Paul McCartney mobiliza multidões em estádios, como nos velhos tempos, enquanto abraça desafios contemporâneos como a inteligência artificial -  (crédito: Mary McCartney/Instagram Paul McCartney)

Paul McCartney mobiliza multidões em estádios, como nos velhos tempos, enquanto abraça desafios contemporâneos como a inteligência artificial

crédito: Mary McCartney/Instagram Paul McCartney

 

Como medir a grandeza de uma estrela da música? Comecemos por sua obra, quão importante ela foi em seu próprio tempo e como sobreviveu à passagem dele. Juntemos também a trajetória deste artista para além da própria produção, sua relação com seus pares e com o próprio público, sua capacidade de atingir multidões. Façamos uma linha de corte e a resposta será uma só: Paul McCartney.

 


Artistas do rock que despontaram na década de 1960 atingiram recentemente os 80 e continuam na ativa, em estúdio e no palco: Bob Dylan (82), Mick Jagger, Roger Waters (ambos com 80) e Paul McCartney (81).


A força da música e da letra de Dylan lhe garante uma influência enorme, mas ele parece não dar a mínima para público e reconhecimento. Jagger não está só, tem Keith Richards e a máquina dos Stones. O melhor de Waters é sua produção com o Pink Floyd, banda que ele deixou há quase 40 anos. Paul McCartney? Para além dos Beatles, dos Wings, da carreira solo, parece imparável – não só nos palcos, diga-se.

 

 

 


“Got back”, sua nona passagem no Brasil, está carregada de significados. Além de ser uma temporada de shows extensa, com cinco cidades, a turnê termina no país – em 16 deste mês, no Maracanã. Em 1990, em sua primeira vez no Brasil, ele se apresentou no estádio carioca para 184 mil pessoas, até hoje o maior público pagante da história para um único artista. Ao final da temporada atual, terão sido 35 apresentações em 33 anos.

 


Por aqui, o clima é também de estreia. Em sua terceira passagem por Belo Horizonte, Paul McCartney pisa nesta noite pela primeira vez na Arena MRV. Serão 42 mil pessoas neste domingo (3/12), com ingressos esgotados. Será também uma noite para ver como o novo estádio vai funcionar com casa cheia, pois os shows lá realizados até agora estiveram longe de sua capacidade máxima. A apresentação de amanhã (4/12), vale dizer, é a única do restante da turnê com ingressos disponíveis.


Primeira grandeza

 

Ter grandeza vai muito além de vender milhões e encher estádios. E a chegada de Paul McCartney ao Brasil nos encheu de alegria uma semana depois de acompanharmos uma tragédia resultante do despreparo, desrespeito e ganância na temporada da cantora americana Taylor Swift no país.

 


Na terça (28/11), no Clube do Choro, em Brasília, com o show surpresa para quatro centenas de pessoas, celulares devidamente lacrados, ele fez o mais próximo do que devem ter sido as quase 300 vezes que tocou ao lado de John Lennon, George Harrison e Ringo Starr no Cavern Club, em Liverpool. Isso foi entre 1961 e 1963, sessenta anos atrás.

 


Duas noites mais tarde (30/11), no Mané Garrincha, permaneceu quase três horas em cena, desfiando um repertório de quase 40 canções. A noite no Clube do Choro, que teve estudantes de música na plateia, rendeu ainda 30 convites para outros alunos, da UnB e da Escola de Música de Brasília, que assistiram ainda à passagem de som no estádio.

 


Ser grande é também acompanhar o espírito do tempo. O lançamento, um mês atrás, de “Now and then”, a última canção dos Beatles, gerou discussões mundo afora em torno da inteligência artificial, um dos temas mais quentes da atualidade. Sem entrar neste mérito, só a existência de “Now and then” mostra que os Beatles, 53 anos depois de seu fim, continuam à frente.

 


“Got back” teve início em abril de 2022, a primeira turnê do pós-pandemia. No período de ausência dos palcos, Paul McCartney manteve-se em plena atividade. No final de 2020, lançou “McCartney III”, álbum que dá continuidade a seu projeto de iniciar uma década com um trabalho caseiro – foi assim com “McCartney” (1970) e “McCartney II” (1980). Como os anteriores, é despretensioso – e foi feito por ele sozinho, durante a quarentena.

 

Rick Rubin e Paul McCartney

Rick Rubin e Paul McCartney na série "McCartney 3, 2, 1"

Hulu/reprodução


Registro histórico

 

O período também o viu envolvido em alguns projetos audiovisuais, como a série “McCartney 3, 2, 1” (disponível no Star+), em que repassa sua trajetória desde os Beatles por meio de entrevistas com o produtor Rick Rubin. Mas não houve projeto mais importante do que a colossal minissérie “The Beatles: Get back” (2021, no Disney+), iniciativa capitaneada por Peter Jackson em que ele, Ringo Starr, Yoko Ono e Olivia Harrison assinaram como produtores.

 


Assistir às oito horas das filmagens que documentam os Beatles em meio à produção de “Let it be” (1970) serviu para mudar a maneira com que muita gente via McCartney (além de apresentar uma crônica do fim anunciado, já que a banda se dissolveu pouco depois). Mais de uma vez ele aparece em cena pedindo que os companheiros de banda levassem o trabalho seriamente.

 


Vê-lo criar a canção-título, se aprofundar em baladas ao piano e também a criar a introdução instrumental de “Let it be” (isso depois de uma reclamação de Harrison) nos lembrou que o lugar de grandeza onde Paul McCartney está, ainda hoje, não poderia ser de mais ninguém.

 

“GOT BACK TOUR”


. Neste domingo (3/12) e segunda-feira (4/12), às 20h, na Arena MRV (Rua Cristina Maria de Assis, 202, bairro Califórnia). Ingressos para amanhã à venda no site Eventim. Inteira: R$ 480 (cadeira superior), R$ 600 (nível inferior sul), R$ 780 (cadeira inferior leste e oeste), R$ 650 (pista) e R$ 990 (pista premium). Meia na forma da lei.


. A Arena MRV disponibiliza estacionamento, com reserva pelo site (parceiros.estapar.com.br), mediante pagamento de R$ 140 (carros e motos) ou R$ 160 (vans).


. Serviço de transfer oficial: R$ 100, com quatro ônibus saindo do Buritis (Av. Professor Mário Werneck, 1.911), Lourdes (Av. Olegário Maciel, 1.516), Savassi (Rua Alagoas, 626) e Belvedere (Rua João Antônio Azeredo, 301). O voucher deve ser adquirido pelo site go2events.com.br.