Há 120 anos, num dia 12 de dezembro, nascia Yasujiro Ozu, considerado um dos mais importantes cineastas japoneses. Ele morreu também num 12 de dezembro, 60 anos depois. O filme que é considerado sua obra-prima, "Era uma vez em Tóquio", completa sete décadas de lançamento neste ano.



A confluência de efemérides é um dos fatores que justifica a mostra "A rotina tem seu encanto: 120 anos de Ozu", que estreia nesta terça-feira (12/12) e segue até o próximo dia 29, no Cine Humberto Mauro. A retrospectiva contempla 29 filmes - 12 dos quais também disponíveis na plataforma cineHumbertoMauroMais - que cobrem mais de 30 anos de sua prolífica carreira.

"Era uma vez em Tóquio" e o primeiro longa do diretor, "Dias de juventude" (1929), compõem o panorama ao lado de títulos como "Filho único" (1936), "Pai e filha" (1949), "Ervas flutuantes" (1959) e "A rotina tem seu encanto" (1962), sua obra derradeira, que dá título à mostra.

A programação também contempla trabalhos de outros cineastas que estabeleceram algum tipo de diálogo com a obra do cineasta japonês, como o iraniano Abbas Kiarostami, o estadunidense Leo McCarey, o alemão Wim Wenders, a paraguaia Paz Encina e, em especial, o mineiro André Novais Oliveira, de quem serão exibidos "Ela volta na quinta" (2014), "Temporada" (2018) e o recém-lançado "O dia que te conheci".

Gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra, Vitor Miranda destaca que, além do representativo conjunto de longas realizados pelo diretor, a retrospectiva vai além, buscando ecos de seu trabalho. Da francesa Claire Denis ao brasileiro Ozualdo Candeias, do português Pedro Costa ao sul-coreano Hong Sang-soo, a influência de Ozu pode ser compreendida pela riqueza de seus desdobramentos.

Sobre a conexão que a obra de Oliveira estabelece com a de Ozu, Miranda diz que passa por um olhar sobre o cotidiano e as relações pessoais. "André Novais sempre foi um grande admirador e sempre falou dessa referência na obra dele. Muitos críticos já o chamaram de Ozu brasileiro ou Ozu mineiro. Vai ser interessante propor esse diálogo, porque acho que é uma coisa que nunca foi muito explorada", diz.

"Dias de outono" terá sessão às 19h30 de quinta, comentada pela professora Larissa Muniz

Divulgação

FORMA E CONTEÚDO

Ele aponta que são muitas as semelhanças - formais, na maneira como o mineiro filma, com muitos planos fixos, e de conteúdo, na medida em que trabalha com as relações familiares, o que Ozu também explorava muito. "Tem um pouco do ritmo e da marcação do Ozu nos filmes do André Novais, como a espera dos personagens", observa.

"O dia que te conheci", mais recente longa do mineiro, será exibido no dia 21, logo na sequência de "Flor do equinócio", de Ozu, e depois haverá uma palestra - "Reverberações de Yasujiro Ozu em André Novais Oliveira" - ministrada pela professora e pesquisadora Mariana Souto. Antes, no dia 17, "Temporada" terá sessão conjunta com "Filho único", seguida de comentários de Luiz Fernando Coutinho, pesquisador de cinema e editor da Revista “Madonna".

"É interessante pensar como um diretor japonês da primeira metade do século passado trata a imagem da mesma maneira que um cineasta contemporâneo, de Contagem", pontua Miranda. Ele diz que o próprio Oliveira participa de uma sessão comentada, juntamente com a psicanalista Ana Helena Souza, na próxima sexta (15/12), quando serão exibidos "Ela volta na quinta" e "Os irmãos e as irmãs Toda", de Ozu.

O curador chama a atenção para o fato de que a seleção dos títulos do cineasta japonês foi condicionada a uma certa limitação de oferta. "Pegamos o que tinha disponível no Brasil, com cópias restauradas que já foram exibidas em outras retrospectivas ao redor do mundo. É uma obra muito extensa, boa parte foi perdida, não é acessível. As escolhas foram bem por aí, considerando a importância dos filmes e a qualidade das cópias", afirma.

Com sessões incluídas nas faixas Cinema e Psicanálise e História Permanente do Cinema, a curadoria passa por diversas fases da carreira de Ozu, com filmes mudos, falados, em preto e branco e coloridos. A mostra cobre um vasto período histórico, com filmes feitos antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial, conflito que marcou profundamente o Japão e a obra do cineasta.

"Os primeiros filmes de Ozu têm certa inocência, com ecos de Charlie Chaplin e Buster Keaton. Já os trabalhos que ele produziu durante a Segunda Guerra abraçam questões sociais. Depois do fim do conflito é quando o cineasta encontra sua marca registrada, sua identidade, a partir de 'Pai e filha'. No pós-Guerra ele vai tratar dessas transformações que o Japão sofre, com suas dualidades, a tensão entre tradição e modernidade", ressalta o curador.

"A ROTINA TEM SEU ENCANTO: 120 ANOS DE OZU"
Mostra a partir desta terça-feira (12/12) até 29/12, com sessões em horários variáveis, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, 31.3236-7400). Entrada franca, com retirada de ingressos na bilheteria a partir de 1 hora antes das sessões. Programação completa no site da Fundação Clóvis Salgado.

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