Jorge Paz interpreta o tratorista desempregado Raimundo Nonato, e Danilo Grangheia vive o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva -  (crédito: Disney/Divulgação)

Jorge Paz interpreta o tratorista desempregado Raimundo Nonato, e Danilo Grangheia vive o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva

crédito: Disney/Divulgação

Em 29 de setembro de 1988, um avião Boeing da hoje extinta Vasp saiu de Porto Velho (RO) com destino ao Rio de Janeiro, fazendo escalas em Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte. Na capital mineira, o maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, com 28 anos na época, embarcou sem dificuldades com uma pistola calibre 32 e 90 balas para recarregar a arma.

Aproximadamente 20 minutos depois da decolagem, Nonato anunciou que estava sequestrando a aeronave. Saiu de sua poltrona e caminhou em direção ao cockpit, atirou no comissário que estava no caminho e no copiloto, matando-o com um disparo na nuca. Em seguida, apontou a arma para o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva e o mandou seguir para Brasília. Seu plano era jogar o avião contra o Palácio do Planalto.

Para desequilibrar o sequestrador, Fernando Murilo colocou o avião de cabeça para baixo ao realizar um tonneau (manobra em que o avião dá uma volta completa ao redor de seu eixo longitudinal), mas não conseguiu mudar os planos de Nonato.

Por mais extraordinária que a história possa parecer, ela é real e inspirou o filme “O sequestro do voo 375”, de Marcus Baldini, que estreia nesta quinta-feira (7/12), nos cinemas.

ATO DE VINGANÇA

Na época do atentado, Nonato (que no filme é interpretado por Jorge Paz) tinha acabado de ser demitido da construtora Mendes Júnior, onde trabalhava como tratorista. O motivo do desligamento, conforme alegou para a polícia e para as cerca de 100 pessoas a bordo do avião, era a política econômica do então presidente José Sarney. O atentado, portanto, seria um ato de vingança.

A economia brasileira, com efeito, não ia nada bem. Naquele 1988, o desemprego oscilou entre 9% e 11%, e a inflação estava, em média, em 17,7% ao mês - em termos de comparação, neste 2023, a inflação tem girado em torno de 0,20% ao mês e a taxa de desemprego é de 7,7%.
}
O ato terrorista de Nonato só não foi para a frente, porque Fernando Murilo (Danilo Grangheia no filme), o piloto, conseguiu dissuadi-lo da ideia. Disse que não havia condições de visibilidade em Brasília e que o combustível já estava na reserva, o que o forçava a pousar em Goiânia.

Em solo, o sequestrador negociou por horas com a Polícia Federal e saiu do avião usando Fernando Murilo como escudo humano. Contudo, foi alvejado pela polícia com dois tiros na altura dos rins. Uma terceira bala atingiu o piloto na perna.

Nonato foi encaminhado para um hospital, passou por cirurgia de emergência e morreu de maneira muito suspeita dias depois. Segundo os médicos, a causa da morte foi anemia falciforme, sem relação com o fato de Nonato ter sido baleado.

“Desde quando começamos as primeiras conversas sobre o filme, uma das preocupações minha e da Joana (Henning, produtora do longa) era a de não fazer um personagem caricato”, afirma Baldini. “Porque, quando mostramos um cara que quer matar o presidente, isso, às vezes, acaba caindo numa coisa irresponsável que é a de possibilitar ao público interpretá-lo como um herói, quando, na verdade, ele iria matar mais de 100 pessoas”.

Nonato, de fato, é uma figura complexa. Não há registros de antecedentes criminais e há, inclusive, versões de que ele ajudava a mãe com as contas de casa e a criar a própria filha pequena, faceta do sequestrador que foi abordada no filme. Também não há controvérsias em sua vida profissional. Como tratorista, chegou a trabalhar em diferentes lugares do Brasil e até mesmo no Iraque, o que provavelmente não ocorreria com um profissional ruim.


INGÊNUO, CORAJOSO E INSTÁVEL

“Nonato era um cara difícil de compreender, alguém com muitas questões. Não foi um personagem fácil”, conta Jorge Paz. “Por isso procurei não me ater a rótulos: ele é um cara mau, ou um cara bom. Isso não existe. Ele, no meu ponto de vista, era um cara muito ingênuo de achar que aquilo ia resolver o problema do Brasil, mas muito corajoso para fazer aquilo e, o mais importante, acredito que ele não estava psicologicamente saudável”, avalia o ator.

“O sequestro do voo 375” teve orçamento na casa dos R$ 20 milhões, o que garantiu boa estrutura de filmagens, com a recriação do Boeing e detalhes da época no figurino e no cenário. Porém, os diálogos são repletos de clichês e os efeitos especiais, têm qualidade duvidosa.

O maior mérito do filme não é o de se posicionar no circuito como filme brasileiro de gênero, como vem se vendendo; e sim o de jogar luz numa história que mudou as ações de segurança nos aeroportos, mas vem caindo no esquecimento.

“O SEQUESTRO DO VOO 375”
(Brasil, 2023, 107min) Direção: Marcus Baldini. Com Danilo Grangheia, Jorge Paz e Roberta Gualda. Em cartaz no BH Shopping, Big, Boulevard, Cidade, Contagem, Del Rey, Diamond Mall, Estação, Itaú, Minas, Monte Carmo, Norte, Partage, Pátio Savassi, Ponteio e Via Shopping. Horários disponíveis nos sites dos respectivos shoppings.