Em meados do século 18, a descoberta do ouro em Minas Gerais atraiu milhares de pessoas para a região de Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto. Neste mesmo período, a criação de centros urbanos fez com que a produção musical mineira se desenvolvesse com maior intensidade, sustentada pela generosa situação econômica local.

 

A produção foi intensa, mas, com o passar dos anos, muitas das obras que até então eram registradas apenas em manuscritos se perderam. Sendo assim, o novo projeto do Coral Cidade dos Profetas busca realizar o resgate de composições do período da Minas colonial.

 

O maestro José Herculano Amâncio conta que o interesse em estudar tais peças surgiu há cerca de 11 anos como forma de resgate de uma tradição familiar.

 

 Natural de São Pedro do Suaçuí, no Vale do Rio Doce, o regente herdou dos avós, nascidos por volta de 1880, o hábito de cantar e fazer música.

 



 

Em 1988, criou o Coral Cidade dos Profetas, grupo que em 2012 se apresentou com a Orquestra de Instrumentos da UEMG, no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. A partir daí, José Herculano conheceu o pesquisador da universidade Domingos Sávio Lins Brandão, estudioso de manuscritos mineiros produzidos entre os séculos 17 e 19, revitalizados por Chico Aniceto.

 

“Ele me contou que estava trabalhando com obras da cidade de Ipiranga, como a 'Missa de Suassuhy'. Desde então, fiquei com isso na cabeça”, conta José Herculano, que pediu para ver o trabalho assim que ficasse pronto.

 


ACERVO DE IPIRANGA

 

Apresentar composições sacras já é tradição no repertório do Coral Cidade dos Profetas, porém a possibilidade de lidar com acervo inédito foi uma novidade que mobilizou o interesse de todos os integrantes do grupo.

 

“Esse acervo de Ipiranga são partituras de 200 anos para cima, não se tem registro de sua execução. É um conjunto mais de 700 peças”, explica o maestro. “São músicas que ninguém ouviu, ninguém sabe se foram executadas. Então, para os dias de hoje, são inéditas”, observa.

 

Ao longo de dois anos e meio, o grupo se dedicou ao estudo deste acervo. Em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o coral teve acesso a obras – também inéditas – pertencentes ao Sistema Nacional de Orquestras Sociais.

 

“A partitura é um material que não tem vida, ela está dormindo. Você precisa lhe dar vida para ela cantar. Me empolguei muito com essa ideia e fomos estudando até fazer acontecer”, afirma José Herculano.

 

A recuperação, digitalização e revisão do material foram feitas pelas universidades. Já ao coral coube interpretar as partituras, a partir do que foi previsto no material pelo compositor.

 

O regente conta que um dos desafios encontrados foi conseguir dar forma a peças mais complexas sem nenhuma referência de execução. “A solução é estudar, estudar, cantar e cantar para poder aprender”, diz.

 

 


“MISSA DE SUASSUHY”

 

O resultado poderá ser visto em uma série de concertos que serão apresentados em Congonhas, Brumadinho e Itabira, cidades nas quais o coral irá cantar acompanhado de orquestra formada pela Família Barros e músicos convidados.

 

O espetáculo tem cerca de 50 minutos de duração e o repertório vai contar com 12 obras, entre elas “Ofício para quarta-feira de trevas”, de Lobo de Mesquita, e “Missa de Suassuhy”, de autoria desconhecida.

 

“Para mim, a música colonial mineira é o grande patrimônio imaterial de Minas. Ao fazer um resgate desse enorme arquivo, nós contribuímos para o enriquecimento desse patrimônio. Nosso objetivo é mostrar essa riqueza que está ali parada”, finaliza o regente José Herculano Amâncio.

 

"COLONIAL INÉDITO"
Concerto com o Coral Cidade dos Profetas, acompanhado de orquestra formada pela Família Barros. Estreia nesta sexta (24/11), às 20h, na Basílica do Bom Senhor Jesus de Matozinhos, em Congonhas. Outras apresentações: Brumadinho (26/11) e Itabira (3/12). Entrada gratuita. Informações: @coralcidadedosprofetas.

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

compartilhe