Roger Waters apresentou em Belo Horizonte tudo o que havia prometido e cumprido nas datas anteriores da turnê “This is not a drill” no Brasil. Mais de duas horas de show, clássicos do Pink Floyd, músicas da carreira solo, pirotecnia, recursos audiovisuais que complementavam letras das canções e esbanjavam os posicionamentos políticos do ex-baixista da banda inglesa. Também foram destaque os elementos que transcendiam o palco, como a iluminação alusiva ao disco “The dark side of the moon” (1973) e o porco e a ovelha infláveis, que voaram sobre as cabeças de cerca de 40 mil presentes no Mineirão, nessa quarta-feira (8/11). Tudo de acordo com o roteiro dos shows em Brasília-DF (24/10), Rio de Janeiro-RJ (28/10), Porto Alegre-RS (1/11) e Curitiba-PR (4/11). O artista britânico passa por São Paulo-SP neste sábado (11/11) e domingo (12/11).
Assim como nas cidades brasileiras em que Waters já havia se apresentado nesta turnê, o show em BH – que teve atraso de 20 minutos no início – começou com “Comfortably numb”, do álbum “The wall” (1979), mas que vem sendo executada com arranjos da versão revisitada em “The lockdown sessions”, disco solo lançado em 2022. Com Roger apenas nos vocais, a música teve participação efusiva do público. Era o prenúncio de uma catarse que viria poucos minutos depois, no medley de “The Happiest Days of Our Lives” e “Another Brick in the Wall Parts 2 e 3” que propiciou a maior participação da plateia na primeira parte do espetáculo.
Depois, o músico inglês emplacou duas músicas da carreira solo. Tanto “The powers that be”, do disco “Radio K.A.O.S.” (1987), quanto “The bravery of being out of range, de “Amused to Death” (1992), tiveram respostas modestas do público. Porém, enquanto eram destiladas sobre o palco, imagens de violência policial em países como Alemanha, República Tcheca, Inglaterra, Estados Unidos e Brasil e de presidentes norte-americanos com os rótulos de “criminosos de guerra” prenderam a atenção dos fãs.
Logo a seguir, a mais nova música do artista, “The bar”, teve Waters no piano. E foi com o retorno às músicas do Pink Floyd que ele voltou a “reinar”. Assim como em outras praças, o artista homenageou ex-companheiros de banda – o guitarrista e vocalista Syd Barrett (1946-2006), o tecladista e vocalista Richard Wright (1943-2008) e o baterista Nick Mason – por meio de imagens nos telões, enquanto “Have a cigar”, do álbum “Wish you were here” (1975) era apresentada. O guitarrista David Gilmour, que sucedeu Barret na banda, ficou de fora da homenagem.
Um tributo especial a Barrett se deu com “Wish you were here” e “Shine on you crazy Diamond”, outras duas do disco de 1975 e cantadas em uníssono pelo público. O encerramento da primeira parte do show veio com “Sheep”, de “Animals” (1977), com direito à ovelha inflável voando sobre o público. Imagens nos telões de ovelhas com uniforme de artes marciais e a palavra “resist” (resista) nas costas ampliaram a mensagem audiovisual que veio a seguir: “resista ao capitalismo, ao fascismo e à guerra”.
Depois de 20 minutos de pausa, Waters e banda retornaram para clássicos. Em “In the flesh” e “Run like hell”, mais duas de “The wall”, o porco inflável apareceu. “Déjà Vu” e “Is this the life we really want?, ambas de Is this the life we really want? (2017), disco da carreira solo do multi-instrumentista, tiveram reação morna da plateia.
Entre os destaques da banda de Waters estavam o guitarrista Jonathan Wilson, o saxofonista Seamus Blake e as vocalistas Amanda Blair e Shanay Johnson. Com o “charme musical” de cada um deles, o icônico The dark side of the moon (1973) foi representado por “Money”, “Us and them”, “Any colour you like”, “Brain damage” e “Eclipse”, seguido por “Two suns in the sunset, última faixa de "The final cut” (1983), uma homenagem a Bob Dylan, a esposa (Camilla) e o irmão (John) de Waters e o encerramento com “Outside the wall”, também de “The wall”.
Após cinco anos desde o show da turnê “Us + them”, Roger Waters voltou a saciar seus súditos.