar do adulto para a criança. O que apresentamos é o protagonismo das crianças. O espetáculo foi feito com a escuta delas a partir da inquietação, dos medos, da vida”, afirma o diretor Tércio Silva.
Com base no teatro de Brecht, “Cabelos arrepiados” propõe a relação próxima entre atores e espectadores. A opereta amazonense mescla teatro vivo e formas animadas com bonecos para explorar o imaginário infantil, criticando a infância presa à tecnologia.
“Nosso grupo tem mais de 10 anos de pesquisa em infâncias. O mote para este espetáculo foi explorar o perfil das crianças contemporâneas que não conseguem dormir porque estão conectadas na internet, em jogos e redes sociais”, explica o diretor.
“Trazemos temas importantes para as crianças. Falamos de fake news, destruição do meio ambiente, falta de diálogo dos pais, união entre irmãos. Fazemos isso para estimular a conversa em família”, comenta.
Os atores Roque Baroque e Gustavo Gutemberg interpretam Juca e Chico, respectivamente. Agitados e travessos, eles se inspiram em “Max und Moritz” (1865), do escritor alemão Wilhelm Busch. A dupla é guardiã dos sonhos infantis.
“Trazemos quase seres fantasmagóricos que, na verdade, são os senhores do sonho. Recebem o público e acompanham as crianças o tempo todo. Vão contando os sonhos para que elas possam vencer o medo e voltar a dormir”, explica. A narrativa recorre à música, por isso é uma opereta. Os atores cantam, dançam, tocam e fazem tudo ao vivo.
Guiadas por fantasmas, outras figuras importantes sobem no palco: Tico, boneco manipulado pelo elenco, Flora, interpretada por Magda Loiana, Cora e Clara, interpretadas por Maria Hagge, e Ciro, papel de Dimas Mendonça.
Inspirado no universo sobrenatural do cineasta Tim Burton e do escritor Edward Gorey, o visual do espetáculo foi pensado para despertar memórias afetivas em quem assiste a ele.
“Não copiamos figuras de nenhum dos filmes do Tim Burton, apenas criamos a estética a partir dos personagens. Utilizamos referências ao Edward Gorey, o ilustrador em quem o Burton se inspira. Reinventar também é beber das fontes em que ele bebeu, trazer isso para a nossa realidade”, conclui o diretor.
“CABELOS ARREPIADOS”
Espetáculo da Cia. Buia Teatro. Sessões às quintas, sextas e segundas-feiras, às 19h; aos sábados e domingos, às 17h. Em cartaz até 18 de dezembro. Teatro do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda no site www.bb.com.br/cultura e na bilheteria. Informações: (31) 3431-9400.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria