Em sua primeira década (2010-2019), o Polo Audiovisual da Zona da Mata, com sede em Cataguases, foi responsável por 30 grandes produções. O marco inicial foi “Meu pé de laranja-lima”, de Marcos Bernstein – o último longa rodado na região antes da pandemia foi “Órfãs da rainha”, de Elza Cataldo.

 


Nesta quinta (30/11), com a inauguração do AnimaParque, tem início a segunda fase do Polo. Com 10 mil metros quadrados na região central de Cataguases, o “estúdio escola” se dedicará à produção de animação.

 


São dois núcleos. O estúdio conta com ambientes para produção e pós-produção, áudio e trilhas sonoras, ateliês de cenografia, arte e figurino. Já o núcleo escola tem três salas de aula, auditório, laboratório, biblioteca e área expositiva. A edificação está localizada em um parque público, que poderá ser cenário tanto de sessões de cinema quanto de apresentações culturais.

 


“Muita gente filma aqui, o que ajudou toda a produção regional a se fortalecer, surgiram muitas produtoras. Em 2019, lançamos com a Ancine um edital com investimento regional de R$ 10,5 milhões. Para o interior do Brasil foi uma grande vitória. Sofremos com a pandemia e depois com o pandemônio”, comenta César Piva, diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento do Polo Audiovisual, referindo-se à paralisação do setor durante o governo Jair Bolsonaro.

 

 



 

 

"Ecossistema da animação"


O processo de transformar a região no que Piva chama de “ecossistema do setor de animação” é anterior à pandemia. As obras para o AnimaParque foram ocorrendo na “maré baixa” da produção audiovisual ocorrida nos últimos anos. Em 2022, mesmo com o espaço não finalizado, um grupo de estudantes passou a ter aulas ali.

 


Por meio de parceria com a Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), foi lançado o primeiro curso tecnólogo de cinema e animação. Com duração de dois anos, ele fechou sua terceira turma nesta semana.
“Metade dos estudantes é de fora, de BH, São Paulo, Rio, Brasília e até do Tocantins. A ideia é que os alunos aprendam fazendo. Com o mercado funcionando, a chance de se encaixarem numa produção é grande”, continua Piva.

 

Série "Cosmo, o cosmonauta", de Guilherme Fiuza, chega à TV em 2024

Polo Audiovisual da Zona da Mata/divulgação

 


O primeiro longa de animação já foi rodado na região: “Ana, en passant”, a estreia no formato da diretora Fernanda Salgado. Vai utilizar a rotoscopia – grosso modo, a técnica que transforma uma filmagem em live action (com atores e atrizes) em animação, feita quadro a quadro para produzir ação realista.

 


Produzida remotamente, mas com a participação de alunos do curso de animação, a série “Cosmo, o cosmonauta”, de Guilherme Fiuza, está em fase de finalização e deve chegar à TV no primeiro semestre do próximo ano.

 

Parcerias


Hoje, durante a inauguração, serão anunciadas duas parcerias. Uma com o realizador Erick Ricco para “A marcha dos girassóis”, primeiro filme em stop motion da região, que será realizado a partir do ano que vem. Haverá um núcleo de produção em Cataguases e outro em BH, pois o projeto será realizado também com o Grupo Giramundo.

 


A segunda parceria, a partir de 2024, será com César Cabral, da Coala Filmes, de São Paulo, para o longa “Pinguin tupiniquim”, em stop motion. Seu longa “Bob Cuspe – Nós não gostamos de gente” (2021) levou o Contrechamp Award no Festival de Annecy, na França, o maior evento de animação do mundo. Cabral terá um núcleo em Cataguases e outro no México, no Taller del Chucho, fundado por Guillermo del Toro, que lá realizou “Pinocchio”, vencedor do Oscar de animação deste ano.

 


“A partir do Fundo Setorial e da Lei Paulo Gustavo, a perspectiva é de que R$ 5 bilhões entrem no mercado em 2024, algo que nunca aconteceu na história do Brasil. A perspectiva é muito forte, o mercado está dizendo que pode haver mais de 500 títulos em produção no ano que vem”, afirma Piva.

 

 

O patrocínio principal do AnimaParque é da Energisa Minas Rio, por meio da Lei de Incentivo à Cultura de Minas Gerais.

 

Sala do AnimaParque, em Cataguases

Polo Audiovisual da Zona da Mata

 

Live action


O Polo de Cataguases voltou a realizar produções em live action. O primeiro longa rodado na cidade, ainda no final de 2021, foi “Zé”, de Rafael Conde, que já começou seu percurso no circuito de festivais. Em 2022, outro diretor mineiro, Marcos Pimentel, rodou ali “O silêncio das ostras”, ainda inédito.

 


Recentemente, o cineasta paraibano Marcus Villar terminou de filmar “A casa do elefante”. Outros títulos em curso são sobre dois filhos da terra: “Ary”, sobre Ary Barroso (o compositor é da vizinha Ubá), e “Maria Alcina – Alegria do Brasil”, sobre a cantora nascida há 74 anos em Cataguases.

 

Referência histórica

 

O espaço onde está localizado o AnimaParque, no bairro Guanabara, faz parte da história de Cataguases. No século 20, foi a antiga Casa das Máquinas do serviço municipal – mais tarde, sob o chapéu da Copasa, sediou os reservatórios de abastecimento de água da cidade.

 

Mais recentemente foi, por uma década, a sede do Centro das Tradições Mineiras, da Cia. Ormeo de Teatro e Dança Contemporânea e o Ponto de Integração das Artes – PINA, todos projetos coordenados pela Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho.

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