O idealizador, os três roteiristas, a diretora, os apresentadores, os entrevistados e as figuras históricas evocadas na série documental “Resistência negra”, produção do Globoplay que estreia neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, são, não por acaso, todos negros. Idealizada pelo professor e babalaô Ivanir dos Santos, a atração conta, em cinco episódios, a história de luta do Movimento Negro no Brasil, desde a chegada do primeiro africano escravizado.

Apresentada pelo rapper Djonga, pela cantora e compositora Larissa Luz e pela atriz mirim Lua Miranda, a série tem direção-geral de Mayara Aguiar. Com texto de Grace Passô, Mariana Jaspe e Paulo Lins, e pesquisa de Jaqueline Neves, “Resistência negra” recupera os princípios fundamentais do Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba, criado originalmente em 1975 pelo compositor e ícone do Movimento Negro brasileiro Candeia.



No cenário de um barracão de escola de samba construído nos Estúdios Globo, a partir do simbolismo de quem se prepara para entrar na avenida, o trio de apresentadores conduz um resgate ao mesmo tempo dinâmico e lúdico da história do Movimento Negro brasileiro. Pela história desfilam expoentes como Zumbi dos Palmares, Emilia do Patrocínio, André Rebouças, Abdias Nascimento e Francisco José do Nascimento (o Dragão do Mar), entre muitos outros.

A produção também conta com a participação de figuras ativas do Movimento Negro atual, como as intelectuais Conceição Evaristo e Sueli Carneiro e a deputada federal e ex-governadora do Rio de Janeiro Benedita da Silva, além de jovens lideranças, como a deputada Erica Malunguinho e o pesquisador Julio Menezes Silva.

Autor do livro “Cidade de Deus”, em que se baseou o filme homônimo, Paulo Lins chefiou a equipe de roteiristas. Atualmente com 65 anos, ele conta que chegou ao projeto por um convite de seu idealizador, que conhece desde os 18 anos.

“Foi o professor e babalaô Ivanir dos Santos quem me levou para o Movimento Negro. Comecei a militar – para usar uma palavra bem própria para esse tipo de atuação – e nunca mais saí. Comecei a fazer literatura, depois televisão, e acho que por isso ele entendeu, agora, que eu seria a pessoa mais indicada para esse projeto. Já trabalho na Globo, fazendo séries, filmes, novelas, então é um ambiente com o qual estou familiarizado. E some-se a isso essa militância que já dura mais de 40 anos”, ressalta.

A SEIS MÃOS

Lins decidiu dividir o trabalho de escrita, e o primeiro convite foi a Mariana Jaspe. “Eu tinha trabalhado com ela num projeto sobre a história de Kehinde, do Luiz Gama, baseado no livro ‘Um defeito de cor’, da Ana Maria Gonçalves. Esse projeto, aliás, está aguardando o momento de acontecer”, diz. Quanto a Grace Passô, Lins explica que foi apresentado a ela e houve uma imediata sintonia de ideias. “Daí vieram as duas trabalhar comigo.”

A criação do roteiro foi ao mesmo tempo difícil e fácil, conforme aponta, já que era necessário dar conta de 523 anos de história. Ele ressalta que a resistência negra no Brasil existe desde que chegaram os primeiros africanos e africanas. Os três autores pensaram os tópicos que deveriam ser abordados, não necessariamente os mais importantes, mas aqueles que permitissem um diálogo com o tempo presente.

Essa formatação foi uma ideia de Rafael Dragaud, responsável pela supervisão artística de “Resistência negra”, segundo Lins. “Se colocamos um advogado do presente, que trabalha com a causa negra, espelhamos com um advogado do passado, que trabalhou com a causa negra, relacionando a luta na atualidade com a luta antes da abolição.”

A escolha dos personagens históricos que a série aborda ou das pessoas que dão depoimentos foi feita a partir dos temas. “Para isso foi muito importante a consultoria que Petrônio Domingues e Ivanir dos Santos deram, esclarecendo dúvidas que tínhamos sobre a história das pessoas negras no país. Eles estão no Movimento Negro desde que nasceram, então nos abasteceram com informações o tempo inteiro”, conta.

Lins espera que o principal impacto de “Resistência negra” sobre o público seja no que diz respeito à informação – uma lacuna histórica que precisa começar a ser preenchida, conforme aponta. “Nossa resistência, nossos heróis, nossa cultura, só emergiram pela luta do povo negro, só estão sendo revelados depois de muita luta do Movimento Negro”, destaca.

Ele diz que, por mostrar uma história que nunca foi devidamente contada, a série é revolucionária. “As pessoas exaltam a Princesa Isabel, mas quem escreveu a Lei Áurea foi André Rebouças, e ela só assinou por pressão. Para a gente, é muito mais importante o 20 de Novembro do que o 13 de Maio, porque a resistência negra começa com os quilombos”, afirma.

“RESISTÊNCIA NEGRA”

Série documental apresentada por Djonga, Larissa Luz e Lua Miranda, disponível a partir desta segunda-feira (20/11), no Globoplay.

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