Com direção de Ione de Medeiros, seis atores se revezam nas cenas entre personagens masculinos e femininos -  (crédito: Netun Lima/divulgação)

Com direção de Ione de Medeiros, seis atores se revezam nas cenas entre personagens masculinos e femininos

crédito: Netun Lima/divulgação

Em 28 de dezembro de 1943, a peça “Vestido de noiva”, que projetou o nome de Nelson Rodrigues e revolucionou a forma de se fazer teatro no Brasil, ganhou sua primeira encenação, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Passados 80 anos, é precisamente nesta data que a versão do espetáculo criada pelo Grupo Oficcina Multimédia (GOM) retorna a BH, onde estreou em maio deste ano. 

A montagem fica em cartaz no CCBB-BH desta quinta-feira (28/12) até sábado (30/12), e depois do recesso de fim de ano cumpre temporada, no mesmo espaço, de 5 de janeiro a 5 de fevereiro. A volta à capital acontece depois de um giro pelas unidades do CCBB de São Paulo, Rio e Brasília, onde a peça foi apresentada 81 vezes, para um público total de aproximadamente 10 mil espectadores. 

 

A montagem de “Vestido de noiva” que reestreia logo mais envolve outras efemérides – além dos 80 anos de estreia do texto original, marca os 45 anos do Oficcina Multimédia e 40 anos de direção de Ione de Medeiros, que chega agora ao seu 24º espetáculo à frente da trupe. A peça dá continuidade a uma proposta de imersão na obra de Nelson Rodrigues, iniciada com “Boca de ouro”, que cumpriu temporadas entre 2018 e 2019.


LINGUAGENS CÊNICAS

 

No palco, seis atores – Camila Felix, Henrique Torres Mourão, Jonnatha Horta Fortes, Júnio de Carvalho, Priscila Natany e Victor Velloso – se revezam nas cenas entre personagens masculinos e femininos, sem distinção de gênero. A montagem preserva a dramaturgia original da obra de Nelson Rodrigues e incorpora soluções cênicas, características do trabalho do GOM. 

No espetáculo, um narrador em vídeo conduz a história e permite ao público ir conectando as peças, como num quebra-cabeça. Em “Vestido de noiva”, Nelson Rodrigues mescla realidade, memória e alucinação para contar a história de Alaíde, que, após ser atropelada por um carro em alta velocidade, é hospitalizada em estado de choque. Na mesa de cirurgia, oscilando entre a vida e a morte, ela tenta reconstruir sua própria história e, aos poucos, seu inconsciente emerge. 

Ione de Medeiros observa que a trajetória do GOM praticamente não registra dramaturgias com histórias lineares – em muitos casos, sequer há uma história. “A casa de Bernarda Alba”, de García Lorca, encenada em 2001, é uma exceção. Voltar-se para Nelson Rodrigues agora se relaciona, de acordo com a diretora, com o desejo de trabalhar enredos brasileiros. “Tanto em 'Boca de ouro' quanto em 'Vestido de noiva', a proposta é fazer uma leitura atual, a partir da nossa linguagem”, diz.


INSTÂNCIA DO SONHO

 

Ela pontua, no entanto, que na primeira, o público acompanhava em cena uma história mais convencional, com boa dose de humor, ao passo que agora, com “Vestido de noiva”, tem-se algo mais próximo do que o GOM está habituado a fazer. “É uma trama contada por meio do inconsciente, está mais na instância do sonho, com uma certa abstração, então você não fica sabendo de cara o que está acontecendo. É uma mistura de delírio com realidade que desnorteia um pouco as pessoas”, diz. 

Apesar da complexidade e de certa dificuldade que permeiam “Vestido de noiva” – tanto para atores e encenador quanto para o público –, Ione ressalta que Nelson Rodrigues é muito popular. “Nelson é rebuscado nas investigações, mas tem uma linguagem muito popular, o que torna tudo mais acessível.” 

“VESTIDO DE NOIVA”
Com o Grupo Oficcina Multimédia. Direção de Ione de Medeiros. Em cartaz a partir desta quinta-feira (28/12) até o próximo sábado (30/12), e entre 5 de janeiro e 5 de fevereiro, com sessões de sexta a segunda-feira, sempre às 20h, no Teatro 1 do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450). Ingressos: R$ 30 (inteira), à venda na bilheteria local ou pelo site ccbb.com.br/bh. Informações: (31) 3431 9400.