A funkeira Mileny (Clara Moneke) e o violinista Dante (Isacque Lopes) se apaixonam no Rio -  (crédito: Manoella Mello/Globo)

A funkeira Mileny (Clara Moneke) e o violinista Dante (Isacque Lopes) se apaixonam no Rio

crédito: Manoella Mello/Globo

Já é quase Natal, aquele período do ano em que filmes temáticos se multiplicam na TV aberta e no streaming. Uma novidade surgiu neste horizonte repleto de Jingle Bells e família brancas com crianças em pijamas de flanelas, ansiosas por abrir seus presentes.

 

Em “Ritmo de Natal”, versão brasileiríssima da Globo para a data, saem os estereótipos estrangeiros como montanhas geladas e cobertas de neve e músicas natalinas americanas; entram símbolos da nossa cultura como o funk carioca e a gastronomia do brasileiro comum, incluindo aí a prosaica macarronese. A produção está em cartaz na plataforma Globoplay, depois de ser exibida na TV Globo.

 

 

A protagonista de “Ritmo de Natal” é Clara Moneke, e isso já diz muita coisa. Ela interpreta a cantora de funk Mileny, e as famílias, tanto a sua quanto as que a cercam, são interpretadas pela nova geração de atores negros da televisão e do cinema brasileiro.

 

Clara diz que o tema da representatividade vem sendo cobrado exaustivamente da indústria televisiva e cinematográfica do país justamente porque ela demorou a acordar para a falta de atores negros como protagonistas.

 

“Mostrar essas narrativas sempre foi uma opção, mas eles sempre escolheram contar outras histórias”, afirma a atriz. E comemora seu lugar de destaque: “Eu não cresci me vendo. Então, quando a gente está em 2023 e a gente tem um leque de pretitudes, isso é muito rico. Até porque o Brasil é preto. A gente é diverso, a gente é plural, a gente é talentoso. Isso tudo precisa existir”.

 

Clara Moneke cita o sucesso de “Vai na fé” como exemplo de como sua personagem foi bem recebida e de como o público demanda a presença do elenco preto e diverso. “Acho que o público mostrou um descontentamento com a falta de pluralidade dentro das produções de audiovisual. Os filmes e as séries começaram a mudar antes da televisão, e ela perdeu audiência”.

 

 

Em “Ritmo de Natal”, a funkeira do momento se envolve com Dante (Isacque Lopes), violinista clássico. Os pais, Soraya (Vilma Melo) e MC Barbatana (Paulo Tiefenthaler), casal popular da velha guarda do funk carioca, batem de frente com Inês (Taís Araujo), pianista consagrada. O choque cultural e as diferenças de personalidade dos membros das famílias trazem uma série de conflitos.

 

Mileny vem de poderosa linhagem do funk carioca. Se o pai é MC Barbatana, a mãe é a Mulher Damasco. Ela vira funkeira profissional respeitada, com música gravada e fãs. Nada mais carioca, real, plausível. O funk dá o tom, ou melhor, o ritmo, de toda a história, e nomes populares deste cenário são lembrados ao longo do filme.


MC Marcinho

 

“Citamos MC Karol, Valesca Popozuda e Perla. É nossa forma também de homenagear e usar o funk como referência”, diz o roteirista Juan Jullian. MC Marcinho, morto em 23 agosto, ganha deferência e vira padrinho de Mileny.

 

As cenas mais quentes com Dante também deixaram Clara feliz. A atriz destaca que normalmente não faz papéis sensuais pela frequente sexualização do corpo da mulher negra, mas agora é diferente: “Como o meu corpo já é muito sexualizado, normalmente não assumo esse papel. Então, quando a arte me permite estar nesse lugar de uma forma confortável, em que me sinto bem, brinco de poder viver essa realidade que a gente normalmente não pode”, diz.

 

“Ritmo de Natal” é o primeiro projeto do recém-criado Núcleo de Filmes dos Estúdios Globo, que também lançará “Diário de Dona Lourdes”, com Regina Casé, no ano que vem.

 

“RITMO DE NATAL”


Brasil, 2023. Direção de Allan Fitterman. Com Clara Moneke, Taís Araujo, Isacque Lopes, Vilma Melo e Paulo Tiefenthaler. Disponível no Globoplay.