Não é estranho que uma produção de Hollywood ganhe uma sequência. No entanto, poucos filmes recentes carregam tanta história de fundo – dentro e fora das telas – como "As Marvels". O primeiro filme exclusivamente feminino da extensa franquia de super-heróis da Disney, em cartaz nas salas de cinemas de BH, não só acontece após as 32 obras cinematográficas anteriores da Marvel, mas também retoma a trama de duas séries de TV.
Brie Larson, que interpreta Carol Danvers em "Capitã Marvel", recebe Monica Rambeau (Teyonah Parris) e Kamala Khan (Iman Vellani), que estrearam nos seriados da Disney+, respectivamente, em "WandaVision" e "Ms. Marvel". As três super-heroínas decidem unir forças depois que uma falha técnica as obriga a trocar de corpo involuntariamente toda vez que usam seus superpoderes.
BATALHAS EXTERNAS
Tais complexidades não são novidade nos filmes da Marvel, mas alimentam o crescente medo de que a audiência desenvolva uma "fadiga de super-heróis". A Variety chegou a descrever o desafio de estar em dia com as franquias como um "dever de casa".
A diretora Nia DaCosta conta que a dificuldade do filme estava em atingir equilíbrio entre explorar as histórias de fundo das mulheres e avançar para novas e malucas aventuras no espaço sideral. "Tentamos focar em honrar suas histórias", disse. "O que precisamos ver nesta próxima fase para todos os personagens? e como equilibramos isso?", indagou.
Fora das telas de cinema, "As Marvels" também enfrentaram batalhas difíceis. A obra precisou passar por quatro semanas de refilmagens e o lançamento foi adiado diversas vezes. Nos bastidores surgiu a versão de que o chefe do estúdio Marvel, Kevin Feige, havia assumido as rédeas. Novamente, a Variety chegou a publicar uma reportagem alegando que DaCosta havia abandonado o filme durante a fase de pós-produção.
A diretora desmentiu e falou à reportagem, na primeira pessoa do plural, sobre o longa. "Encontramos" (a diretora e a produção) a maneira de equilibrar os vários elementos da história do filme enquanto "desenvolvemos o filme" e "continuamos com o processo" de pós-produção, afirmou.
"Como qualquer outro filme, que talvez não tenha programas de televisão e filmes anteriores, a história é sobre três personagens que se unem, se encontram e se conectam pela primeira vez", disse a produtora, Mary Livanos.
ESTREIA DECEPCIONANTE
A greve dos atores de Hollywood, que terminou na última quarta-feira (8/11), impediu estrelas como Larson e Samuel L. Jackson de promoverem o filme. E embora "Capitã Marvel" (2019), estrelado por Larson, tenha arrecadado mais de US$ 1 bilhão (R$ 3,8 bilhões, na cotação de 2019) nas bilheterias, o filme sofreu ataques sexistas e um "bombardeio de críticas" nas redes sociais – um padrão repetido e amplificado com "As Marvels" e suas três protagonistas mulheres.
"As Marvels" teve a pior estreia da história entre as produções do Universo Cinematográfico Marvel com uma estimativa de US$ 47 milhões nas bilheterias dos Estados Unidos, conforme números divulgados ontem (12/11). Na estreia global, o filme arrecadou US$ 110,3 milhões, valor abaixo das expectativas para os 51 mercados onde estreou.
Com a baixa bilheteria nos EUA, a produção tira o recorde de menor estreia de "O incrível Hulk", de 2008, que arrecadou US$ 55,4 milhões, sem ajuste para inflação – a Marvel, que não era propriedade da Disney na época, fez parceria com a Universal para Hulk. A outra menor estreia do MCU pertencia a "Homem-Formiga", da Marvel-Disney, que arrecadou US$ 57,2 milhões nos EUA, na sua estreia em 2015.
Em análises feitas por veículos especializados dos Estados Unidos, como Variety e Hollywood Reporter, já era esperado que o filme fosse mal. A Marvel lançou nove filmes desde o início da pandemia e não alcançou a casa do bilhão com nenhum deles, o que alimenta a teoria de que existe mesmo uma "fadiga de super-heróis".
“AS MARVELS”
Direção de Nia DaCosta. Com Iman Vellani, Brie Larson e Teyonah Parris. Em cartaz em Belo Horizonte, nas redes Cineart, Cinemark, Cinépolis e Cinesercla.