Eddie Murphy vive Chris Carver em

Eddie Murphy vive Chris Carver em "A batalha de Natal". Ator quer que o longa seja "um daqueles filmes que as famílias revisitam todos os anos"

crédito: PRIME VIDEO/DIVULGAÇÃO

É absolutamente improvável pensar numa situação entre Eddie Murphy e o franco-chileno Alejandro Jodorowsky, escritor, dramaturgo, cineasta, ator, mímico, tarólogo (e máquina de fabricar tweets), de 94 anos. Para muitos, ele é o último dos surrealistas. Pois foi o rei da comédia quem o apresentou à atriz Tracee Ellis Ross, consagrada pela série “Black-ish”.

 


Ele a colocou para assistir a “Santa sangre” (1989), um filme de horror de Jodorowsky. “Nunca fiquei tão perturbada na vida. Não dava para imaginar a quantidade de referências que Eddie tem sobre cinema”, comentou a atriz. Tal conexão foi revelada por Tracee durante a entrevista coletiva virtual de imprensa para o lançamento de “A batalha de Natal”, que estreia hoje (1º/12) no Prime Video.

 


Não deixa de ser engraçado pensar nisso, ainda mais levando em consideração que o longa que uniu Tracee a Murphy é um filme pipoca natalino. Mas nos Estados Unidos os “Christmas movies”, os filmes de Natal, são quase uma instituição – é só lembrar do clássico da era de ouro de Hollywood, “A felicidade não se compra” (1946), a produções posteriores como “Esqueceram de mim” (1990) e “Simplesmente amor” (2003).

 


Roteiro original

 

Com 47 anos de carreira, Murphy, de 62, queria ter seu próprio filme natalino. “Achei o roteiro original, vi que a história tem todos os elementos de um filme do gênero. Além disto, pensei que ele poderia se tornar um daqueles filmes que as famílias revisitam todos os anos”, explicou o ator.

 

Para o projeto, ele se uniu a um velho parceiro, o cineasta Reginald Hudlin, que o havia dirigido em “O príncipe das mulheres” (1992). A família Carver é o centro da história. Chris (Murphy) e Carol (Tracee) têm três filhos: Joy (Genneya Walton), a mais velha, que não quer de maneira alguma estudar na mesma universidade que os pais; Nick (Thaddeus J. Mixson), que sonha ser músico, mas está penando com a matemática na escola; e Holly (Madison Thomas), a caçula, grande companheira do pai.

 

A decoração natalina é outra instituição norte-americana, principalmente para quem vive nos subúrbios das grandes cidades. E Chris Carver é louco por isso, tanto que ele próprio cria os enfeites que tomam conta de seu jardim – sua birra é com o vizinho da frente, Bruce (Ken Marino), que vem vencendo sistematicamente os concursos de decoração da região com enfeites infláveis.

 

Pois às vésperas do Natal, Chris tem duas surpresas, uma ruim e outra boa. Perdeu o emprego. Mas nem tudo está perdido, acredita. Pela primeira vez, o concurso de decoração do bairro vai oferecer um prêmio em dinheiro para o vencedor: US$ 100 mil. Ele vê sua chance crescer depois de fazer uma compra em uma loja que desconhecia. Mal sabia ele que o local pertence Pepper (Jillian Bell), uma elfa para lá de maldosa que lança um feitiço nos enfeites de Chris.


Elfa desonesta

 

A menos de duas semanas do Natal, os bibelôs (na verdade, animais) ganham vida, causando estragos não só na família como em toda a vizinhança. Os Carver têm que se unir para tentar quebrar o feitiço. Nesta jornada, têm como aliados figuras diminutas falantes que integram as peças de decoração de Pepper.

 

“É um filme sobre amor e uma família que se une para derrotar uma elfa desonesta. E muitas luzes e efeitos especiais”, disse Tracee, logo acrescentada por Hudlin: “E tem também um pouco de medo. Me lembro de, quando criança, ao assistir ‘A rena do nariz vermelho’ (1964), fiquei apavorado.” A atriz logo completou: “Sim, no momento em que Jillian Bell aparece com aquele brilho estranho nos olhos ela realmente parece má.”

 

Do elenco infantojuvenil, somente Madison Thomas, de 11 anos, é estreante em cinema. “No primeiro dia de filmagem, eu estava nervosa porque não entendia o que estava acontecendo. Também não conhecia ninguém.” Para Hudlin, os três filhos do casal Carver tinham de ser extraordinários. “Eu disse: ‘Estou trabalhando com Eddie e Tracee, dois dos melhores, então essas crianças tinham que estar no mesmo nível, não era só uma questão de saber as falas. Era também ter capacidade de improvisação, como Miles Davis em ‘Kind of blue’, só que com piadas.”

 

Para Tracee, o mérito de todas as interpretações vem de Murphy. “Ele é hilário, mas o que torna todos ao redor dele também hilários é que como ator é muito generoso. As comédias dele, que adoro há tanto tempo, não se baseiam em apenas ser engraçado. A base está no real. Ele não fica tentando fazer com que você invente piadas, ele fica em cena brincando com você. É isso que torna tudo divertido e faz com que as coisas funcionem.”


Processo sensorial

 

Para Murphy, o grande complicador em “A batalha de Natal” foi a série de efeitos especiais. “Quando estávamos filmando as sequências você ouvia a voz de todos os personagens (criados por meio dos efeitos) do fone de ouvido. Sentia que não tinha controle. Então, tinha que imaginar que estava olhando para aquelas pessoas pequenas, conversando e improvisando. Foi como estar em um hospício, mas, ao mesmo tempo, foi um processo bastante sensorial.”

 

Falando sobre efeitos especiais, Hudlin fez um novo elogio a Murphy. “Sempre achei que Eddie tinha que ter ganhado um Oscar por ‘O professor aloprado’ (filme cheio de efeitos de 1996, em que o ator interpretou sete personagens), principalmente por causa das duas mulheres, que eram completamente diferentes entre si. Mas as pessoas sempre pensam: ‘Ah, mas é um filme de risadas. Não, ser engraçado é incrivelmente difícil, e ele foi pioneiro no estilo de atuação que até hoje não recebe crédito.”

 

Murphy devolveu os elogios à altura: “Na verdade, os diretores é que fazem os filmes; os atores só fazem parte da história. Um bom diretor guia o caminho de cada um de nós.”

 

“A BATALHA DE NATAL”


(EUA, 2023, 117min., de Reginald Hudlin, com Eddie Murphy, Tracee Ellis Ross e Jillian Bell) – O filme estreia nesta sexta (1º/12), no Prime Video