Desde o último 29 de outubro, o Museu de Arte Contemporânea de Teerã exibe uma exposição que reúne mais de 300 obras de artistas de 15 países da América Latina, incluindo Quinho, chargista do Estado de Minas há quase três décadas.



Natural de Manhuaçu, na Zona da Mata mineira, Marcos de Souza Ravelli, o Quinho, viajou para o país do Oriente Médio.

O ilustrador atribui o convite para participar da mostra “Caricaturas e desenhos da América Latina”, feito pelo cartunista iraniano e idealizador da exposição, Massoud Shojai Tabatabai, a uma consequência de sua recente premiação no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em São Paulo, o maior evento nacional das artes gráficas. “É um dos salões mais respeitados do mundo. Acho que o convite surgiu daí”, observa.


CULTURA CHARGISTA

Ao lado do paulista Luiz Carlos Fernandes, ele decolou em 1º de novembro para representar o Brasil no Irã. Apesar de ter se planejado para o evento antes da eclosão da guerra que envolve Israel e a Palestina, Quinho diz não ter hesitado em fazer a viagem.

“Os planos de ir para lá surgiram durante a ocupação por Israel dos assentamentos na Palestina, mas o Hamas ainda não tinha respondido ainda com um ataque terrorista”, observa.

“Aceitei prontamente. Conhecia a história do Irã e sei como as coisas são por lá. Eu não tinha uma visão estereotipada, até mesmo pelo contato deles com o cartoon eu já conhecia um pouco da cultura persa”, afirma, citando a tradição do país com as charges.

O cartunista mineiro embarcou na oportunidade de conhecer um pouco mais da geopolítica do local, “e ver as coisas de perto”, nas palavras dele.

Ao longo dos cinco dias de estadia, visitou o tesouro privado do museu onde teve seus trabalhos exibidos (viu obras de Pablo Picasso, Magritte, Andy Warhol e outros); conheceu mais sobre a cultura persa e sua história; realizou workshop para estudantes de artes visuais. Também concedeu entrevistas para a TV local. Viu um país moderno e com grande riqueza cultural.

As charges do mineiro na mostra foram divididas entre as que abordam temas humanitários e outras que retratam celebridades. A maioria delas foi feita para publicação no EM.

Para o artista, um dos destaques é a ilustração que mostra a Palestina e duas fumaças saindo dos prédios, uma delas forma um soldado e a outra uma criança.

 

ARTE X GUERRA

“É uma visão impactante e que por coincidência teve a ver com o momento que está acontecendo, porque eu enviei os cartoons ainda antes da guerra. Acabou que se encaixou muito bem dentro do contexto”, comenta o artista, destacando que a exposição em questão é “mais sobre a arte do que relativa à guerra ou qualquer coisa assim”.

Quinho revela que a experiência está rendendo novos cartoons e charges que estão sendo publicadas no Estado de Minas. “Voltei de lá com uma carga bem melhor de conhecimento do que tá rolando, inclusive sobre a guerra e o papel do Irã nisso tudo. É uma história muito complexa”, afirma.

“É ódio gerando ódio e, no fim das contas, tem uma parte que quer paz, incluindo os cartunistas. Todo artista deve lutar por questões humanitárias. Nunca pela guerra e nunca pelo ódio”, acrescenta.

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

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